Corveta Tamandaré – DAN entrevistou o Chairman do Grupo Damen

Por Luiz Padilha

O DAN teve o privilégio de poder entrevistar Mr. Kommer Damen, Chairman do Grupo Damen durante sua visita ao Brasil para reuniões com representantes da Saab e Wilson & Sons. Confira abaixo a entrevista!



DAN – O estaleiro Damen tem experiências com um modelo de negócio onde seus navios são fabricados uma parte na Holanda e o resto do navio em outros países, como por exemplo foi feito na Indonésia e no México. Qual a diferença, se houver, entre esse modelo de negócios e o que está sendo oferecido à Marinha do Brasil na licitação do programa corveta Tamandaré?

Mr. Kommer Damen – O Damen você deve saber, não constrói só navios militares, nós também construímos OPVs, navios para guarda-costeira, e para o mercado de Offshore, fornecendo um amplo leque de modelos. Nós temos um departamento chamado Damen Technical Cooperation que nos permite cooperar com outros estaleiros usando nossos projetos de forma a construir esses navios em outros países, o que nós fazemos numa escala global, na Europa, na Indonésia, em vários países do Extremo Oriente, na America do Sul e no Brasil, onde temos uma cooperação de muitos anos com o estaleiro Wilson & Sons para construir navios para a industria de petróleo, que são navios de alta tecnologia também.

Acreditamos que esta seja uma forma de transferir tecnologia, e para nós, também é uma foma de contrair contratos. Ao trazer tecnologia de nossa empresa, isso passa a ser uma razão adicional para os clientes fazerem negócio conosco. Em termos de navios militares com maior complexidade, o primeiro navio que estamos propondo junto com a Saab e Wilson & Sons para a Marinha do Brasil, terá talvez alguns módulos construídos na Holanda, seguindo o modelo de transferência de tecnologia, através do treinamento da mão de obra brasileira, e no final, ele será um projeto completamente brasileiro.

Desde 1992 temos uma relação com a Wilson & Sons, tendo construído 10 pequenos navios lançadores de boias para a Marinha do Brasil. Por isso eu confio que a construção no Brasil será um sucesso.

DAN – Damen tem uma longa relação com a Wilson & Sons no Brasil, mas a W&S nunca construiu um navio de guerra. Como o Damen pretende superar este desafio em conjunto com a W&S para a construção das corvetas de Tamandaré?

Mr. Kommer Damen – A Wilson & Sons nunca construiu navios militares, mas construiu navios para a industria de óleo e gás que são bastante complexos, além de termos construído um navio sismológico muito complexo para a Marinha do Brasil. Ao todo foram mais de 90 navios construídos junto com o Damen. Rebocadores são navios pequenos com engenharia muito refinada, porque você tem que encaixar todos os equipamento técnicos nele, mas é claro que navios militares possuem aspectos distintos. Um navio militar tem que ser capaz de combater e ser capaz de aceitar o impacto de um míssil, uma granada ou torpedo lançado contra ele. O navio militar tem ainda diferentes aspectos de projeto, e com nossa experiencia em outros países, acreditamos que a Wilson & Sons tenha a capacidade de construir. Em algumas situações será necessária a realização de treinamento especifico, mas em geral estou 100% convencido que os navios serão entregues com qualidade e dentro do prazo, como é a nossa experiencia com a Wilson & Sons até hoje.

DAN – A sua presença no Brasil tem alguma relação com o atraso na divulgação da short list do programa Tamandaré?

Mr. Kommer Damen – Não tem nenhuma relação. Eu já tinha esta viagem agendada para visitar a Argentina e aproveitei para vir ao Brasil para visitar a Wilson & Sons.

DAN – O consórcio Damen / Saab / W&S é um forte concorrente neste processo. O senhor poderia nos contar um pouco sobre como ele foi criado?

Mr. Kommer Damen – Nós temos uma cooperação com a Saab para submarinos na Holanda , então conhecemos a Saab a bastante tempo.

DAN: A26?

Mr. Kommer Damen – Sim, talvez um pouco maior para atender o requerimento da Marinha da Holanda.  Com respeito a Saab, nós aprendemos a nos conhecer, e a Saab tem uma posição muito forte no Brasil, tendo vários sistemas fornecidos para a Marinha do Brasil e o sucesso da venda do caça Gripen no pais os qualificou como um bom parceiro, pessoalmente eu não sei quem procurou quem.  Mas de qualquer forma no final é uma boa combinação, ambos temos uma longa e exitosa presença no Brasil, e acreditamos que temos um bom navio de combate com os sistemas da Saab e a nossa plataforma.

DAN – A proposta da Damen no futuro pode evoluir para uma nova classe, maior, mas menor que a classe de fragatas De Zeven Provicien?

Mr. Kommer Damen – Você sabe que os navios de combate estão ficando cada dia mais compactos. Em tempos de paz, ter um navio com uma grande tripulação é muito caro para qualquer Marinha, porque os sistemas inteligentes proporcionam você ter a mesma capacidade de combate num espaço menor o que é muito mais econômico de operar. O custode consumo de combustível também é muito menor. A evolução dos navios de guerra segue uma tendencia em direção a navios menores, mais eficientes e mais baratos, porém, igualmente capazes.

DAN – A Marinha deseja após a contratação de quatro corvetas, ampliar a aquisição para mais quatro. Existe a possibilidade neste período se as condições financeiras do país permitirem, que a Marinha opte por navios maiores como fragatas com deslocamento de 5.000 a 6.000 ton.?

Mr. Kommer Damen – Todos os nossos navios possuem historicamente boa capacidade de navegação. Nós criamos junto com a nossa universidade em Delft , a proa X Bow em navios menores para ter uma melhor capacidade de navegação em mar pesado, dando a tripulação melhores condições de trabalho. A Sigma não usa o X Bow, mas tem um comportamento em navegação semelhante. Se você fizer um navio maior com este tipo de proa (X Bow), ele terá melhores condições de navegabilidade e duração de missão.

Eu não sei o quão longe da costa a Marinha do Brasil tem pretensões de operar, mas eu acho que a Sigma 10514 é super capaz  de operar em direção a Argentina e para o leste. Mas se você for em direção a Antártica com diferentes tipos de clima talvez você possa pensar em um navio maior. Essa é uma questão de como estrategicamente a Marinha do Brasil olha para esses navios. Nós também temos uma grande experiencia neste tipo de ambiente. Estamos construindo um grande navio Antártico para a Divisão Antártica da Austrália. A Marinha do Chile também usa um quebra-gelo que tem componentes construídos pela Damen e, se a Marinha do Brasil precisar de um navio deste tipo, nós podemos fornecer.

DAN – Com a expertise alcançada na construção de corvetas, na sua opinião a W&S poderia construir 100% esse novo modelo de navio?

Mr. Kommer Damen –  Sim depois que vencermos (risos). Nós temos uma boa reputação de construir navios dentro do orçamento e dentro do prazo, além de prestar um bom serviço de pós venda. Eu estive agora na Argentina onde a Prefectura Naval usa navios construídos pelo Damen. Os navios tem de 30 a 40 anos de idade e o Damen ainda presta suporte e eles seguem satisfeitos com um produto de décadas atras. Nós sempre dizemos aos clientes que nós apoiamos o navio durante toda sua vida, e fornecemos uma lista de referência que o novo cliente pode contactar para confirmar.

DAN – Qual a perspectiva de criação de novos postos de trabalho no estaleiro dentro do programa Tamandaré?

Mr. Kommer Damen –  Eu acredito que a Wilson & Sons deverá abrir entre 400 e 500 novos postos de trabalho, além dos empregos que serão gerados pelas empresas subcontratadas.

DAN – O estaleiro Wilson & Sons possui outros clientes. Caso o consórcio vença o programa da corveta tamandaré, ele terá condições de construir um navio militar e um civil ao mesmo tempo?

Mr. Kommer Damen – A pergunta é válida, pois o Wilson & Sons tem 2 estaleiros no Guarujá – SP, onde um deles será convertido e dedicado para a construção militar. Com isso, ocorrerão mudanças para o aumento da segurança, e o outro continuará trabalhando para o mercado civil.



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