Espionagem beneficiou EUA na Cúpula das Américas

Embaixador americano no Brasil - Thomas Shannon
Embaixador americano no Brasil – Thomas Shannon
Segundo ‘Época’, atual embaixador americano em Brasília recebeu mais de 100 relatórios da NSA sobre a região

Um documento ultrassecreto da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA revela que o governo americano se beneficiou de dados obtidos pela espionagem de e-mails e ligações telefônicas durante a 5ª Cúpula das Américas, em 2009, realizada em Trinidad e Tobago. Trata-se de uma carta assinada pelo atual embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, em que ele agradece e parabeniza o diretor da NSA, general Keith Alexander, pelas “excepcionais” informações obtidas numa ação de vigilância de outros países do continente.

O documento foi revelado à revista “Época” pelo jornalista americano Glenn Greenwald – o responsável por publicar nos jornais “Guardian” e GLOBO os dados que trouxeram à trona os programas de vigilância cibernética dos EUA e que, revelaram, inclusive, que o Brasil é um dos alvos principais da vigilância na América do Sul.

No ofício, de 19 de maio de 2009 – sete meses antes de ser nomeado embaixador no Brasil -, Shannon deixa claro que não apenas conhecia a ação de coleta de dados sobre representações diplomáticas de outros países do continente, como se beneficiou dela. À época, início do primeiro mandato do presidente Barack Obama, ele ocupava o cargo de secretário-assistente de Estado e respondia à então secretária, Hillary Clinton.

Segundo a “Época”, Shannon recebeu mais de 100 relatórios da NSA. Ele assinou o texto “em nome do Departamento de Estado” e, portanto, em nome de Hillary.

“(Os relatórios) nos deram uma compreensão profunda sobre os planos e intenções de outros participantes da cúpula e garantiram que nossos diplomatas estivessem bem preparados para aconselhar o presidente Obama e a secretária Clinton sobre como lidar com questões controversas, tais como Cuba, e interagir com contrapartes difíceis, como o presidente venezuelano, Hugo Chávez”, escreveu Shannon.

Naquele ano de 2009, destaca a reportagem, a Casa Branca tinha um objetivo na Cúpula das Américas: era necessário apresentar o então novo presidente americano como um líder disposto ao diálogo com o resto do continente.

Evo e Chávez: focos de Tensão

Era, ainda, o primeiro encontro de Obama com dois opositores dos EUA: os presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia.

Apesar da tensão, Shannon considerou a cúpula positiva. “Nosso novo governo estava determinado a construir uma relação produtiva e positiva com nossos vizinhos, enquanto nossos rivais na região estavam igualmente determinados a nos constranger e desacreditar. Tivemos êxito e nossos rivais fracassaram, e nosso sucesso se deve, em boa medida, às informações abundantes, detalhadas e no tempo certo que vocês forneceram”, escreveu Shannon.

No mês passado, após as revelações do GLOBO sobre a espionagem americana no Brasil, o embaixador minimizou o caso e alegou que foi passada “uma imagem incorreta” da NSA.

FONTE: O Globo

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