Brasil interrompe exportação de gás lacrimogêneo à Venezuela

Manifestantes contra Maduro se protegem de gás lacrimogêneo com máscaras – Juan Barreto / AFP

Reuters – BRASÍLIA – O governo brasileiro decidiu intervir na exportação de bombas de gás lacrimogêneo para a Venezuela, negociada por uma empresa com sede no Rio de Janeiro, e embargou a venda por causa das sucessivas mortes em protestos contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, disse nesta segunda-feira à Reuters uma fonte próxima à decisão.

O embargo à exportação de cerca de 80 mil bombas de gás pela empresa Condor Tecnologias Não-Letais foi uma decisão tomada em conjunto pelos Ministérios da Defesa e das Relações Exteriores, uma vez que esse tipo de venda depende de aprovação do governo brasileiro, de acordo com a fonte, que falou sob condição de anonimato.

— O governo decidiu acatar um pedido dos oposicionistas porque há um massacre na Venezuela — disse a fonte, acrescentando que nos próximos dias deve haver uma reunião do governo brasileiro para discutir o embargo às exportações de armas letais e não letais à Venezuela.

Um parlamentar da oposição venezuelana afirmou que o Legislativo conseguiu aprovar acordos que envolvem solicitações a outros países para que não vendam “material para a repressão na Venezuela”.

— Descobrimos que havia negociações avançadas para a compra de material no Brasil e fizemos uma denúncia pontual — disse o deputado Jorge Millán.

O líder oposicionista Henrique Capriles comemorou a decisão do Brasil, de negar o embarque do material, e disse esperar que outros países sigam na mesma linha.

— (O Brasil) fez absolutamente a coisa certa ao negar a permissão para envio — disse Capriles. — Estamos trabalhando com os outros… O único (impedimento) parece ser a China.

Adversários do presidente venezuelano vêm organizando marchas e protestos há mais de dois meses que são rotineiramente interrompidos por soldados e policiais, o que tem resultado em confrontos que já deixaram ao menos 71 mortos. Os críticos de Maduro o acusam de comandar uma ditadura, enquanto o governo da Venezuela diz que os protestos são um esforço para derrubar o presidente e culpa a oposição por dezenas de mortes.

Questionado na sexta-feira sobre a negociação da Condor com as Forças Armadas venezuelanas para exportação das bombas de gás lacrimogêneo, o Ministério da Defesa brasileiro disse em resposta por email que as “cargas não foram embarcadas”, sem explicar o motivo. A Condor, por sua vez, disse também por email na sexta-feira que tem atualmente dois contratos em vigor com a Venezuela, sem detalhá-los.

O Ministério das Relações Exteriores informou que a exportação de gás lacrimogêneo para a Venezuela está vetada desde 2011. Segundo a pasta, não houve qualquer exportação desde então e todas as eventuais tentativas que ocorreram foram barradas. Eventuais artefatos que tenham sido exportados antes desta data podem estar sendo usados por lá, mas estão com a data de validade vencida. O Ministério da Defesa, por sua vez, reiterou que a carga da empresa Condor “não embarcou”.

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