O Brasil precisa de Angra 3

Por Leonam Guimarães

No Brasil e no mundo, o papel da energia nuclear vem sendo crescentemente reconhecido como de grande importância para a desejada descarbonização da economia com segurança energética. Inclusive, nosso Operador Nacional do Sistema ONS já se posicionou formalmente, em resposta à consulta do Ministério de Minas e Energia MME, reconhecendo que a UTN Angra 3 terá papel relevante no horizonte abarcado pelos estudos de planejamento da operação do Sistema Elétrico Brasileiro SEB.

Relevância do papel de Angra 3 vem sendo vividamente discutida pelos agentes do setor elétrico nacional, levando em conta que a maioria das hidrelétricas hoje são a fio de água e, portanto, são tão intermitentes como as solares e as eólicas. Parece ser um consenso no setor que térmicas a gás e nucleares são imprescindíveis para termos segurança energética. A quantidade crescente de energia intermitente vai levando a um aumento das dificuldades para o ONS operar o Sistema Interligado Nacional SIN não só do ponto de vista energético, mas também do elétrico.

Sob o enfoque do atendimento energético, a Usina Termonuclear UTN de Angra 3 apresenta as seguintes características:

Sob o ponto de vista elétrico, a UTN Angra 3 traz os seguintes principais benefícios relacionados ao desempenho elétrico da Rede Básica de suprimento à área Rio de Janeiro/Espírito Santo:

Os custos associados ao eventual abandono do projeto Angra 3 equivalem a cerca de pouco mais do que a metade dos investimentos necessário à sua conclusão. Esse custo seria totalmente improdutivo e arcado pela União, como sócia majoritária e demais sócios da Eletronuclear, sendo o principal a Eletrobras. Entretanto, em última instância, esse custo improdutivo seria arcado pelo consumidor e pelo contribuinte. Pelo outro lado, o investimento produtivo proporcionaria ao sistema elétrico brasileiro 60 anos de 1.405 Mw de energia limpa, sem emissões de carbono, disponível mais de 90% do tempo e despachável em quaisquer condições climáticas. Isso associado a um preço de venda de energia que implicaria a um mínimo aumento médio para consumidores, da ordem de menos de 1%.

Ilustração de Angra 3 quando pronta, com Angra 2 e 1 ao fundo

O preço de venda da energia de Angra 3, considerado alto em termos absolutos, deve-se ao fato de agregar custos associados às paralizações e atrasos decorrentes de processos longos de tomada de decisão. Cada mês adicional ao cronograma para o início da operação comercial da usina agrega algo da ordem de R$ 75-100 milhões ao custo total do empreendimento, a maior parte devido a despesas financeiras. Esse preço inclui, portanto, aquilo que poderia chamar-se de “custo de indecisão” ou “custo da ineficiência” que não se relacionam com a geração nucleoelétrica propriamente dita. Casos esses custos fossem expurgados do cálculo, o valor seria significativamente reduzido. Cabe ainda notar que durante a recente crise hídrica foi necessário pagar valores de MWh que chegaram a cerca de R$ 2.000. Pode-se dizer que se angra 3 estivesse operando na mais recente crise hídrica pela que passamos, o custo total do sistema, o que realmente arcado pelo consumidor, teria sido inferior. Depreende-se assim que, se considerarmos o longo prazo incluindo anos hídricos bons e ruins, o preço de venda da energia de Angra 3 certamente não seria tão elevado em termos relativos.

Apesar de Angra 3 ter sido planejada ao final dos anos 1970, ao longo do tempo, mudanças foram feitas na concepção original para incorporar modernizações tecnológicas, a experiência operacional do setor nuclear e as exigências das normas nacionais e internacionais, que foram revisadas no período. Isto permite que Angra 3 mantenha a segurança e o desempenho adequados aos padrões internacionais atuais.

Além desses argumentos técnicos, temos uma questão de extrema importância que corroboram para a continuidade das obras de ANGRA 3:

Carece, portanto, de sólido fundamento técnico ou econômico, a visão parcial dos que defendem a exclusão pura e simplesmente da fonte nuclear do planejamento energético nacional e das estratégias para a transição energética, em que poderosos interesses econômicos estão em jogo.

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