Indonésia ameaça sustar compra militar do Brasil

Presidente da Indonésia rechaça interferência estrangeira, reafirma que execução de traficantes está mantida, incluindo a de mais um brasileiro, e seu governo ameaça reconsiderar compra de jatos e lança-mísseis do Brasil

O presidente da Indonésia Joko “Jokowi” Widodo disse ontem que não terá clemência com os traficantes estrangeiros condenados à pena de morte, apesar dos pedidos do Brasil, União Europeia, Austrália e Anistia Internacional, e que não aceitará “interferência externa” sobre o assunto. Ao mesmo tempo, o vice-presidente, Jusuf Kalla, que Jacarta poderia reconsiderar a compra de 16 aviões de combate EMB-314 Super Tucano e lança-mísseis do Brasil, segundo o diário “The Jakarta Post”. A Embraer já entregou 8 dos 16 aviões pedidos pela Indonésia, cumprindo uma encomenda acertada em 2010 que foi ampliada em 2012. A ameaça do governo indonésio ocorre em um momento em que as relações entre os dois países estão abaladas pela execução do brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, no dia 17 de janeiro, ignorando o pedido de clemência da presidenta Dilma Rousseff.

Dilma, que chamou para consultas o embaixador brasileiro em Jacarta após a execução de Moreira, também pediu clemência para Rodrigo Muxfeldt Gularte, diagnosticado com esquizofrenia. Laudo assinado por um psiquiatria da rede pública da Indonésia confirmou o quadro de saúde e o governo brasileiro pediu a sua internação. Onze condenados estão para ser executados até o fim do mês, a maioria por tráfico de drogas, segundo a mídia local. Esta será a segunda leva de execução deste ano, após a de janeiro. O presidente Widodo alertou aos outros países para não intervirem no direito da Indonésia de praticar a pena de morte.” Não deve haver qualquer intervenção na pena de morte porque é nosso soberano direito de exercer nossa lei”, afirmou Widodo.

A Indonésia chamou no sábado (21) o seu representante no Brasil e apresentou protesto formal às autoridades brasileiras porque a presidenta Dilma Rousseff adiou, na sexta-feira (20), o recebimento das credenciais do novo embaixador indonésio, Toto Riyanto, até haver mais clareza na situação das relações diplomáticas entre as duas nações.O presidente indonésio criticou ontem a atitude do governo brasileiro, afirmando que foi “inapropriada”. Ele explicou que decidiu retirar o embaixador indonésio do Brasil “porque isso é uma questão de soberania de Estado e de dignidade da nação”. Outro fato que piorou a situação foi a declaração de um padre católico que mora na Indonésia há 40 anos, de que Moreira foi executado sem direito à extrema-unção.

Charles Burrows, em entrevista ao grupo de mídia australiano “Fairfex Media”, reproduzida pelo jornal “The Sydney Morning Herald”, contou que um desentendimento impediu o acesso dele ao local da prisão, que fica em uma ilha. Widodo encontrou Dilma pela primeira vez em Brisbane, na Austrália, onde eles participaram do encontro do G-20 no ano passado. Eles deverão se encontrar novamente em outubro, Istambul, onde será realizado uma outra cúpula do G-20. A execução de estrangeiros acusados de tráfico de drogas também abalou a relação da Indonésia com a Austrália, com o primeiro-ministro Tony Abbott pressionando Jacarta para que liberte dois cidadãos de seu país, condenados à morte em 2006 por tráfico de heroína.

Abbott provocou uma grande polêmica há alguns dias ao lembrar que seu país ajudou a Indonésia com US$ 780 milhões após o desastre causado pela Tsunami em 2004.O comentário foi recebido pelos indonésios como uma ameaça e acabou desencadeando uma campanha pública para coletar dinheiro para devolver a verba oferecida pela Austrália. A pena de morte para traficante conta com apoio maciço da população e Widodo tem aproveitado para demonstrar que é linha dura, afirmando que não agirá como governantes anteriores que cederam às pressões externas e concederam anistia a condenados por tráfico de drogas.

FONTE: Brasil Econômico

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