Ajuste da Embraer terá forte impacto local

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Por João José Oliveira

A Embraer está fazendo neste trimestre ajustes na produção para cortar custos e atravessar a atual conjuntura de fraca demanda por aviões no mundo, especialmente no segmento de jatos executivos, que preocupam empregados e a cadeia de fornecedores da empresa no Brasil.

Em meio às negociações do dissídio coletivo de trabalho, que tem data base em 1º de setembro e já estão atrasadas, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região aponta que as dificuldades serão crescente nessa indústria nos próximos meses.

Na primeira semana de agosto, a Embraer abriu um Programa de Demissão Voluntária (PDV), que recebeu a adesão de 1.470 trabalhadores, dos 17 mil que atuam no país outros dois mil trabalham em unidades e escritórios em outros nove países.

Segundo o sindicato, mais da metade desse universo são de empregados que atuam em São José dos Campos.

A prefeitura da cidade tem estudos que apontam que cada demissão na Embraer provoca o corte de onze vagas de trabalho em postos nas áreas de indústria, serviços e comércio do município.

No mesmo dia em que fechou o programa de PDV, a Embraer informou os empregados sobre a decisão de dar férias coletivas para diversas unidades em outubro. No primeiro momento, entram em férias parte das equipes da montagem da Aviação Comercial e da Aviação Executiva, em São José dos Campos, e da Fabricação de Peças, em Botucatu.

“Os empregados dos setores envolvidos já foram informados sobre os períodos exatos de pausa. A Embraer estuda estender as férias coletivas para outras áreas da empresa para adequar o ritmo de produção à desaceleração da demanda”, informou a empresa.

“A Embraer alega que existe uma crise no setor, mas o problema foi provocado pela própria empresa que transferiu produção do Brasil para o exterior”, afirma o diretor do sindicato, André Luis Gonçalves. “Ainda não temos informações de ondas de demissões nas fornecedoras da Embraer, mas tem um risco de que isso vai ocorrer”, disse.

A entidade cita o caso da Latecoere, empresa filial do grupo francês que fornece pisos de alguns modelos de aeronaves da Embraer, como os jatos comerciais E170, que já anunciou um PDV e demissões.

Levantamento realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) prevê que de janeiro até dezembro deste ano serão fechadas 165 mil vagas no Estado, que se somarão as 235 mil fechadas no ano passado. O sindicato dos metalúrgicos alega que a adesão ao programa de demissão voluntária na Embraer foi elevado porque há pressão da companhia que quer racionalizar despesas e atingir a meta de reduzir custos anuais de produção em US$ 200 milhões.

“Isso não estaria acontecendo se a Embraer não estivesse transferindo parte da produção para fora do Brasil”, afirma o diretor do sindicato dos metalúrgicos.

Gonçalves cita o exemplo da fabricação dos jatos executivos Phenom, o campeão de vendas nesse segmento da companhia. “A Embraer disse que as pessoas que trabalhavam nos projeto serão absorvidas na produção da nova família dos jatos comerciais (jatos E2), mas para nós é corte de vagas no país”, afirmou.

Nos últimos 15 anos, a Embraer iniciou um plano de negócios para internacionalizar as suas operações. É preciso estar nos mercados em que os clientes estão”, disse ao Valor o presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, em entrevista concedida em agosto.

Cerca de 90% da receita da Embraer, de R$ 20,3 bilhões em 2015 são gerados no exterior. A empresa tem hoje unidades industriais nos Estados Unidos e Portugal, onde são fabricadas peças e componentes dos modelos montados depois no Brasil. Havia uma unidade na China, que foi desativada.

Mas esta semana, a companhia inaugurou uma nova unidade americana, para produzir assentos de aeronaves em Titusville, na Flórida, Estados Unidos.

No segmento de aviação executiva, afirma a Embraer, todas as concorrentes da companhia têm presença nos Estados Unidos, país que responde por metade da demanda mundial.

Além disso, alega a companhia, a aviação atravessa uma crise. De 1,2 mil novos jatos executivos vendidos em 2008, o mercado caiu pela metade, para 600 entregas realizadas em 2015.

Tanto que a Embraer revisou as metas de vendas e de receita para 2016, cortando em dez unidades a previsão de vendas de aviões executivos este ano e em 3% a expectativa de receita em dólar, para até US$ 6,4 bilhões.

O vice-presidente de pessoas da Embraer, Mauricio Aveiro, afirma que a adesão ao PDV atraiu principalmente profissionais já aposentados que ainda trabalham ou em vias de aposentadoria o que o sindicato confirma. Ele apontou que essas medidas representam um esforço para atravessar o momento até que a demanda global recupere o fôlego, porque a crise de demanda não é resultado da recessão no Brasil, mas de todo o setor de aviação no mundo.

A americana Textron, fabricante de aviões executivos Cessna e Beechcraft e de helicópteros está cortando mais de 300 empregados nos Estados Unidos. A canadense Bombardier avisou que vai reduzir em sete mil vagas o total de trabalhadores até 2018.

Na área da aviação comercial, a americana Boeing anunciou, no primeiro semestre, plano de eliminar quatro mil vagas em 2016, em um universo de 80 mil empregados. E na segunda-feira, a francesa Airbus admitiu que pode ter de reduzir a força de trabalho a partir de outubro.

Ontem, na Bovespa, as ações da Embraer caíram 0,4%, cotadas a R$ 14,84. No dia do anúncio do PDV, em 8 de agosto, as ações estavam cotadas a R$ 14,92.

FONTE: Valor

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