Autossuficiência e segurança: os avanços da indústria naval indiana

Por Maria Fernanda Császár

No último mês de junho, a Marinha indiana realizou uma operação notável no Mar Arábico envolvendo seus dois porta-aviões – INS Vinkrant e INS Vikramaditya – e com emprego de cerca de 35 aeronaves. Esse exercício é resultado direto dos esforços indianos em buscar uma indústria bélica independente e competitiva, além de demonstrar a capacidade da Índia de se estabelecer no Oceano Índico perante seus vizinhos. Diante disso, é importante considerar a relevância desses acontecimentos para a Índia e o Sul da Ásia.

Primeiramente, a indústria de Defesa indiana, especialmente no setor naval, tem vivenciado um rápido crescimento impulsionado pelo princípio conhecido como “Aatmanirbhar Bharat”, que significa “Índia autossuficiente”, e tem incentivado a pesquisa e desenvolvimento de tecnologias nacionais. Para Nova Déli, a autossuficiência engloba diversas esferas da segurança nacional, envolvendo tanto questões econômicas, a exemplo das exportações do setor de Defesa, quanto a capacidade de não depender de outras potências, notadamente a Rússia, para garantir sua segurança. Um dos resultados dessa política é o próprio INS Vinkrant, o primeiro porta-aviões produzido majoritariamente em território indiano, e a crescente demanda por outros, dessa vez produzidos integralmente na Índia.

Além disso, a construção e utilização de porta-aviões representam aspectos fundamentais da geoestratégia indiana para o Oceano Índico: devido à sua configuração peninsular, o país enfrenta o desafio de dois litorais distintos; outro fator geográfico que reforça a necessidade de uma estratégia dual é a proximidade com os vizinhos China e Paquistão, que possuem a capacidade de se projetar sobre as costas Oeste e Leste. Nesse contexto, é fundamental possuir embarcações com alta mobilidade e autonomia para efetuar missões de longa duração. Para atender a essa demanda, a Marinha da Índia historicamente buscou promover uma estratégia com dois porta-aviões, conseguindo assim projetar seu poder sobre as duas costas e protegê-las simultaneamente no caso de um eventual conflito.

Dessa forma, Nova Déli demonstra a ênfase por sua modernização naval. Em acordo com a tendência global de aumentar os orçamentos de Defesa, a Índia tem advogado internamente por mais tecnologia de ponta em sua infraestrutura militar, como submarino de propulsão nuclear e mais aeronaves do tipo Multipropósito. A potência asiática reconhece que, para defender seus interesses nacionais, é preciso garantir o pronto uso da força, o que só é possível através de uma indústria bélica forte e independente.

FONTE: Boletim Geocorrente nº 186
FOTOS: Ilustrativas

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