P3 – A Retomada das Operações A/S por Aeronaves de Asa Fixa

Por: Capitão-Tentente Gustavo Gonçalves Palma e Capitão-Tentente Carlos Eduardo Fiorino Carneiro
 

Introdução

 
Atendendo aos objetivos da Defesa Nacional e em consonância com as diretrizes para sua consecução, o Brasil retoma o emprego das aeronaves de asa fixa nas operações A/S. Este fato é consequência do projeto da Aeronave de Patrulha Antissubmarino P-3BR, adquirida pela FAB, com participação da MB no processo de desenvolvimento e avaliação operacional. A utilização deste novo vetor trará grande avanço técnico-operacional, e proporcionará a renovação das concepções de emprego que foram perdidas, após a desativação das aeronaves P-16 em 1995.
 

Histórico

 
O P-3 Orion surgiu no final da década de 50, quando a US Navy procurava uma aeronave para substituir os P-2 Neptune e P-5 Marlin nas operações de PATNAV e guerra A/S.

Os EUA procuravam uma aeronave com maior autonomia, que pudesse entrar em operação em um curto espaço de tempo, e a um baixo custo unitário. O emprego de um modelo de avião já existente seria mais vantajoso, devido a uma incorporação mais rápida, por um custo relativamente menor. Como consequência desta linha de raciocínio, a empresa escolhida foi a Lockheed, com a proposta do P-3A Orion, uma versão militarizada do L-188 Electra.

Ao término das operações com os P-16 da FAB, a partir do ex-NAeL Minas Gerais, o conhecimento sobre o emprego do MAD e de sono boias desatualizou-se, em função da impossibilidade das operações desse tipo, e da evolução tecnológica das boias e aeronaves utilizadas.

Em 1996, a FAB cancelou o projeto de modernização das aeronaves P-16, desativando-as, ficando sem um vetor A/S, com sua capacidade de esclarecimento marítimo reduzida à operação dos P-95 (Bandeirante-Patrulha – “Bandeirulha”).

O então Ministério da Aeronáutica implantou no mesmo ano o “Plano Fênix”, um amplo programa que tinha por objetivo a modernização das suas aeronaves, substituição dos vetores mais obsoletos e aumento da operacionalidade da força. Propostas como a de uma nova aeronave de patrulha, esclarecimento marítimo e A/S passaram a ser prioridade.

Face às especificações estipuladas pelo EMAER, foi realizado um levantamento das disponibilidades de aeronaves, no mercado mundial, que atendiam as necessidades estabelecidas. Como a EMBRAER não possuía nenhuma aeronave dentro das especificações, a FAB optou por adquirir doze aviões P-3A Orion, e modernizar nove delas. As unidades norte-americanas escolhidas encontravam-se fora de opera-ção e estocadas na AMARC, em Tucson, Arizona (EUA), uma região de clima seco propício a preservação dos meios.

Para a modernização destas unidades, foi fechado um acordo com o grupo europeu EADS/CASA (unidade espanhola da Airbus Military), o mesmo que forneceu o C-295(C-105-Amazonas), substitutos do velho e guerreiro Buffalo, e que também modernizou os P-3B da Espanha.
 

Atualmente

 
O P-3 é operado por dezesseis países. Dentre os princi-pais, podemos citar: EUA, Alemanha, Espanha, Portugal, Canadá, Austrália, Japão, Argentina e Chile.

No dia 29 de abril de 2009, foi realizado o vôo inaugural da aeronave P-3A brasileira, nas instalações da Airbus Military em Getafe (Madrid, Espanha), passando a se chamar P3-AM. O recebimento pela FAB está previsto para este ano.

Para esta versão, está prevista uma grande gama de equipamentos, tais como radar de superfície, MAGE, MAD, ISR, FLIR, mísseis Harpoon, Torpedos MK-46 Mod 5 e sonobóias.

Uma das modificações mais importantes trazidas do P3-AM é a instalação de um novo Sistema de Missão, que inclui o FITS, totalmente desenvolvido pela Airbus Military, e que já está instalado no primeiro avião. O FITS integra os sensores, fornecendo todas as funções de apresentação e acompanhamento, gerando uma imagem unificada da situação tática, integrando e correlacionando em tempo real os dados fornecidos por todos os sensores (inclusive sonobóias). Desta forma, facilita a avaliação da situação tática por parte dos operadores e, consequentemente, a tomada de decisões. O FITS também está integrado com o novo sistema aniônico do P-3AM e com o sistema de armamento, aumentando, assim, o desempenho operacional. O sistema é baseado no conceito OSA, que fornece capacidade de crescimento a fim de incorporar novos sensores e funcionalidades. Da mesma forma, é caracterizado pelo uso de software comercial, o que gera vantagens consideráveis no custo do equipamento, bem como em sua confiabilidade. O software de aplicação é, por sua vez, do tipo modular, o que facilita a sua modificação e reutilização. Os dados gerados pelo FITS, incluindo imagens captadas pelos sensores, podem ser transmitidos, em tempo real, a partir da aeronave para o Centro de Apoio a Missão em terra, ou a outras aeronaves P-3AM, através de uma transmissão de dados usando um sistema de HF, ou link de rádio SATCOM Inmarsat, que também faz parte do novo sistema.

Especificamente, uma modernização completa dos instrumentos do cockpit foi realizada, incluindo quatro LCD para a visualização de detalhes de voo e navegação, nova instrumentação digital dos parâmetros do motor e uma tela de toque associada com o sistema de missão FITS, bem como um indicador RWR. Um novo equipamento de navegação e FMS foram introduzidos, bem como equipamentos de comunicações através de V/UHF, HF e SATCOM rádio Inmarsat, um novo sistema de interfonia digital especialmente adaptado para as necessidades operacionais da aeronave, e um piloto automático digital.

Para a MB, a aeronave P-3AM é de grande interesse, não só face às possibilidades de emprego na guerra A/S, mas, também, nas Operações de Esclarecimento, Guerra Eletrônica, SAR, e, principalmente, na tarefa básica do Poder Naval de Controle de Área Marítima.

A comparação entre o P-95 e o P-3 é inevitável, mas devemos ter em mente que o segundo teve sua gênese voltada para a sua atividade fim, enquanto que o P-95 foi “improvisado” para a missão atribuída. O P-3BR é muito superior para a PATNAV e infinitamente mais versátil.

De acordo com as informações da FAB, a tripulação da aeronave é composta, normalmente, por 11 tripulantes, de acordo com a seguinte distribuição:

1) Piloto e Co-piloto;

2) Mecânico de Voo;

3) Coordenador Tático;

4) Navegador/Comunicação;

5) Operadores Acústicos 1 e 2;

6) Operador Radar/EO;

7) Operador ESM/MAD;

8) Operador de Armamento; e

9) Técnico em Eletrônica.

Durante o voo a bordo de P-3C Orion da USN, no qual estava o Capitão-de-Corveta João Cândido Marques Dias, da MB, por ocasião da comissão UNITAS-XLIX/08, foi observado que a tripulação, apesar de também ser constituída por 11 militares, apresentou-se com uma distribuição de funções diferente: havia um piloto e um mecânico de voo reservas, que se revezavam na função com os respectivos titulares. O Operador de Armamento acumulou a função de Técnico em Eletrônica, e o Operador Radar/EO com a de Operador ESM/MAD.
 

Futuro

 
A aeronave multi missão marítima, P-8, é a próxima geração de aeronave de vigilância marítima. O P-8 está sendo desenvolvido por uma equipe liderada pela Boeing, que consiste da CFM International, Northrop Grumman, Raytheon, GE Aviation and Spirit AeroSystems. O Poseidon está sendo desenvolvido para a USN, que pretende comprar 117 unidades, com início de operações para 2013. A Marinha Indiana é o primeiro cliente externo para o Poseidon, mas outros países, como a Itália e o Canadá, já demonstraram interesse.


 

Conclusão

 
Levando-se em consideração que as dimensões das nossas áreas marítimas de direito, interesse ou responsabilidade (AJB e demais áreas marítimas assumidas perante acordos internacionais de cooperação) são superiores ao território da União Européia, podemos inferir o quanto é apropriada esta aquisição.

A decisão das operações A/S com P-3, mesmo não sendo um vetor embarcado, remonta ao período das operações do NAeL Minas Gerais, com as aeronaves P-16 Tracker embarcadas. Com o emprego deste novo vetor de patrulha, o Brasil passará a ocupar uma posição de vanguarda em tecnologia de patrulha marítima. A aplicação da aeronave P-3AM, o emprego do Navio-patrulha de 500 toneladas e as capacidades intrínsecas do submarino nuclear proporcionarão a defesa adequada às riquezas da Amazônia Azul.

FONTE: Revista Passadiço

Sair da versão mobile