Um submarino nuclear para a América do Sul

Um submarino nuclear pode mudar as regras do jogo na região?

Por Jennifer P. Oliveira

Brasil já iniciou a construção de cinco novos submarinos numa cooperação de desenvolvimento com a França sob o nome projeto PROSUB, dos quais quatro são submarinos convencionais diesel / elétrico e um será alimentado por energia nuclear, o primeiro submarino desse tipo em toda a região.

A estrela da frota de submarinos será chamada “Álvaro Alberto” e deverá estar concluída em 2029-2030.



Quando o PROSUB for concluído e o submarino nuclear for lançado e comissionado, o país se tornará o único regionalmente a possuir um submarino de ataque nuclear para dissuasão, não mencionando quatro novos submarinos convencionais, (o primeiro foi recentemente lançado sob o nome “Riachuelo” S-40, mais quatro unidades classe Tupi/Tikuna já tem serviço dentro de sua frota.

Dado esse panorama, os demais países latinos estão em desvantagem em termos de capacidades submarinas.

Submarino brasileiro Riachuelo S40

Para começar, o Brasil é o único país no nível regional que tem a capacidade de desenvolver uma indústria naval própria e substancial, portanto, é o único que está desenvolvendo um projeto dessa magnitude. O resto dos países latinos, ou exercem pouca influência neste campo ou o mesmo é completamente irrelevante.

Tomemos por exemplo o caso uruguaio que não tem nenhum submarino dentro da sua Marinha, ou aqueles que possuem como Peru, Chile, Argentina, Equador, Venezuela e Colômbia, que em muitos casos, têm submarinos com mais de 40 anos de serviço dentro suas respectivas forças.

Então, se analisarmos o contexto regional, que problemas poderiam surgir do comissionamento de um submarino nuclear em uma região que carece dessa tecnologia e que, por sua vez, em muitos casos, não tem influência submarina ou estão pendurados por um fio, como é o caso argentino?

Sendo mais específico, um submarino nuclear pode mudar as regras do jogo na região? Pode gerar um efeito contagioso e fazer com que o resto dos países queira nivelar?

Por seu lado, a Marinha do Uruguai alegou que a falta de submarinos em sua Marinha é devido à falta de fundos e, como conseqüência, a necessidade de priorizar a implantação de unidades de superfície e aeronaves para proteger a soberania marítima com recursos disponíveis, sem negar a necessidade de ter uma capacidade submarina própria, mas garantindo que, no momento, essa capacidade continuará inexistente.

Submarino peruano BAP Pisagua

Por outro lado, temos o Peru, que tem seis unidades em serviço, seguido pela Colômbia, com quatro unidades modernizadas em 2010 e Chile, com quatro unidades. No caso venezuelano, o Comando da Força Submarina é composto por duas unidades, uma das quais está atualmente em um estaleiro em processo de modernização, mas ainda sem data de término. Ao mesmo tempo, discutiu-se a possibilidade de adquirir novos, mas sem confirmações.

E finalmente, nos deparamos com o caso argentino, que pela primeira vez não possui submarinos em operação.

Todos nós sabemos qual era o destino do ARA San Juan, e não quero me aprofundar, mas muitos também estão cientes do estado dos outros dois submarinos que a força alega possuir em serviço. O ARA Salta e o ARA Santa Cruz. Em meu artigo, o “Comando da Força Submarina que não possui submarinos operando” aprofundei-me na capacidade submarina da Argentina e as perspectivas não são animadoras.

Submarino argentino ARA Santa Cruz

Por isso, estamos perante um inquestionável poder regional que continua, a um ritmo forte, apostando na defesa e criando oportunidades de desenvolvimento que não só beneficiem a defesa do seu país, mas também criam empregos e desenvolvimento tecnológico, posicionando-se como um Player na região e um incógnito na esfera internacional, já que ninguém sabe até que ponto o Brasil levará sua capacidade de construir submarinos nucleares, uma vez que tenha o submarino “Álvaro Alberto” em serviço.

Respondendo a minha primeira pergunta, a resposta é, sem dúvida, sim. O comissionamento do submarino com propulsão nuclear brasileiro certamente será terá um impacto para a região e para o mundo, pelo fato de que um submarino nuclear dessas características tem maior autonomia, permitindo estar imerso durante vários meses com menos chance de ser detectado e, como conseqüência, navegar a distâncias maiores. Você pode se mover para grandes distâncias, ficar submerso por longos períodos e até, se desejar, atacar ou ameaçar atacar onde quer que se posicione. Lembre-se que é um recurso que somente as grandes potências possuem. E o Brasil em breve será um deles.

Almitante Max mostrando o quão complexo é construir um submarino nuclear

A viabilidade industrial e tecnológica de possuir um SSN nativo também sugere outro fator fundamental em um nível doutrinário e prospectivo. Sua capacidade futura de “acertar em qualquer lugar” pode ser acompanhada por um “seja o que for”. Não podemos garantir nem descartar que construir um SSN pode ser o prelúdio para o pensamento de vetores militares com capacidade de lançar mísseis de cruzeiro ou até mesmo ser a base para gerar um dos sistemas necessários para cobrir a tríade do poder máximo dissuasivo. Este último deve ser objeto de análise nas esferas civil e militar dos países vizinhos ao Brasil.

Por outro lado, os grandes benefícios industriais de administrar uma tecnologia similar terão forte impacto em outras áreas institucionais brasileiras, gerando, por sua vez, um reforço da esfera militar em sua estrutura econômica.

O complexo instalado em Itaguaí vai impulsionar o desenvolvimento tecnológico do gigante sul-americano de mãos dadas com uma indústria de defesa que começa a se localizar confortavelmente dentro de outras atividades do país.

Ambos, PROSUB e F-X2 com a fabricação do Gripen no seu território com transferência de tecnologia, implica elevar o status do Brasil na região dando-lhe não só prestígio, mas uma diferença marcante no poder em relação aos seus vizinhos.

Sobre a minha segunda pergunta, eu me inclino para o não. Nenhum líder na região expressou preocupação ou mesmo ambição de fortalecer sua força submarina no futuro próximo.

Provavelmente devido a uma indiferença simulada.

FONTE: Zona Militar

TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: DAN



Sair da versão mobile