NAeL ‘Minas Gerais’ (A 11): “Berço da Aviação Naval”

Por Guilherme Wiltgen

O NAel Minas Gerais (A 11) nasceu como HMS Vengeance (R 71), tendo a sua quilha batida em 16 de novembro de 1942 no estaleiro Swan Hunter, em Wallsend-on-Tyne, Reino Unido. Sétimo navio a ostentar este nome na Royal Navy, foi o nono navio aeródromo da classe Colossus, construídos entre 1942 e 1943.

Após servir a Royal Navy (RN) e a Royal Australian Navy (RAN), durante a Segunda Guerra Mundial, deu baixa em 13 de agosto de 1955 e adquirido pelo Governo brasileiro em 13 de dezembro de 1956, sendo incorporado a Marinha do Brasil (MB) em 6 de dezembro do 1960.

NAeL Minas Gerais logo após a modernização na Holanda (Foto: Verolme)

Em 17 de julho de 1957 iniciou-se o processo de modernização nos estaleiros da Verolme United Shipyard, em Rotterdam, iniciando suas provas de mar em 26 de julho de 1960, no Mar do Norte. Na fase de provas aéreas, ocorreu o primeiro pouso de uma aeronave da MB a bordo do “Minas”, o Westland S-55 Whirlwind N-7008, pilotado por Aviadores Navais brasileiros.

O “Minas” sofreu extensa modernização que incluiu a instalação de novo armamento, instalação de uma nova catapulta a vapor, novo aparelho de parada, convés de voo em ângulo de 8,5°, defletor de jato, fabrica de oxigênio e hidrogênio, nova rede de gasolina e querosene de aviação, equipamento de orientação de pouso por espelhos óticos, nova ilha, novos radares, dois novos elevadores e a revitalização completa das suas maquinas e geradores.

Um caça Hawker Sea Hawk da Royal Navy realizando um pouso enganchado durante os testes no Mar do Norte. (Foto: MB via acervo de Guilherme Wiltgen)

Suspendeu de Rotterdam em 17 de janeiro de 1961, chegando ao Rio de Janeiro em 02 de fevereiro, quando a nova nau capitânia entrou pela primeira vez na Baía de Guanabara, sendo recepcionado por inúmeras embarcações, além de vários navios da Esquadra, que o escoltaram desde Cabo Frio em desfile naval.

O NAel Minas Gerais iniciou sua vida na MB praticamente como uma Base flutuante da Aviação Naval mas, se mostrou muito mais que isso, multiplicando e ampliando as capacidades de combate ofensivo e defensivo da Esquadra.

Dotado de uma tripulação de aproximadamente 1.400 homens (já inclusa as unidades aéreas) o navio se transformou no núcleo de uma Força-Tarefa (FT) ASW, fornecendo apoio aéreo aproximado antissubmarino e coordenando o controle das ações das unidades de superfície e aéreas que constituíam a FT.

NAeL Minas Gerais (A 11) realizando faina de TOM com o CT Pará (D 27). (Foto: MB via acervo de Guilherme Wiltgen)

Durante as décadas de 70 e 80, operou no estado-da-arte com helicópteros SH-3D Sea King, pertencentes ao 1º Esquadrão de Helicópteros Anti-Submarino (HS-1) e aeronaves P-16 Tracker, do 1º Grupo de Aviação Embarcada (GAE) da Força Aérea Brasileira, que, juntos aos navios adquiridos da US Navy e das modernas fragatas classe Niterói, detinham a hegemonia do Poder Naval na América Latina, com uma Esquadra pronta para atuar a qualquer momento.

O “Minas” no auge de sua operacionalidade, com dois UH-12 Esquilo, três SH-3D Sea King e seis P-16 Tracker. (Foto: MB via acervo de Guilherme Wiltgen)

Em 14 de agosto de 1996, o P-16 matrícula FAB7034 realizou o último pouso abordo de uma aeronave da FAB, encerrando 31 anos de operações embarcadas, com mais de 93 mil horas de voo, 14.072 enganches diurnos, 2.674 noturnos, 2.944 catapultagens e 1.382 dias de mar.

A partir de então, o “Minas” passou a operar somente com os helicópteros da Força Aeronaval, sendo subempregado como Porta-Helicópteros. Mas esta situação iria mudar mais rápido que muitos imaginavam, pois o sonho da reconquista da asa-fixa pela Marinha nunca foi esquecida e nada melhor que o momento para trazer à tona a necessidade.

NAel Minas Gerais (A 11) e a Fragata Defensora (F 41) ao largo do Rio de Janeiro, já operando somente com helicópteros. (Foto: MB via acervo de Guilherme Wiltgen)

Já em 1997, o Ministro da Marinha intensificou as ações para esta aquisição e o Alto Comando da Marinha decidiu por submeter o NAel a uma revisão completa de catapulta e do aparelho de parada, além de revisar outros, como os geradores de espuma, sistema de barricada e a substituição do espelho de pouso, colocando o “Minas” novamente em condições de operação com aeronaves de asa-fixa, faltando apenas a homologação dos sistemas de aviação, que foi realizada por uma equipe da US Navy.

Em 19 de dezembro de 1997, a Comissão Naval Brasileira na Europa (CNBE) assinou em Londres o contrato de aquisição de 24 aviões A-4 KU Skyhawk II, pertencentes à Força Aérea do Kuwait. Restava apenas regulamentar e legalizar o direito da MB em ter sua Aviação de asa-fixa e concretizar a compra. Com habilidade e muita experiência o Almirante Mauro César Rodrigues conseguiu que o então Presidente, Fernando Henrique Cardoso, assinasse o decreto 2538 de 8 de abril de 1998, que autorizava a Marinha a operar novamente aeronaves de asa-fixa embarcadas e orgânicas.

O que antes era sonho de várias gerações de oficiais se transformara em realidade e o Ministro da Marinha, Alte Mauro, entrava para a história da Aviação Naval brasileira como o responsável pela corajosa decisão de, definitivamente, dotar a nossa Marinha com aviões para ser empregados a bordo de porta-aviões.

Apesar de alguns questionamentos quanto as limitações do NAeL Minas Gerais em operar com os A-4, nada mais justo que o veterano da segunda guerra, que assistiu pela última vez em janeiro de 1965, cinco aviões T-28 pilotado por aviadores navais operarem a partir de seu convoo, de poder novamente operar com aviões pintados de cinza com as escritas MARINHA em suas fuselagens.

Em 13 de janeiro de 2001, as 15:52Hs, a 19 milhas de Cabo Frio, o piloto de testes da Kay, Dan Canninn, realizou o primeiro pouso completo enganchado com o AF-1 N-1006 (Falcão 06), pegando o cabo nº5, com vento 080° com 20 nós e mar em estado 4.

Finalmente, em 18 de janeiro, à 30 milhas de Cabo Frio, as 17:26Hs ocorreu o primeiro pouso realizado por um Aviador Naval brasileiro. O então CT Fernando Souza Vilela (ex-Comandante do VF-1) realizou o primeiro pouso, enganchando o cabo nº5 com o AF-1 N-1014, sendo seguido pelo CT Marcos Antonio Araújo (ex-Comandante do VF-1) com o N-1018, que as 18:29Hs enganchou o cabo nº1. As 18:54Hs o CT José Vicente Alvarenga Filho (Primeiro Aviador Naval brasileiro a solar no AF-1) enganchou o cabo nº2 com o N-1013,  encerrando este glorioso dia para a Aviação Naval.

O NAeL Minas Gerais cumpriu assim com a sua última missão, a de retomar as atividades aéreas com aviões na Marinha do Brasil, deixando o seu legado de pioneirismo, digno de um verdadeiro navio de guerra, que cruzou os mais variados oceanos, cabendo a ele o destino de se tornar brasileiro e de transmitir todo o conhecimento acumulado, juntamente com a sua tripulação, ao seu sucessor, o NAe São Paulo (A 12) que, a partir de 17 de fevereiro de 2001, se tornou o Capitânia da Esquadra.

Assim, em 09 de outubro em uma cerimônia realizada no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), o NAeL Minas Gerais (A 11), foi submetido a Mostra de Desarmamento, pelo Aviso de 21.09.2001, deixando o serviço ativo na MB.

Ao longo de seus 41 anos de serviço ativo, o saudoso “Minas”, ou “Mingão” (como era carinhosamente chamado na MB) atingiu as expressivas marcas de 1.975,5 dias de mar, 487.503,7 milhas navegadas, 17.022 pousos enganchados e 3.115 catapultagens, se tornando o “berço” de nossa Aviação Naval.

Seu primeiro Comandante foi o Capitão-de-Mar-e-Guerra Hélio Leôncio Martins e o último o Capitão-de-Mar-e-Guerra Júlio César de Araújo Passos.

Hoje, 06 de Dezembro de 2014, comemoramos os 54 anos de sua incorporação, homenageando todos os Marinheiros que tiveram o privilégio de embarcar neste navio histórico: NAel Minas Gerais, “A Melhor Maneira de Dizer Marinha”.

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