Investimentos russos na Antártica: reconstrução da estação Vostok como manutenção de status quo

Por Gabriela Paulucci e Gabriele Hernandez

Mesmo sendo um dos Estados mais presentes no continente antártico, a Rússia vem subfinanciando seu investimento no sexto continente há décadas, fornecendo espaço competitivo para outras potências polares. É nesse sentido que a restauração de suas instalações antárticas ilustra a retomada de sua capacidade de projeção de poder e influência na região.

A fim de modernizar sua presença no território, o país anunciou a reconstrução de toda a Estação Vostok, uma das estações mais insulares da Antártica e a principal da Rússia. Seria a retomada de investimentos na estratégia antártica russa capaz de manter o seu status quo no sexto continente?

Construída em dezembro de 1957, atualmente a Estação Vostok está com quase 90% da infraestrutura desgastada. O investimento e a modernização das estações antárticas russas fazem parte da nova estratégia de desenvolvimento das atividades polares do país.

Parte do valor investido veio da doação do bilionário russo Leonid Mikhelson, presidente da companhia russa de gás Novatek. Não é coincidência que uma parcela considerável do financiamento tenha sido feita por um empresário do ramo energético, uma vez que, em fevereiro de 2021, o país mensurou o potencial de prospecção de petróleo e gás natural em uma das regiões do mar austral, ainda que a exploração de recursos minerais tenha sido proibida pelo Protocolo de Madri.

A presença russa na Antártica sempre foi forte e sua experiência e capacidade operacionais, atreladas ao seu pioneirismo no continente, ilustram a importância e o potencial estratégico do país. Enquanto União Soviética, o Estado foi um dos doze membros iniciais a assinarem o Tratado da Antártica em 1959. O medo de que a URSS reclamasse o continente todo para si, contribuiu para pressionar os demais interessados a assinarem o documento. Embora nunca tenha reivindicado nenhuma porção territorial, os soviéticos se davam o direito de fazê-lo quando o vissem necessário, posição que o país mantém.

O jogo russo na Antártica é lento, pois o país concentra seus esforços no Ártico, mas o conhecimento de exploração mineral em regiões polares pode ser usado na Antártica futuramente. Enquanto o Protocolo de Madri
vigorar, e os demais países evitarem conflitos na região, não há motivo para urgência no rearranjo logístico e político no continente. Reconstruir sua estação mais ao centro do continente significa reforçar e garantir a manutenção de seus interesses na Antártica, sabendo que tem o tempo a seu favor.

FONTE: Boletim GeoCorrente

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