Com a Embraer, Boeing quer encurtar caminho

Por João José Oliveira

As tratativas que a Boeing e a brasileira Embraer têm para a combinação de seus negócios representam para a fabricante americana três principais objetivos, sobre os quais estão apoiadas demais oportunidades de parceria que serão desenhadas, apurou o Valor. São eles complementariedade da carteira de produtos, incremento das plataformas de vendas e serviços e desenvolvimento de novos produtos.

Para a Boeing, a consolidação no mercado aeroespacial é irreversível e há ameaça de entrantes – a chinesa Comac, a russa United Aircraft e a japonesa Mitsubishi. Nesse contexto, escala passa a ser mais essencial para preservar margens de lucro e capacidade de investimentos e perpetuação da companhia.

No lado do fabricante americano, a expectativa é que a primeira parte dos acordos de parceria possa ser assinada ainda neste semestre, e a concretização do negócio, dependendo então dos ritos regulatórios nos dois países.

O tema que detonou a ação da Boeing agora foi a decisão essencial nos planos de longo prazo de que precisa ter carteira de aeronaves no segmento regional. O menor avião da empresa nesse nicho, o 737-700, comporta mais de 140 passageiros, que não consegue aproveitar o crescimento demanda entre companhias aéreas de baixo custo e o incremento do número de aeroportos menores que não recebem jatos de maior porte.

Já a rival Airbus está posicionada nesse segmento por meio da participação na principal fabricante de turboélices regionais do mundo, a ATR; e do acordo para assumir o negócio de jatos da canadense Bombardier.

Nessa conjuntura, uma opção da Boeing seria desenvolver um novo jato, em casa. Afinal, a companhia já teve uma versão, o 717, com 100 assentos, herdeiro do MD-95, da McDonnel Douglas, que comprou em 1996. Mas essa linha de produção foi encerrada em 2006, exatamente por ter perdido espaço para uma empresa: a Embraer.

Assim, a Boeing optou pela Embraer, que está solteira, já é líder nesse segmento no mundo e tem capacidade de desenvolver – no prazo e dentro do orçamento – novos produtos.

A parceria nessa área começaria então por acordos comerciais, de vendas e de prestação de serviços, por meio dos quais a Boeing pode colocar à disposição da Embraer mais vendedores para alavancar novas encomendas, técnicos e engenheiros de manutenção para as companhias aéreas que adotaram os E-Jets da fabricante brasileira.

A Boeing também quer aproveitar a capacidade que a Embraer tem para tirar da prancheta e decolar novos modelos. A brasileira saiu de zero participação de mercado, em 2000, para 1,4 mil jatos em operação em 17 anos, a partir de um projeto que foi anunciado ao mundo em 1999 e teve a primeira produção já em 2002. Para comparar, a canadense Bombardier levou o dobro do tempo para tirar da prancheta e inaugurar o CSeries.

A Boeing tem especial admiração pelo conhecimento que a Embraer passou a dominar em softwares necessários ao processo de desenvolvimento de produtos. Além disso, a equipe de engenheiros da fabricante brasileira é mais jovem que a da empresa americana.

O Valor apurou que os acordos serão feitos sem a necessidade de mudança no controle da Embraer. Os contratos em discussão são basicamente de dois tipos: joint business agreement (JBA) – no qual as duas dividem despesas e compartilham receitas em determinadas atividades, como por exemplo, equipe de vendas ou de prestação de serviços; e joint venture (JV), em que cada empresa entra como sócia de um negócio, como por exemplo, desenvolvimento de um novo produto.

A americana Boeing e a brasileira Embraer sabem que a inclusão da área de defesa nessas discussões é o tema mais sensível aos dois lados. Tanto o governo brasileiro como o americano têm restrições a trocas de informações entre empresas e equipes envolvidas com Segurança e Defesa.

Mas a Boeing está segura de que vai comprovar ao governo brasileiro que a autonomia, independência e segredos estratégicos serão garantidos e preservados. A companhia americana vai usar como argumentos acordos como esses que já tem firmados com governos como o da Austrália, onde a Boeing Defense Australia (BDA) atua com desenvolvimento, manutenção de caças, aviões militares, sistemas de vigilância entre outros.

Além disso, as duas companhias já tem acertadas parcerias nesse segmento, uma vez que a Boeing atua como parceria comercial na venda do cargueiro militar KC-390, modelo que foi desenvolvido pela Embraer nos últimos anos e que tem previsão de entrar em operação neste ano.

FONTE: Valor

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