Escola de Defesa da Unasul começa a funcionar em busca de autonomia regional

soldados

Por Marcia Carmo

Ainda na esteira do escândalo de espionagem que fragilizou as relações entre os Estados Unidos e países sul-americanos em 2013, os membros da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) dão início nesta sexta-feira às atividades da Escola Sul-Americana de Defesa (Esude), que tem o objetivo expresso de formar quadros especializados em Defesa e Segurança Regional, mas também pretende fomentar a “confiança mútua” entre os membros do bloco.

O novo centro de estudos funcionará na cidade de Quito, capital do Equador, onde fica a sede da Unasul, e será chefiado pelo brasileiro Antônio Jorge Ramalho, assessor especial do Ministério da Defesa e diretor do Instituto Pandiá Calógeras, ligado à pasta. Professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), ele foi oficializado no cargo após uma reunião na noite de quinta-feira, segundo fontes do governo brasileiro.

A iniciativa, que há anos contava com o apoio do Brasil e da Argentina, ganhou força após as revelações em 2013 a respeito dos programas de espionagem e rastreamento da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos em vários países sul-americanos. Documentos sigilosos revelaram que, além do Brasil, Argentina, Venezuela, Colômbia e Equador foram espionados pelo governo americano.

Com formato descentralizado, a Esude será um centro de altos estudos responsável pela articulação das diversas iniciativas dos países-membros do CDS (Conselho de Defesa da União de Nações Sul-Americanas) para capacitação de civis e militares nas áreas de Defesa e Segurança Regional.

Segundo afirmaram fontes do Ministério da Defesa brasileiro à BBC Brasil, a escola vai operar como uma plataforma de cursos presenciais e à distância. Atualmente, esse intercâmbio já existe entre Brasil e Argentina. O objetivo é ampliar essa troca de experiências para os demais países do bloco.

As fontes acrescentaram que os militares da região costumam realizar cursos em seus próprios países e em escolas de Defesa dos Estados Unidos. A partir do início das operações da Esude, eles passariam a receber uma formação mais voltada para estratégias de Defesa Regional e para a América do Sul. A expectativa é de que militares e civis continuem tendo cursos nos Estados Unidos, mas com cada vez menor frequência, segundo fontes do governo brasileiro.

Defesa comum

De acordo com Antônio Jorge Ramalho, a instituição “visa a formar civis e militares que vão conduzir as políticas de Defesa” da Unasul.

“A construção de uma política de Defesa comum permitirá o maior conhecimento mútuo, preparo das pessoas e a maior troca de informação, o que também vai gerar confiança mútua”, afirmou Ramalho, antes de ser indicado como chefe da Esude.

Para Jorge Battaglino, diretor da Escola de Defesa ligada ao Ministério da Defesa da Argentina, com a Esude será possível encontrar pautas “comuns” de Defesa. “Um exemplo é a Defesa dos nossos recursos naturais, como a Amazônia e o Atlântico Sul”, afirmou.

Ramalho acrescentou que o objetivo da escola é estruturar uma rede de institutos nacionais de formação oficial, que permita circular informações e instrutores, aproveitando a rede de escolas já existentes “e respeitando as diferentes visões sobre Defesa”.

Criada em 2008, a Unasul estabeleceu um Conselho de Defesa no mesmo ano. “Com a escola, será possível identificar áreas em que se possa ampliar a cooperação em Defesa no marco de democracias cada vez mais estáveis e prósperas”, afirmou Ramalho.

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