Exército Brasileiro investe em defesa cibernética

O Comando de Defesa Cibernética, nova unidade do Exército Brasileiro, foi criado para aumentar a segurança do país contra os ciberataques.

O Centro de Defesa Cibernética do Exército foi responsável pela defesa cibernética durante a Copa do Mundo e as Olimpíadas-Foto EB

Por Taciana Moury

A prioridade do governo brasileiro com a defesa cibernética e com a proteção aos ciberataques fez surgir, desde 2016, uma nova estrutura no Exército Brasileiro (EB): o Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber). O novo comando faz parte da Estratégia Nacional de Defesa e completou um ano em operação no mês de abril. O ComDCiber tem como objetivo principal planejar, coordenar, conduzir, integrar e supervisionar ações cibernéticas no âmbito da defesa.

A criação do ComDCiber é uma das ações do Programa da Defesa Cibernética na Defesa Nacional. Segundo informações veiculadas durante a realização da LAAD Defence & Security 2017, em abril, no Rio de Janeiro, o valor do projeto é de R$ 331 milhões (aproximadamente US$ 104 milhões) e inclui desenvolvimento de soluções em software e hardware, aquisição de supercomputadores e materiais de investigação digital para potencializar esse campo de atividades no país.

A defesa cibernética do Brasil evoluiu ao longo dos grandes eventos sediados pelo país, como a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016. Segundo explicou o ComDCiber, houve um enorme esforço de preparação das Forças Armadas nos períodos que antecederam os grandes eventos, com o treinamento de pessoal e investimentos tecnológicos no setor.

Projetos do ComDCiber

Vários projetos estão sendo desenvolvidos pela nova unidade, de acordo com as informações do ComDCiber, dentre eles a criação da Escola Nacional de Defesa Cibernética. O objetivo é o de preparar os recursos humanos civis e militares para que possam atuar com eficácia nas ameaças cibernéticas. Outro projeto é o do Sistema de Homologação e Certificação de Produtos de Defesa Cibernética, que vai viabilizar uma estrutura capaz de certificar produtos (equipamentos e programas) para o emprego no Setor Cibernético. Além desses, o ComDCiber também trabalha na criação do Observatório de Defesa Cibernética e na Gestão de Talentos de Defesa Cibernética, para promover o incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de tecnologia nacional.

As parcerias estabelecidas pelo Ministério da Defesa e pelo Comando do Exército são outra forma utilizada pelo ComDCiber para atualizar o conhecimento técnico do seu efetivo. “Nossos militares participam de cursos, feiras e exercícios internacionais, que permitem a obtenção de expertise para a condução de exercícios desse tipo no Brasil”, disse o comando em nota.

A unidade vai promover, em maio de 2017, o II Estágio Internacional de Defesa Cibernética. O evento vai ter a participação, além do público nacional, de representantes de diversas nações parceiras, incluindo países latino-americanos.

Integração entre as forças armadas

O grande diferencial do ComDCiber é o de possibilitar a integração entre as três forças armadas. A estrutura, que é comandada pelo General-de-Divisão Angelo Kawakami Okamura, conta com um Estado-Maior Conjunto, chefiado por um contra-almirante, um Departamento de Gestão e Ensino, chefiado por um brigadeiro e um Centro de Defesa Cibernética (CDCiber) chefiado por um general-de-brigada.

De acordo com informações do EB, a sinergia entre as forças permite o aprimoramento conjunto. “A economia de recursos humanos e financeiros, o intercâmbio de experiências e a padronização de procedimentos, bem como o compartilhamento de informações sobre eventos de segurança e ameaças cibernéticas, fortalece as instituições da defesa”, informou o EB em nota.

Os oficiais generais da Marinha e da Aeronáutica assumiram suas funções no dia 25 de abril. Foi a primeira vez na história das Forças Armadas brasileiras que oficiais generais assumiram uma função em outra força. O Contra-Almirante Nelson Nunes da Rosa, da Marinha do Brasil, assumiu a chefia do Estado-Maior Conjunto, e o Brigadeiro Intendente Mauro Fernando Costa Marra, da Força Aérea Brasileira (FAB), assumiu o cargo de chefe do Departamento de Gestão e Ensino.

Já o Centro de Defesa Cibernética vai passar a ser chefiado a partir de 22 de maio pelo General-de-Brigada Jayme Otávio Queiroz. Para o oficial, a nova função é desafiadora pelo grau de importância que a defesa cibernética alcançou dentro da Estratégia de Defesa Nacional. “Estamos vivendo em um ambiente cada vez mais conectado. A ameaça cibernética é real e pode causar danos à distância. Temos que estar sempre preparados”, disse o Gen Brig Jayme.

Além do trabalho conjunto realizado no ComDCiber, cada força possui equipes ou Centros de Tratamento de Incidentes de Rede (CTIR) próprios, conforme estabelece o Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil. O Coronel Robson Luís Lopes dos Santos, chefe do Centro de Computação da Aeronáutica em Brasília (CCA-BR), é responsável pela coordenação de um desses centros. Ele explicou que existe uma relação de cooperação técnica estabelecida formalmente entre o CCA-BR e o ComDCiber. “Os incidentes que são identificados por meio da estrutura do CTIR da FAB são compartilhados com o CDCiber”, disse.

Para o Cel Robson, o ComDCiber tem fomentado a cooperação das Forças Armadas e do Ministério da Defesa no trato de assuntos referentes ao espaço cibernético de interesse. “A participação dos técnicos do CCA-BR nos grupos de trabalho de cooperação coordenados pelo ComDCiber é importante para estabelecer uma base comum de conhecimento”, destacou.

Proteção Cibernética na Aeronáutica

Segundo o Cel Robson, além do tratamento de incidentes, o CCA-BR também realiza a proteção cibernética dentro do Comando da Aeronáutica (COMAER), com o objetivo de elevar a consciência situacional cibernética sobre os ativos críticos de Tecnologia da Informação, como por exemplo, sistemas e equipamentos. Os técnicos do CCA-BR monitoram os incidentes desde a detecção de anomalias na rede, por meio de uma triagem seletiva. Analisam os incidentes, tentando identificar a origem e vulnerabilidades associadas e procuram realizar ações para resolver o problema identificado. “A defesa ativa também é realizada, com medidas que evitem ações maliciosas no espaço cibernético”, disse o chefe do CCA-BR.

O trabalho realizado pelo CCA-BR evita que ocorram eventos potencialmente nocivos para o COMAER no espaço cibernético. “Atualmente as ameaças no espaço cibernético podem trazer sérias consequências para a capacidade operacional e administrativa da Instituição”, alertou o Cel Robson. O oficial explicou que um serviço de proteção eficiente tem implicação direta na manutenção da capacidade operacional da FAB no cumprimento de sua missão. “Sem este serviço, os meios da Força Aérea ficariam totalmente expostos a ameaças cibernéticas”, disse.

Para o chefe do CCA-BR, a evolução das ameaças cibernéticas exige uma atualização constante dos técnicos e equipamentos envolvidos na proteção. “O grande desafio é manter a conscientização de todas as unidades do COMAER, quanto à sua responsabilidade na aplicação das medidas de proteção e prevenção”, concluiu o Cel Robson.

FONTE: Diálogo Américas

Sair da versão mobile