General Braga Netto: “a situação do Rio não está muito ruim”

Por Juliana Castro e Rafael Nascimento

Era agosto do ano passado quando, sem nem imaginar que seria o interventor nomeado pelo governo federal para atuar no Rio, o general Walter Souza Braga Netto afirmou “ver com reservas” o uso de tropas militares em conflitos internos no país, assegurando, no entanto, que os militares estavam prontos para cumprir seu dever. O assunto era tema da palestra “O emprego das Forças Armadas nas Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO)”, da qual o general participava, no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), no Centro do Rio.



Na ocasião, a segurança pública do estado já mostrava fragilidade. Seis meses depois, a situação recrudesceu, e o general assume o protagonismo em uma condição inédita, que ainda se desenha para o estado.

Ontem, ao fim da entrevista coletiva montada no Palácio do Planalto para explicar o decreto assinado pelo presidente Michel Temer, Braga Netto, que pouco falara até então, foi perguntado se a situação no Rio estava muito ruim. Ele fez um sinal que não, abanando o dedo indicador direito, e respondeu: Muita mídia. Na visão de Braga Netto, operações militares têm alto custo financeiro, social, de imagem e até psicológico. Na palestra em agosto, o general frisou que o uso das Forças Armadas não seria necessário se os estados tivessem políticas de Segurança Pública e sociais mais eficientes. Ele apresentou estatísticas dos órgãos de segurança estaduais que sustentavam, na análise de ações federais e conjuntas, resultados considerados bons em prisões de suspeitos, apreensão de armas e queda da criminalidade a médio prazo.

Aos 60 anos, o general já era o responsável pelo Comando Militar do Leste (CML) quando falou sobre o tema. Na função, tem mais de 50 mil militares sob sua tutela no Rio, em Minas e no Espírito Santo, o equivalente a 24% do efetivo do Exército. Agora, no papel de interventor na Segurança, terá sob seu comando ainda mais homens.

Isso porque as polícias Civil e Militar, além dos bombeiros e dos agentes penitenciários, ficarão sob o guarda-chuva do general. Assim, caberá a Braga Netto a tomada de decisões e a realização de medidas para combater o crime organizado no estado.

APOIO DOS MILITARES

O comando do CML foi assumido por Braga Netto em setembro de 2016, pouco depois de atuar como coordenador-geral de Defesa de Área dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio-2016. À época da posse, seu trabalho foi elogiado pelo ministro da Defesa, Raul Jungmann. Além da atuação no Rio, o general integrou a ação que envolveu as Forças Armadas na crise da segurança no Espírito Santo, em fevereiro de 2017. Na ocasião, foi realizado um reforço na segurança em municípios do estado devido ao aumento da violência, batizada de “Operação Capixaba”.

Em setembro do ano passado, Braga Netto foi fotografado na Rocinha, quando agentes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica participaram do cerco à comunidade para conter uma guerra do tráfico. Ele tem cursos de Operações na Selva e de Emprego de Blindados. A carreira de general de quatro estrelas lhe rendeu 23 condecorações nacionais e quatro estrangeiras.

O caminho que o levou até a função de interventor começou há 44 anos. Natural de Belo Horizonte (MG), ele ingressou no Exército em 1974. Oriundo da Arma de Cavalaria, foi alçando voos mais altos na hierarquia. Foi observador militar das Nações Unidas no Timor Leste, adido de Defesa e do Exército na Polônia e nos Estados Unidos, comandou o 1º Regimento de Carros de Combate, chefiou o Estado-Maior da 5ª Brigada de Cavalaria Blindada e do Comando Militar do Oeste. Também comandou a 1ª Região Militar e foi chefe da Seção de Inteligência do CML.

Muito respeitado entre seus pares, Braga Netto recebeu o apoio dos presidentes do Clube Militar (Exército), do Clube Naval (Marinha) e do Clube da Aeronáutica, que defendem a intervenção e pedem uma atuação firme no combate ao crime no estado.

“Só a intervenção não é suficiente. Não basta apenas fazer cercos e dar demonstrações de força. Precisamos de aplicação das leis com mais rigor”, afirmou o general de divisão Gilberto Rodrigues Pimentel, presidente do Clube Militar.

“Faz tempo que defendo a hora de tomar medidas de exceção, porém, não arbitrárias. Somos uma força de pacificação e mantenedora da paz. Ninguém entra para matar gente. Existe apenas reação, se necessário for”, disse o vice-almirante Rui da Fonseca Elia, presidente do Clube Naval.

O presidente do Clube da Aeronáutica, o major-brigadeiro Marcus Vinícius Pinto Costa, resumiu o que acredita ser o desafio do general no Rio.

“O general vitorioso é o que minimiza as perdas de pessoas e meios”.

FONTE: O Globo
Título original: “Para interventor, situação do Rio não está muito ruim”



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