A magia de Kalashnikov

Mikhail Kalashnikov não era apenas um inventor de armas, pois a espingarda automática por ele criada tornou-se símbolo das armas em dezenas de países do mundo. A simplicidade e a fiabilidade da construção fizeram da AK a arma automática mais difundida. Segundo alguns cálculos, a quantidade total de AK fabricadas constitui de 12 a 15% de todas as armas ligeiras de todos os sistemas no mundo.

Arma que veio do nada?

Discussões acesas sobre quem realmente inventou a lendária espingarda automática são um dos grandes mistérios da Kalashnikov. Pode-se dizer com certeza que modelos criados por outros construtores, tanto soviéticos, como estrangeiros, influíram no trabalho deste armeiro. Na construção de algumas peças fulcrais da AK foram utilizadas algumas boas soluções anteriormente encontradas. Por exemplo, foi-se buscar à carabina americana Garand um mecanismo semelhante de bloqueio do cano. Mas, em geral, a construção da AK é original. Afinal, qualquer projeto de engenharia apoia-se numa certa base já existente.

Por isso, pode-se responder à pergunta da autoria da AK de forma inequívoca: essa arma foi criada por Mikhail Kalashnikov. Claro que com o apoio do Polígono de Investigação Científica de Armas Ligeiras e Morteiros (PICALM) e, mais tarde, da Fábrica de Kovrov (construtor Zaitsev). A segunda variante da espingarda automática do modelo de 1947 passou a equipar tropas depois de várias alterações. O seu número oficial passou a ser “espingarda automática de 7.26 mm de Kalashnikov AK” e “espingarda automática de 7.62 mm de Kalashnikov com culatra desmontável, para as tropas paraquedistas. Mas o nome “AK-47”, tão popular no mundo, nunca foi utilizado na URSS.

Qual o segredo?

A história das armas conhece numerosos modelos mais ou menos bem sucedidos. Alguns deles podem até ser considerados geniais, mas nenhum goza de tanta popularidade como a AK. Claro que a capacidade industrial da URSS e, mais tarde, a exportação em massa pelos chineses garantiram uma difusão muito ampla da AK, mas isso foi claramente insuficiente para a tornar lendária.

A principal razão do reconhecimento mundial da AK consiste na combinação extremamente bem sucedida de uma série de traços fulcrais:

– a simplicidade da construção, que garante a sua cópia em países com indústria pouco desenvolvida;

– a simplicidade no maneio, que facilita o acesso à arma de civis com pouca preparação;

– a fiabilidade total da construção, que faz baixar o risco de avaria quando não é corretamente utilizada e a manutenção é insuficiente, bem como garante uma longa utilização.

Estas qualidades da espingarda automática combinam-se com o poder de fogo que permitia a um camponês armado resistir a um pelotão de infantaria. Antes, isso era impossível com espingardas de tambor e com a maioria das pistolas-metralhadoras. Destacamentos de civis, armados com a AK e granadas, tornaram-se, de súbito, uma força real. O mundo ocidental perdeu a supremacia no campo de batalha, antes garantida por metralhadoras e artilharia de tiro rápido. Assim a espingarda automática Kalashnikov tornou-se o principal instrumento e o símbolo da descolonização dos países do Terceiro Mundo. Graças a isso, a AK começou a ganhar fama, para além da cortina de ferro, de “arma dos maus rapazes”.

Mas as vantagens da construção da espingarda automática tornaram-se o seu principal problema. A pouco e pouco, a AK foi realmente parar às mãos de “rapazes maus”, transformando-se numa arma segura nas mãos de adversários totais da civilização, guerrilheiros e máfia. Depois de os combatentes pela liberdade das antigas colônias terem abandonado o palco, destacamentos de islamistas radicais de diferentes tipos tornaram-se os principais utilizadores da AK. Na África libertada, a AK transformou-se na principal arma das guerras tribais.

Porém, não se pode culpar disso nem a espingarda automática, nem o seu criador. Mikhail Kalashnikov criou a AK para as forças armadas do seu país, que, nesse momento, era vítima da mais terrível guerra da história. E foi criada a arma tal como devia ser: de tal forma simples, fiável e mortal que os alunos que terminavam a escola podiam ir para combate e vencer o inimigo após dois dias de treino.

FONTE : Voz da Russia

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