Helibras planeja voar mais longe

Por Nicola Pamplona

Fábrica da Helibras na cidade mineira é o ponto de partida para a criação deum polo para a produção de helicópteros. Empresa quer criar primeiro modelo nacional

O hangar lotado de helicópteros nos mais variados estágios de fabricação está tinindo de novo. Do enorme portão vê-se, à direita, a linha de montagem do modelo Esquilo, produzido no Brasil há 35 anos. À esquerda, os gigantes Super Puma, ou E725, que motivaram o investimento de R$ 420 milhões na expansão da fábrica. Coma entrega da primeira aeronave montada no Brasil às forças armadas, ainda este ano, a fabricante Helibras volta suas atenções para um novo e ambicioso projeto: desenvolver o primeiro helicóptero com projeto nacional.

O esforço é fruto de uma parceria entre a empresa, controlada pela francesa Airbus, governos federal e estadual e a Universidade Federal de Itajubá (Unifei) com o objetivo de transformar a pequena cidade em um centro de referência internacional no setor. A inspiração é o modelo que levou São José dos Campos (SP), a cerca de 150 quilômetros de distância, a despontar como o terceiro maior fabricante de aviões do mundo: demanda do governo para justificar investimentos e incentivo à pesquisa e inovação. “Temos uma vantagem com relação ao que ocorreu em São José dos Campos, porque naquela época não tinha nada lá.

Aqui, já temos uma empresa montando helicópteros”, diz o coordenador do projeto do Centro Nacional de Tecnologia em Helicópteros (CNTH), Ariosto Jorge. Com R$ 24,5 milhões já reservados por diversas fontes—União, governo estadual, prefeitura e a própria Unifei — o projeto prevê a construção de quatro laboratórios e uma escola técnica, além da atração de empresas. “Vamos trabalhar em parceria com a Helibras, mas queremos ir além. Queremos parceria com outras empresas para desenvolver novos fabricantes nacionais”, continua Jorge.

O objetivo é incentivar a fabricação de peças e equipamentos no Brasil — os helicópteros montados pela Helibras são feitos, em grande parte, com peças importadas. Uma das primeiras empresas a se instalar no CNTH deve ser a Akaer, de São José dos Campos, que já presta serviços de engenharia para a Helibras e pretende abrir uma base na cidade para se aproximar do cliente. O presidente da Helibras, Eduardo Marson, diz que a empresa decidiu apostar em um projeto brasileiro para aproveitar o conhecimento acumulado nas últimas décadas e aliviar a pressão sobre os centros de desenvolvimento na Europa. “Eles estão envolvidos com uma serie de outros projetos e aqui no Brasil já temos um histórico de produção de aeronaves, uma cultura aeronáutica forte e disponibilidade de mão de obra qualificada”, explica.

Ele espera concluir no primeiro trimestre do ano que vem uma avaliação sobre o modelo, o uso e o porte da aeronave que será projetada. Depois, são necessários mais 10 anos para a fabricação da primeira unidade. Jorge, da Unifei, acredita que será possível ter um helicóptero de fabricação nacional por volta de 2020. Ele fala, porém, em modelos menos sofisticados do que os produzidos pela Helibras. A criação de um polo aeronáutico em Itajubá é fomentada pelos acordos de transferência de tecnologia assinados entre o governo e a Helibras na ocasião da compra dos 50 Super Pumas.

O CNTH foi pensado como um órgão que vai concentrar a tecnologia transferida, para poder dividir o conhecimento com outras empresas e como meio acadêmico. O Brasil é hoje o quarto maior mercado mundial de helicópteros, com boas perspectivas de crescimento, por conta da exploração de petróleo em alto-mar. Além do desenvolvimento tecnológico, a formação de mão de obra é uma necessidade apontada pelos envolvidos. Para contratar 600 pessoas, a Helibras se valeu da crise da aviação civil, que provocou demissões na Embraer, e foi buscar engenheiros em outros setores, como o automotivo.

“Tanto engenheiro como projetista são grandes gargalos”, concorda o diretor de marketing da Akaer, Kenzo Takatori. A Unifei inaugurou há três anos o curso de engenharia mecânica aeronáutica e agora trabalha como governo do estado pela implementação da escola técnica especializada em Itajubá. “É uma mão de obra muito especializada, que leva-se anos para formar”, comenta.

Cidade vai sediar parque tecnológico e aeroporto

Para desespero dos vizinhos, o barulho provocado pelo sobe e desce de helicópteros no Distrito Industrial de Itajubá, no Sul de Minas, só tende a aumentar. E, em breve, com a inauguração do aeroporto, ao lado da Helibras, vai ganhar a companhia do zunido de aviões. Com inauguração prevista para 2015, o novo aeroporto traz a expectativa de novos negócios para a cidade de pouco menos de 100 mil habitantes, que, além de helicópteros, produz autopeças e equipamentos para transmissão de energia elétrica. “Às vezes temos dificuldades para trazer clientes ou, principalmente, representantes do governo, por causa do acesso à cidade”, conta o presidente da Helibras, Eduardo Marson.

O aeroporto mais próximo está em Pouso Alegre, a 60 quilômetros de distância. A construção do aeroporto faz parte do convênio entre governos federal, estadual e a empresa, assinado por ocasião da compra de 50 aeronaves de uso militar pelas forças armadas. Os moradores da cidade não acreditam que o local venha a receber voos comerciais, mas os 1,4 mil metros de pista permitem pousos e decolagens de aviões com capacidade para até 48 passageiros.

Em julho, quando anunciou o investimento, de R$ 80 milhões, o secretário de Transportes e Obras Públicas de Minas Gerais, Carlos Melles, informou que o aeroporto terá um terminal de passageiros. “O aeroporto regional será construído em Itajubá pelo nível da economia local e do desenvolvimento da ciência e tecnologia”, afirmou, na ocasião, o secretário. Além da Helibras, a cidade sedia uma fábrica de autopeças da Mahle e uma de equipamentos para redes elétricas e alta tensão da Alstom, dentre outras unidades de menor porte.

Com economia patinando, empresa não planeja fazer nova ampliação

Hoje, 17 Super Pumas estão em processo de montagem na fábrica da Helibras em Itajubá. Fazem parte de um contrato de 50 aeronaves compradas pelas forças armadas por R$ 250 milhões, com o compromisso de atingir, ao final da série, índice de nacionalização em torno de 50%. As primeiras sete, montadas na França, já foram entregues. Segundo o contrato, a 50ª deve iniciar as operações em 2017. Para atender à encomenda, a empresa contratou 600 novos funcionários, triplicando a força de trabalho.

O setor de engenharia decuplicou, diante de necessidade de projetar a integração de sistemas próprios de aeronaves militares, como armamentos e sistemas de missão. No novo hangar, as salas e laboratórios são voltados para a linha de montagem, para garantir acompanhamento em tempo real dos projetos. O Brasil é o quarto maior mercado de helicópteros no mundo, com expectativa de crescimento por causa da exploração de petróleo em alto mar.

De olho nesse mercado, a Helibras lança no ano que vem a versão civil do Super Puma, conhecida como E225, montada no Brasil. É o segmento em que a empresa tem menor participação no mercado brasileiro, de 33%. Como aumento do índice de nacionalização, a empresa espera qualificar o modelo no Finame do BNDES, que garante juros mais baixos para o comprador. O presidente da Helibras, Eduardo Marson, diz que a empresa teve queda nas vendas por causa da retração da economia.

Ele espera fechar o ano com 30 encomendas do mercado civil. Em 2010, quando bateu o recorde de vendas, a empresa teve 43 pedidos. Ainda assim, a espera por um novo helicóptero pode durar mais de um ano, embora o tempo de produção de um Esquilo, modelo mais usado no mercado executivo e pelos governos, seja de quatro meses. “Não vale à pena ampliar a linha de montagem, porque não sabemos como estará a economia nos próximos anos”, argumenta Marson. A Helibras não tem nenhum helicóptero para uso próprio, preferindo alugar aeronaves quando precisa demonstrar o produto aos clientes. “Não faz sentido eu ter um, enquanto meu cliente espera um ano para receber o seu”, pondera o executivo.

FONTE: Brasil Econômico

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