Procuradoria denuncia engenheiro por propina de 1.2 milhão de euros no programa do submarino nuclear|




Por Luiz Vassallo e Pedro Prata

O Ministério Público Federal denunciou o engenheiro Renato Del Pozzo, que integrou os quadros do Centro Tecnológico da Marinha, por supostamente cobrar e receber propinas de uma empresa austríaca em licitações para o desenvolvimento do Submarino com Propulsão Nuclear Brasileiro (SN-BR). Entre 2009 e 2013, segundo a denúncia, Del Pozzo recebeu mais de € 1,2 milhão (R$ 5,5 milhões, no câmbio atual) para beneficiar a fornecedora de componentes nucleares Bilfinger Maschinenbau GmbH & Co KG em contratos relacionados ao projeto militar.

A autora da denúncia é a procuradora da República Thaméa Danelon. O número processual é 500248750.2019.403.6181.

Além de corrupção passiva, o acusado deve responder por lavagem de dinheiro, crime atribuído também ao engenheiro particular Jairo João Mola, que ‘agiu como laranja de Del Pozzo no recebimento de parte das quantias.

As irregularidades foram investigadas no âmbito da ‘Operação Submarino‘, que o Ministério Público Federal deflagrou em fevereiro deste ano em conjunto com a Polícia Federal.

As propinas equivalem a 6,7% do total pago à Bilfinger de 2009 a 2014 para a execução de 15 contratos de fornecimento assinados com o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo, onde o submarino é desenvolvido.

Del Pozzo era o gerente do ‘circuito primário’ do projeto, destino da maior parte dos materiais adquiridos. A denúncia destaca que ele negociou as vantagens indevidas diretamente com o executivo da Bilfinger, Karl Mitterlehner, solicitando os pagamentos por meio de contratos fictícios de consultoria com a empresa austríaca.

O dinheiro era depositado em uma conta que Del Pozzo mantinha na Suíça em nome de uma empresa de assessoria comercial.

A simulação de serviços de consultoria para ocultar a origem ilícita das quantias foi usada também por Jairo João Mola, que, ‘a pedido do engenheiro da Marinha, atuou formalmente como representante da Bilfinger em alguns dos contratos’.

Mola recebeu o dinheiro em contas nacionais, uma pessoal e duas de empresas das quais era proprietário. Em depoimento ao Ministério Público Federal, ele admitiu que uma empresa foi usada para movimentar € 180 mil com o objetivo de repassar o montante a Del Pozzo.

O caso foi descoberto a partir de apurações conduzidas por um escritório alemão a pedido do setor de compliance da própria Bilfinger, entre 2014 e 2015.

Em agosto de 2017, a empresa firmou um acordo de leniência com a Controladoria-Geral da União e o Ministério Público Federal, pelo qual se comprometeu a entregar documentos e pagar mais de € 2,6 milhões a título de ressarcimentos e multas.

Segundo a Procuradoria, a denúncia contra Del Pozzo e Mola ‘fundamenta-se não só em extratos e e-mails fornecidos pela companhia, mas também em depoimentos e provas obtidas com a quebra de sigilo fiscal e bancário dos acusados e o cumprimento de mandados de busca e apreensão’.

Desde a deflagração da Operação Submarino, Del Pozzo está afastado de suas funções por ordem da Justiça Federal. Tanto ele quanto Mola foram proibidos de acessar as dependências de unidades da Marinha e tiveram suas contas bancárias bloqueadas.

A indisponibilidade de bens se estende também a familiares de ambos e visa à garantia de recursos para a devolução das quantias recebidas ilicitamente, caso sejam condenados ao final do processo.

COM A PALAVRA, A DEFESA

A reportagem tentou contato com a defesa dos engenheiros Renato Del Pozzo e Jairo João Mola. O espaço está aberto para manifestações.

COM A PALAVRA, A MARINHA

Em 7 de fevereiro, quando a força-tarefa do Ministério Público Federal fez buscas nos endereços de Del Pozzo e Mola, a Marinha informou.

“A Marinha do Brasil, por meio do Centro de Comunicação Social da Marinha, participa que, desde 2015, quando tomou conhecimento do caso, através da Controladoria-Geral da União, vem contribuindo para a elucidação de supostos ilícitos relacionados às atividades da empresa Bilfinger Maschinembau GMBA & CO.KO (MAB), visando à preservação do patrimônio público e à persecução penal militar. Como resultado, foram instaurados Inquéritos Policiais Militares, devidamente encaminhados ao Ministério Público Militar, em 2017 e 2018.”

FONTE: Estadão

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