Entrevista com o comandante do 1º/16° GAv Adelphi, Ten.Cel. Av. Raul Carlos Camara Borges

Ten-Cel-Camara-Adelphi
Comandante do Esquadrão Adelphi – 1º/16º GAv, Ten Cel Av Camara

1 – Coronel,  qual a missão primária do seu esquadrão sob o comando da 3ª FAE?

A nossa missão primária é de ataque ao solo realizando ataque tático e estratégico.

2- O esquadrão Adelphi possui um histórico de excelente desempenho no cumprimento de suas atribuições. Um deles, a participação na Red Flag em 1998. A experiência desta participação, absorvida pelo esquadrão, é utilizada atualmente?

Essa é uma questão doutrinária. Foi a partir dessa experiência que a FAB trouxe a doutrina de emprego de missões aéreas compostas. O esquadrão Adelphi foi o pioneiro, montado aqui com os pilotos que tinham participado da Red Flag, o primeiro curso de Líder de Missão Aérea Composta, onde eles ministraram o curso ajudando a difundir essa doutrina que é utilizada no mundo todo.

3- O Esquadrão também foi o pioneiro com a chegada da Ten.Av. Carla Alexandre Borges, 1ª piloto de caça da FAB. Ser pioneiro é uma tradição para o Esquadrão?

Acho que é uma coincidência. No caso da Ten. Carla o processo de movimentação de oficiais não foi direcionado especificamente para o Adelphi, foi apenas uma coincidência. Chegou a oportunidade dela seguir para um esquadrão de 1ª linha, e ela, após cumprir todos os passos, voando como Ala no 2º/5º, seguindo para o 1º/3º em Boavista, onde fez o curso de líder de esquadrilha, permanecendo um tempo, ganhando experiência para seguir para um esquadrão de 1ª linha, lá ela colocou o nome no plano de movimentação e acabou vindo para o Adelphi, chegando aqui em 2011 e seguiu agora em 2014 para o GTE em Brasília. Até o mês passado o esquadrão estava com duas pilotos, a Ten Av. Carla e a Ten. Av. Daniele Lins.

4- Apesar de todas as qualidades, era a hora de se modernizar o A-1. O esquadrão participou de alguma forma, no programa do A-1M antes de seu recebimento?

Essa participação foi feita com pilotos que já tinham saído do esquadrão. O Esquadrão não se envolveu diretamente no programa.

5- Com a chegada do “Mike”, o que mudou no Esquadrão?

Basicamente a melhora no cumprimento da missão por conta inicialmente no aumento da qualidade das informações que o avião passou a proporcionar ao piloto e também a segurança que o A-1M proporciona ao piloto pelo desenvolvimento do sistema de auto-defesa.

Os pilotos fizeram o ITA – Instrução Técnica da Aeronave para o A-1M, e a metade do efetivo(mecânicos/graduados), fizeram cursos de atualização no A-1M na Embraer, e no retorno ao esquadrão, eles irão difundir esse conhecimento com o restante do efetivo. No ano que vem, receberemos o novo simulador do A-1M.

6- Com os novos sensores, o A-1M poderá realizar novos tipos de missão?

O A-1M recebeu a modernização em seus computadores, sendo que os dois principais aumentaram muito a velocidade de informações para os novos sensores que foram incorporados a aeronave, aumentando a segurança do piloto.

Houve uma melhoria na qualidade no cumprimento da missão. Com o A-1 o emprego do armamento é sempre visual (CCIP), já com o A-1M podemos empregar o armamento a qualquer tempo sem a necessidade de visualizar o alvo(CCRP). O emprego numa missão ar-mar, depende apenas de que tipo de armamento que o A-1M teria disponível.

O MAWS (Míssil Approach Warning System), por exemplo é um equipamento moderno com tecnologia de ponta que colabora com a segurança do piloto no cumprimento da missão. No caso de uma aeronave disparar um míssil ou um inimigo no solo lançar um míssil de ombro guiado por calor, esse sistema detecta e avisa ao piloto, fazendo a interface com os sistemas integrados de auto defesa do avião, por exemplo o Chaff e Flare fazendo o lançamento automático para despistar o míssil, se contrapondo a ameaça.

Na parte traseira da aeronave além das 2 antenas do MAWS, houve um reposicionamento dos cartuchos de Chaff e Flare.

O RWR também foi atualizado e integrado ao novo sistema, podendo atuar de forma automática não necessitando da interpretação do piloto para lançar, colaborando para a segurança do piloto.

7- Os motores continuam os mesmos? Se sim, onde são feitas as revisões?

Sim. É um turbofan Rolls Royce Spey 807 e as inspeções básicas do motor são realizadas na unidade aérea, e as mais extensas, que chamamos de inspeção nível empresa, o motor é enviado para a Avio do Brasil.

8- Quais armamentos o A-1M irá utilizar?

Bombas BAFG, BAFG guiadas com o kit laser e a possibilidade de integrar míssil ar-ar A-Darter, para aumentar a capacidade de auto-defesa da aeronave, além dos dois canhões de 30mm DEFA com 300 cartuchos, num total de 4 toneladas de armamento sem perda de desempenho.

9- A aeronave conta agora com um cockpit muito semelhante ao do F-5M. Quais as diferenças, se é que existem?

A idéia é que os cockpits fossem bem semelhantes, mas por questões de engenharia, ocorreram alguns ajustes. A necessidade desta semelhança se resume a duas razões básicas:

– Similaridade entre os painéis do F-5M e do A-29. Se você observar, irá perceber que são bem semelhantes e o objetivo é que haja facilidade para que pilotos oriundos do A-29 (formação básica), possam se adaptar na transição para aeronaves de alta performance, tanto o F-5M quanto o A-1M. Então esse é um grande ganho que nós temos.

– Custo. Quanto mais equipamentos semelhantes existirem, com o mesmo part number por exemplo, os custos serão reduzidos, e esse custo de manutenção e suprimento tem que se colocado nos cálculos quando o país adquire um sistema de segurança, seja ele qual for.

10- O piloto quando sai do A-29 ele vem direto para o esquadrão voar o A-1M?

Os pilotos que optaram pela caça, vão obrigatoriamente para Natal voar no A-29, num curso que dura 1 ano e ao término, ele sai como ala operacional da aviação de caça. A partir dai ele vai para um dos 3 esquadrões de A-29 que o Brasil tem com o curso de Líder de esquadrilha de caça, que são o 1º/3º GAv Escorpião, sediado em Boavista, o 2º/3º GAv Grifo, sediado em Porto Velho e o 3º/3º GAV Flecha, sediado em Campo Grande. Nesses esquadrões eles fazem a formação de Líder de esquadrilha, um curso padronizado que leva 2 anos e ao final, ele sai como Líder, podendo fazer missões da aviação de caça liderando até 4 aeronaves. Após essa qualificação operacional ele permanece nessas unidades ganhando experiência, geralmente mais 2 anos, onde terá a oportunidade trabalhar como instrutor da aeronave e depois é transferido para alguma unidade aérea de 1ª linha, que são as unidades que voam o F-5M e A-1M e futuramente o Gripen.

Nessas unidades eles fazem a  adaptação a aeronave e continuam a sua progressão operacional. Então, aqueles que optarem pela unidade com a missão de emprego de armamento ar-solo, vão se especializar na parte de Líder de Missões Aéreas Compostas, que são acima das de Líder de Esquadrão e de Esquadrilha, sendo capaz de coordenar uma missão com um numero elevado de aeronaves, algo em torno de 40/50 aeronaves (reabastecedores, helicópteros, caças e transporte), com o objetivo de obter superioridade aérea.

Aqui no esquadrão, quando o piloto chega, ele vai receber toda a instrução básica pré-solo para se familiarizar com a aeronave. Depois o piloto faz o curso de Instrução Técnica da Aeronave-ITA, e vai para o simulador. O próximo passo é iniciar a instrução no A-1B com o instrutor a bordo, onde ele irá conhecer as características da aeronave como pousar/decolar e fazer as manobras básicas no avião. São realizadas em torno de 8 missões até que ele possa voar solo. Para voar o A-1M, ele precisará fazer outro ITA, agora específico da nova aeronave.

11- Conhecer o cockipt do A-29 é um facilitador para o piloto que vai voar o A-1M?

Sem dúvida, inclusive este era o objetivo e ele foi alcançado. Como disse antes, apesar de algumas diferenças entre os modelos, ter operado no A-29 antes ajuda e muito ao piloto quando vai voar o A-1M.

NOTA DO EDITOR: Nossos agradecimentos ao CECOMSAER, ao Tenente Coronel Aviador Camara, ao Tenente Almiro e a todo o staff do esquadrão Adelphi, pela acolhida e pela oportunidade de poder trazer aos nossos leitores, o atual estágio da modernização deste importante vetor para a Força Aérea Brasileira. 

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