Entrevista com a Comandante do Comando Sul dos Estados Unidos, Laura Richardson

Foto: Juliana Mota/Censipam

FotPor Mariana Alvarenga (ASCOM-MD)

Entre 25 a 29 de julho de 2022, ocorreu a XV Conferência de Ministros de Defesa das Américas, em Brasília. O fórum contou com a presença de representantes de 21 nações. A comandante do Comando Sul dos Estados Unidos (SOUTHCOM), General de Exército Laura Richardson integrou a comitiva americana. Ela é a primeira mulher a assumir o cargo, e a segunda a alcançar o posto de general. Formada em psicologia, iniciou sua carreira como piloto de helicóptero no Exército americano, tendo participado de duas missões de combate, no Iraque e no Afeganistão. Em entrevista, a General Richardson fala da parceria do Brasil com os Estados Unidos na área de defesa.

ASCOM – Esta é sua segunda visita ao Brasil desde que assumiu as funções de Comandante do SOUTHCOM. Como você descreveria a parceria de defesa dos EUA com as Forças Armadas Brasileiras?

General Richardson – É um prazer estar pela segunda vez, no Brasil, desde que assumi o Comando, em outubro passado. Nós temos um relacionamento forte e histórico com o Brasil. É muito importante minha visita aqui para continuar viabilizando e fortalecendo nossa parceria. Temos duas grandes democracias e grandes Forças Armadas. Então, meu desejo é só continuar essa ótima colaboração. Essas conferências unem todos da região. O Brasil é, absolutamente, um líder em segurança. É uma honra estar aqui e ser parte da delegação americana da conferência.

Foto: Juliana Mota/Censipam

ASCOM – Os Estados Unidos e o Brasil são fortes parceiros de segurança há mais de um século. Qual será o foco da futura cooperação militar entre os dois países à luz das ameaças e dos desafios atuais e previstos na região?

General Richardson – As ameaças são desafiadoras, são muitas e estão em todas as áreas. E eu diria que, à medida que avançamos em termos de cibernética, espaço e outras áreas, nossas demandas estão se tornando rapidamente mais complexas e desafiadoras. Nós temos que trabalhar juntos para combater essas ameaças. Certamente, mais uma vez, a CMDA une democracias e países com ideias semelhantes para trabalharem juntos, para falar dessas ameaças, desafios, e também das oportunidades.

Nós, da delegação americana, falamos aqui de questões de dissuasão integrada e como agregar isso na região. Creio que é um bom nome para falar não somente sobre os países individualmente, mas abordar a união de todos e trabalhar de forma colaborativa, com democracias engajadas para o bem do Hemisfério Ocidental, em ambientes livres, seguros e prósperos.

ASCOM – Este ano, o Brasil está sediando a UNITAS, treinamento militar de defesa marítima. As Marinhas brasileira e norte-americana participaram do exercício pela primeira vez, em 1960, ano de sua inauguração. Quão importante é para o SOUTHCOM que o Brasil esteja sediando o exercício este ano, e quão relevante é agora a UNITAS, considerando que data de mais de seis décadas atrás?

General Richardson – Isso mostra a contínua parceria e como é importante nossa colaboração. Mas não é só entre o Brasil e os Estados Unidos; muitas diferentes nações participam. Dezoito nações fazem parte da UNITAS e temos inúmeros navios, submarinos, velejadores, marinheiros. É muito emocionante! Eu sou do Exército, estou representando o SOUTHCOM como Comando Conjunto, então estou bem animada para isso. Vai ser um exercício fantástico. Isso mostra uma integração para se transformar em ação, porque une a todos, e seus pontos fortes para o exercício, em todas as áreas e todas as dimensões. Une a todos à medida que combatemos as ameaças. A atividade é incrível. E o Brasil está sediando, é maravilhoso.

ASCOM – Quais as áreas de foco de cooperação em segurança que mais cresceram entre o Brasil e os Estados Unidos e quais fatores contribuíram para seu crescimento?

General Richardson – À medida que crescemos juntos, vemos os desafios que enfrentaremos no futuro. Como as coisas acontecem, ficar à frente delas, ao invés de sermos reativos ao que são as ameaças. E, de novo, eu volto ao ciberespaço, pois são áreas em que temos que focar. Há muitos desafios nas Américas. Há transações em organizações criminosas, narcotráfico, tráfico humano, registro ilegal, garimpo ilegal, pesca ilegal. Nós temos muitos desafios, como mudanças climáticas, tempestades, inundações. É difícil conseguir comida em alguns locais por causa da seca. Temos imigração. São muitos desafios. Então, temos que trabalhar juntos para tentar solucionar todos e ficar à frente deles.

ASCOM – De que forma a parceria entre o SOUTHCOM e as Forças Armadas Brasileiras contribui para a estabilidade a longo prazo no Hemisfério Ocidental, e por que esse objetivo regional é tão importante para a segurança em nossos países?

General Richardson – Acho que isso vai ao encontro do que eu disse antes sobre os Estados Unidos e o Brasil, duas grandes democracias, duas grandes Forças Armadas. Eu acho que a razão que nós temos é desfrutar de um Hemisfério Ocidental livre, seguro e próspero, porque nós temos essas coisas. E queremos ter certeza de que esses valores serão mantidos e podem ser usados como fatores de dissuasão. Porque quando se é forte em termos de Forças Armadas, pode-se dissuadir outras ameaças de tentar romper a democracia. Então nós temos que continuar com esse forte relacionamento.

ASCOM – A senhora é uma líder em uma área composta principalmente por homens. Sua trajetória é uma inspiração para outras mulheres. Como incentivar a participação feminina nas Forças Armadas?

General de Exército Laura Richardson – US Army

General Richardson – Gosto de usar o esporte como exemplo. Quando as mulheres passaram a ter a oportunidade de participar anos atrás, nas Olimpíadas, as equipes masculinas já eram bem mais desenvolvidas, mas agora já podemos ver nossas atletas indo tão bem quanto eles e vemos o quão boas elas são. O esporte as torna fisicamente aptas, e isso é muito importante para estar nas Forças Armadas. E temos tantos exemplos de grandes atletas mulheres. Temos milhares de atletas mulheres nos EUA que estão indo muito bem e, no Brasil, a mesma coisa.

Em nossas Forças Armadas dos EUA, abrimos mais cargos para mulheres há alguns anos, mas isso levou tempo. Se a mulher tem os requisitos necessários, ela pode se juntar a equipes de habilidades específicas. Nós temos mulheres de Infantaria, Artilharia, Engenharia de combate, Forças Especiais, e até mesmo pilotos, como eu. É só uma questão de dar a oportunidade, com as pessoas mais preparadas e treinadas, temos um leque maior de candidatas para escolher e trabalhar, e isso impacta diretamente no aumento da prontidão da equipe.

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