DAN visitou o March Field Air Museum na Califórnia – 1ª Parte

Por Luiz Padilha

Aproveitando as oportunidades quando aparecem, o Defesa Aérea & Naval visitou o March Field Air Museum, quando de sua passagem pela Califórnia. O museu deu início as suas atividades em 1979, quando a primeira exibição de artefatos foi aberta ao público na March Air Force Base. Nesse mesmo ano, a Fundação do Museu foi criada sem fins lucrativos, para fornecer um meio para canalizar o apoio privado ao museu, que na época era tido como um museu oficial da Força Aérea dos EUA.

Passe o mouse sobre as imagens para ler as legendas

Em 1993, o museu mudou-se para seu local atual ao lado da Interstate Highway 215. Em 1996, quando os EUA reestruturaram suas bases, March se tornou uma Base de Reserva Aérea, e assim, a responsabilidade pela propriedade, gestão e operação do museu foi entregue a March Field Air Museum. Nos anos seguintes, o museu adicionou edificações, coleções e funcionários, trabalhando arduamente para atrair um público diversificado de famílias, veteranos e entusiastas militares de aviação.



O museu exibe hoje uma das maiores coleções de aeronaves militares na costa oeste. Com 9 funcionários em tempo integral e cerca de 160 voluntários, o museu se esforça para ser um participante positivo em sua comunidade. O March Field Air Museum é credenciado pela Aliança Americana de Museus.

Logo na entrada pelo estacionamento, fica difícil conter a ansiedade para entrar e clicar cada uma das aeronaves, algumas que sonhei na minha juventude, um dia poder ver de perto. Demorou, mas o sonho foi realizado.

Esta visita foi realizada com a ajuda de um amigo que me recebeu em Los Angeles e com a indicação de outro, residente na Califórnia, com a seguinte observação: Vai que você vai poder ver e fotografar o Lockheed SR-71 Blackbird. Não preciso dizer que a adrenalina foi a mil, afinal, esta aeronave povoou o imaginário de muitos com seus Mach 3.3 (3.500Km/h).

O War Dog Memorial foi inaugurado em uma manhã fria e chuvosa de fevereiro, diante de uma multidão de 2.000 pessoas. A escultura foi criada por Tom Schomberg, para ilustrar o vínculo entre humanos e seus amigos caninos.

Na entrada como em outros museus nos EUA, duas belas senhoras me recebem e me passam as informações inerentes ao funcionamento do museu. Neste momento um funcionário chega e diz: Good morning young Ladies! O sorriso em seus rostos é imediato. O carinho e atenção que recebi tem relação direta com o excelente ambiente de trabalho que encontrei.

Uma das senhores me diz que morou há muitos anos atrás na cidade de São Caetano do Sul, mas que infelizmente, tinha esquecido todo o português que sabia. Bom saber que o Brasil de uma forma ou de outra flutua em todos os lugares do mundo, inclusive onde menos se espera.

Passando pela loja, sim, mais uma loja bem recheada de goodies, e me aproximo do Blackbird. Muito bem conservado e com uma escada onde é possível se aproximar de seu cockpit, que mostra bem a idade do projeto, 100% analógico. Fico imaginando aquele pássaro voando a 3.500 km/h, e a estrutura suportando todas as forças geradas por esta velocidade.

Lockheed SR-71A Blackbird

Após quase 5 décadas desde seu desenvolvimento, o SR-71 Blackbird continua sendo o avião mais rápido do mundo. Desenvolvido durante a “Guerra Fria”, a aeronave foi a solução encontrada para espionar a União Soviética, sem correr o risco de ser abatido, pois o SR-71 voava mais alto e mais rápido do que qualquer outra aeronave e nenhum míssil era capaz de alcança-lo.

Sua estrutura era composta por ligas de titânio e design específico para permitir a dissipação do calor que atingia temperaturas superiores a 1000º Fahrenheit. O design alargado das “lâminas”, as peças da bochecha que se estendem ao longo do nariz fluindo para as asas da aeronave, proporcionaram melhor controlabilidade, contribuindo para a baixa seção radar, que combinada com compostos especiais de pintura para absorção de radar, fizeram com que o SR-71 fosse um dos primeiros a usar a tecnologia stealth.

O SR-71 foi o avião de reconhecimento estratégico mais bem sucedido da história, reunindo informações para os Estados Unidos durante a Guerra Fria, no Vietnã e em conflitos e crises em todo o mundo até sua aposentadoria do serviço ativo em 1998. Trinta e dois SR-71 e suas variantes foram produzidas, sem que nenhum fosse perdido em ação. Devido a melhora dos mísseis superfície-ar, o aumento do uso da vigilância por satélite e o a chegada dos UAVs, marcaram o fim da vida operacional do SR-71 Blackbird.

O SR-71, 61-7975, do March Field Air Museum, foi entregue à Força Aérea dos Estados Unidos em 1967. Um veterano da Guerra do Vietnã, o 61-7975 realizou 82 voos durante o conflito e inúmeras outras missões em pontos quentes em todo o mundo. 61-7975 está sob empréstimo do Museu Nacional da USAF.

Apesar do ar condicionado dentro do prédio estar convidativo, outras aeronaves importantes estavam do lado de fora sob um sol do deserto e um calor estilo Rio 50ºC.

RF-4C Phanton II

O museu possui algumas aeronaves marcantes por sua história na aviação mundial, e algumas com características muito interessantes como RF-4C Phanton II que com mais de 5.000 horas de voo, foi colocado em exposição sem que nada fosse retirado dele, ou seja, está completo em exposição na área externa do museu.

Antes da sua chegada ao museu, este RF-4C foi usado como Bomb Damage Repair (BDR) enquanto esteve designado ao 163º TFG da California Air National Guard. Como dito acima, este Phanton está intacto, com os sensores óticos, aviônica, assentos de ejeção e motores. A aeronave foi retirada em agosto de 1996 e colocada em exibição no museu.

Drone Lockheed D-21 Strategic Reconnaissance

Criado durante o auge da Guerra Fria, o Drone Lockheed D-21 Strategic Reconnaissance é uma aeronave não tripulada de alta velocidade e de alta altitude que usa muitas inovações técnicas derivadas do SR-71 Blackbird. O D-21 era impulsionado pelo motor ramjet RJ43-MA20S-4, e com uma única câmera de alta resolução, era capaz de tirar fotografias detalhadas de altitudes superiores a 90 mil pés em território hostil e retornar sem pôr em perigo vidas humanas.

Durante o quarto e último vôo D-21B, um mau funcionamento fez com que o drone saísse do curso, desaparecendo na vastidão do deserto do Gobi da China comunista. Após este voo, o presidente Nixon cancelou o programa. Este exemplar é um D-21B e chegou ao museu em 2007.

Republic F-105D Thunderchief

O March Field Air Museum possui dois F-105’s. O modelo “D”, número de série 62-4383, serviu com a Força Aérea do Pacífico, no Comando Aéreo Tático e depois na Reserva da Força Aérea, antes de se retirado de serviço em janeiro de 1984.

Qual fotografar primeiro?

As opções são tantas neste museu que você fica sem saber qual a próxima aeronave irá clicar. Após uma parada para hidratar e baixar a temperatura do corpo com o ar condicionado dentro do prédio principal do museu, volto para mais uma etapa.

McDonnell-Douglas F-4E Phantom II

Este F-4E 68-0382 foi fabricado pela McDonnell-Douglas Aircraft, em St. Louis, MO e entrou em serviço na Força Aérea dos Estados Unidos em 9 de maio de 1969. Depois de voar pelo 86th Tactical Fighter Wing (USAFE), Ramstein AB Alemanha Sept 1982 e pelo 347th Tactical Fighter Wing (TAC), Moody AFB, GA, a aeronave passou em abril de 1987 para o 163th Tactical Fighter Group (Air National Guard), March AFB CA, sendo retirada de serviço em janeiro de 1990, devido a danos estruturais na nacele direita do motor com mais de 5.000 horas de vôo. A aeronave se encontra intacta, incluindo aviônica, assentos ejetores e motores e chegou ao museu em 1993.

Grumman YF-14A Tomcat

A aeronave no March Field Air Museum é um modelo A de pré-produção com número de série BUNO 157990, e está sob empréstimo da Marinha dos Estados Unidos. Foi a 11ª de 12 aeronaves de testes construídas.

Uma das muitas tarefas importantes que o 11 participou, foi a bordo do USS Independence durante os testes de adequação para o uso no porta aviões. Foi transferido da General Dynamics – Pomona, juntamente com o equipamento de suporte terrestre, que foi usado para montar os mísseis para avaliação nos testes. Foi rebocado pelo seu trem de pouso no meio da noite, ao longo da rodovia 60, de Pomona para March Field, em setembro de 1992.

McDonnell Douglas F-15 Eagle

O F-15 Eagle da Força Aérea dos Estados Unidos é um caça bimotor de alto desempenho projetado para aproveitar e manter a superioridade aérea, varrendo os céus de todas as forças opostas. O caça passou a operar na Força Aérea dos Estados Unidos em 14 de novembro de 1974. A extraordinária potência fornecida pelos dois motores turbofan de fluxo axial Pratt & Whitney F100, equipados com pós-combustores, deram ao elegante caça, a habilidade fenomenal de manter a aceleração em uma subida vertical onde o F-15 pode alcançar 50.000 pés em menos de 60 segundos e manter uma velocidade máxima de Mach 2.5.

O F-15 serial number 76-0008, chegou ao museu em 11 de Maio de 2006 vindo da Base Aérea de Sheppard onde operou como aeronave de treinamento.

Com o sol inclemente, mais uma pausa para reposição de líquidos e baixar a temperatura corporal, pois ainda havia muito para ser visto.

Boeing B-29A Superfortress

Com um alcance de quase 6.000 milhas e uma carga de bombas de 20.000 libras, o Boeing B-29 Superfortress foi o precursor da Segunda Guerra Mundial para os bombardeiros hemisféricos à jato. Considerado muito pesado em comparação aos B-17 e B-24, o B-29 foi concebido como bombardeiro estratégico.

Seus quatro motores radiais Wright Cyclone R-3350 eram potentes, mas problemáticos. O B-29 atingia uma velocidade máxima de 357 mph e uma altitude máxima de 31. 850 pés. Operados exclusivamente no Pacífico, os B-29 foram implantados inicialmente em aeródromos na China.

No início de agosto de 1945, a maioria das cidades japonesas estava em ruínas quando os B-29 do 509º Composite Group baseado nas ilhas Marianas deram um golpe final no Império japonês, deixando cair uma única bomba atômica em Hiroshima no dia 6 de agosto e outra três dias depois em Nagasaki.

Fabricada em 1945, a aeronave foi rapidamente enviada ao Pacífico para se juntar à 20th Air Force, 73rd Bomb Wing, 500th Bomb Group, 833rd Bomb Squadron em Saipan nas ilhas Marianas. Voando 11 missões de combate contra o Japão, o 44-61669 carregou o nome “Flagship 500” com a insígnia do 500th Bomb group. A última atribuição ativa do 44-61669 foi com o 581st Air Resupply Group Base Aérea de Kadena, Okinawa. Transferido para a Marinha dos EUA em 1956, a aeronave foi recuperada do Centro de Teste Naval em China Lake, Califórnia e foi transportada de Daggett Field, Barstow, para March em janeiro de 1981 pela MARC (Military Aircraft Restoration Corporation).

Boeing B-17G Flying Fortress

Este Boeing B-17G do museu s/n 44-6393 foi aceito no serviço ativo da USAAF em julho de 1944. O avião foi inicialmente designado para a 15th Air Force no Teatro de Operações do Mediterrâneo em agosto daquele ano. A informação de fonte primária documentada indica que 44-6393 foi adquirido como um transporte para o Comandante das Forças Aéreas Aliadas do Mediterrâneo, general Ira Eaker, como substituto do B-17E “Yardbird”, seu avião de comando anterior. No momento da transferência, muitos dos armamentos defensivos foram temporariamente removidos (incluindo as torres) e a aeronave recebeu o nome “Starduster”, um designador que manteve como transporte pessoal do General Eaker para o resto da guerra. Durante o seu serviço, “Starduster” voou com o general da Itália e do Norte da África para conferências e reuniões de planejamento na Inglaterra, na União Soviética e nos Estados Unidos.

Após a aposentadoria do general Eaker em 1947, o “Starduster” foi designado como um transporte VIP para várias bases dos EUA no Extremo Oriente e no Canadá, servindo até 1956, muito depois da maioria dos B-17 terem deixado de voar. O 44-6393 foi transferido para armazenamento no Arizona e caiu do inventário ativo da USAF. Em junho de 1956, foi transferido para o governo da Bolívia onde serviu por 25 anos adicionais como transporte de carga.

O “Starduster” foi adquirido pela USAF em janeiro de 1981 e foi enviado para os Estados Unidos para restauração e exibição no March AFB Museum. Voluntários do museu retornaram sua configuração de 1944 com a arte do nariz “Starduster” do General Eaker. Infelizmente, nesta oportunidade a aeronave se encontrava em restauro e não foi possível clicar a arte no nariz do 44-6393.

North American B-25J Mitchell

O B-25 Mitchell alcançou fama após a excepcional realização do “Tóquio Raiders”. Em abril de 1942, o LT. Col. James H. “Jimmy” Doolittle, mais tarde LT. General, liderou uma das missões mais ousadas da guerra com o B-25. Apenas cinco meses após o ataque surpresa em Pearl Harbor, o LT. Col. Doolittle liderou 16 bombardeiros “Mitchell” B-25 decolando do porta aviões USS Hornet. Os B-25 bombardearam Tóquio, Yokohama, Kobe e Nagoya.

O B-25 também serviu com distinção no norte da África, Itália, Europa e Pacífico Sul. O B-25J do museu, número de série 44-31032, foi entregue à Força Aérea do Exército em 1945 e armazenado até 1947. Foi atribuído a Vance AFB como TB-25J e TB-25N para treinamento de piloto até a aposentadoria em 1958 . A aeronave foi então vendida e registrada como N3174AG. Participou do lançamento da Paramount Pictures em 1970, no filme “Catch-22” e 44-31032 apareceu no filme com a arte do nariz “Free, Fast and Ready”. O museu recebeu a aeronave por caminhão em 1982. Foi restaurado em 1998, usando as cores do 442nd Bomb Group, 13th Air Force, e chamada de “Problem Child”.

Boeing KC-97L Stratofreighter

O KC-97, é uma aeronave de reabastecimento aéreo, sendo projetada a partir da versão de transporte do B-29. O transporte B-50 (ele próprio derivado do B-29) foi modificado para ter o dobro do volume interno, adicionando uma seção de fuselagem superior, fazendo com que a aeronave se assemelhe a um “8” invertido. Toda a cabine era pressurizada e podia transportar 130 tropas totalmente equipadas ou 80 macas. Um elevador de carga elétrico levantava e posicionava as cargas ao longo da fuselagem. Foram montados tanques de abastecimento de combustível e flying booms e o avião atuou como um reabastecedor aéreo.

Infelizmente, o KC-97 era muito lento para reabastecer os novos caças a jato, assim o KC-97 foi logo substituído por reabastecedores a jato, mas foi muito bem sucedido como um reabastecedor de primeira geração. A configuração da lança de reabastecimento funcionou bem o suficiente para ser usada na aeronave KC-135. O KC-97 do museu, número de série 53-363, foi fabricado como um modelo G na fábrica da Boeing Aircraft em Seattle, WA., sendo entregue à Força Aérea em 26 de setembro de 1956. Os voluntários do March Field Air Museum voaram a aeronave da Base da Força Aérea Davis-Monthan, Arizona, em julho de 1980. Este KC-97L ajudou a formar o núcleo da nossa coleção.

Continua em DAN visitou o March Field Air Museum na Califórnia – 2ª Parte



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