Operantar XXXVIII: DAN viaja para a Antártica

A nova Estação Antártica Comandante Ferraz




Por Luiz Padilha

Quase 8 anos após o fatídico incêndio ocorrido durante a madrugada do dia 25 de fevereiro de 2012,  causado por uma explosão na Praça das Máquinas, ceifando a vida do suboficial Carlos Alberto Vieira Figueredo e do primeiro-sargento Roberto Lopes dos Santos, finalmente a ciência brasileira ganha uma nova casa.

A Marinha do Brasil divulgou um edital para a reconstrução da estação, com um custo estimado de 110 milhões de dólares e aberto a empresas brasileiras ou estrangeiras. Em maio de 2015 a empresa chinesa CEIEC (Corporação Chinesa de Importações e Exportações Eletrônicas) foi declarada vencedora da licitação para construir a nova base brasileira no continente Antártico.

A viagem até a Estação Antártica Comandante Ferraz – EACF

O editor do Defesa Aérea & Naval (DAN), se preparou para o que alguns dizem ser uma viagem rotineira, mas para quem debutava no continente Antártico, atravessar o Estreito de Drake seria uma experiência única, a qual tentaremos trazer para nossos leitores através de nossos registros.

Do Rio de Janeiro até Santiago e depois para a cidade de Punta Arenas, uma viagem normal e dentro dos horários. Na chegada a Punta Arenas uma surpresa. Os taxis não aceitam cartão de crédito, me levando a optar pelo Uber, que prontamente me levou até o Muelle Prat (porto) onde se encontrava o Navio Polar Almirante Maximiano (H-41, também carinhosamente chamado de “Tio Max”. 

Com a chegada da imprensa televisiva e escrita a bordo, o comandante do navio, Capitão de Mar e Guerra João Candido Marques Dias nos recebeu, dando-nos as boas vindas e com o navio pronto, suspendemos no fim da tarde do dia 06/01/2020 com destino a EACF.

A fase inicial da viagem foi tranquila, apesar da baixa temperatura e do vento que fazia a sensação térmica descer bastante. Conversamos com o CMG Candido Marques sobre a viagem e a importância da presença brasileira no continente Antártico. Confira assistindo o vídeo abaixo:

A navegação pelos canais chilenos foi muito tranquila, mas o medo imperava entre os que iriam enfrentar pela primeira vez a passagem pelo Estreito de Drake. A fama de mar violento é antiga e tomar a medicação para não passar mal, é a melhor opção.  O estreito se localiza entre a extremidade sul da América do Sul e a Antártida, e possui as piores condições meteorológicas do mundo. O estreito curiosamente leva o nome do explorador britânico Francis Drake, que jamais passou por essa rota.

Diariamente as previsões meteorológicas eram passadas pelo navio, e a previsão de ondas entre 6 e 7 metros, com ventos que oscilavam entre 35 e 58 nós, indicavam que a travessia seria bem difícil. A imagem das montanhas congeladas e as placas de gelo flutuando em torno do navio, anunciava que estávamos próximos do final da travessia pelo canais chilenos. Apesar do frio o CF Marcelo de Abreu Souza, imediato do “Tio Max”, nos concedeu uma rápida entrevista na asa do passadiço. Confira no vídeo abaixo:

Como a previsão não se alterava, antes de chegarmos próximos ao Cabo Horn, o comandante Candido Marques decidiu fundear em frente a cidade de Puerto Willians, uma cidade e porto chileno situada a somente 1.090 km a norte da Antártida e a uns 100 km da cidade de Ushuaia, da Argentina, para aguardar a melhora das condições climáticas, que segundo a previsão, em 24 horas o tempo iria melhorar.

Durante essa parada, o vento mudava de velocidade e de direção a todo instante mostrando para todos como o clima naquela região é hostil.

Quase 30 horas se passaram e finalmente a janela para prosseguirmos se abriu, com uma previsão de ondas entre 2,5 e 4 metros. Assim, o comandante Candido Marques deu a ordem para prosseguirmos em direção a Antártida. O Drake nos aguardava, mas devido as previsões meteorológicas, já não era tão temido a bordo.

Antes porém, era hora dos dois práticos da Marinha chilena deixarem o nosso navio. Um navio de patrulha se aproxima do “Tio Max”. Com os dois práticos embarcados no patrulha chileno, agora é hora de seguir rumo a nossa base Antártica. Serão aproximadamente 900 quilômetros até a EACF e a ansiedade é maior a cada dia.

Com uma navegação não tão intensa como esperávamos (apenas 2 pessoas não se sentiram bem), o navio avança sem nenhuma intercorrência. Ao passarmos pelo Paralelo 60, o som no fonoclama avisa a todos que já nos encontramos na Antártida. Ao amanhecer consigo avistar um iceberg ao longe e tento fazer o registro, apesar da qualidade da imagem não ficar boa.

Já é possível ver com maior frequência, aves como o Petrel Antártico, Gaivotas e cardumes de Pinguins que a todo instante aparecem próximos ao nosso navio. Confesso que esperava ver as baleias, mas não foi dessa vez que as vi durante a nevegação.

Finalmente avistamos o continente Antártico com toda a sua exuberância. Agora sim, podemos imaginar o que aventureiros como Roald Amundsen e Ernest Shackleton sentiram ao chegarem lá. Uma sensação emocionante ao ver como nosso planeta é fantástico.

Passamos entre as ilhas de Nelson e a ilha Rei George, a qual contornamos passando próximos as bases Great Wall (China), Presidente Eduardo Frei Montalva (Chile), Bellingshausen (Rússia), King Sejong (Coréia do Sul) e Jubany (Argentina), e seguimos em direção a Baía do Almirantado, onde está localizada a base Antártica brasileira, EACF.

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