Comandante das Forças Armadas da Finlândia fala sobre a importância da Indústria de Defesa

Para garantir uma defesa eficaz, os países ocidentais precisam de uma indústria de defesa grande o suficiente para apoiar suas forças armadas com entrega de material e manutenção. É um elemento importante da segurança do apoio, diz Timo Kivinen, Comandante das Forças Armadas da Finlândia.

A situação da segurança na Europa e em todo o mundo está mudando de uma forma que tem consequências de longo prazo e de longo alcance. A situação tornou-se significativamente diferente quando a Rússia lançou uma invasão em grande escala da Ucrânia.

A invasão mostrou que a Rússia usará a força militar como meio de perseguir seus objetivos políticos,
isso agora é amplamente compreendido no Ocidente. O Ocidente, Estados Unidos, União Européia e OTAN, demonstraram um grau sem precedentes de unidade, determinação e capacidade de reagir à situação que mudou rapidamente.

Até agora, uma das consequências mais significativas da guerra na Ucrânia em termos de política de segurança é a decisão da Finlândia e da Suécia de se candidatarem a membros da OTAN.

A primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin durante encontro com o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg. Helsinque 25 de outubro de 2021.
Foto: Kimmo Brandt

O processo de adesão da Finlândia na OTAN está avançando. Nossos equipamentos e sistemas são compatíveis com a OTAN há muito tempo, e também não há grandes necessidades de mudanças nesse aspecto. Cumprimos exigentes critérios militares.

Uma dissuasão militar suficiente evita guerras

Quando a Guerra Fria terminou, muitos países europeus diminuíram suas capacidades de defesa e se concentraram em operações militares de gerenciamento de crises. A Finlândia não seguiu esse caminho, mantivemos nossas fortes capacidades de defesa nacional.

A guerra lembrou muitos países da importância da defesa nacional. Acredito que a Europa agora entende que as guerras podem ser evitadas mantendo um exército suficiente como meio de dissuasão.

Por razões compreensíveis, o foco principal está agora na guerra na Ucrânia. No entanto, as outras ameaças à segurança não desapareceram. Devem ser mantidos na ordem do dia as Mudanças climáticas, terrorismo e crime, que exigem cooperação internacional para gerenciá-los e preveni-los.

Cooperação da UE em defesa se aprofunda

Como resultado da guerra na Ucrânia, a União Europeia tornou-se um ator mais forte na política externa, segurança e defesa. A UE tem demonstrado uma unidade notável e tem agido sobretudo no exercício do seu poder econômico.
Acredito que os estados membros da UE podem manter sua unidade. A dependência da Rússia já diminuiu significativamente.

A Bússola Estratégica adotada pela UE forneceu um plano de ação ambicioso até 2030 para reforçar a política de segurança e defesa. Devido ao ambiente de segurança mais hostil e incerto, devemos aumentar nossas capacidades operacionais, fortalecer nossa resiliência a crises e aumentar nossos investimentos em recursos de defesa.

Embora a Bússola Estratégica aprofunde a cooperação em defesa na UE, a união não está sendo transformada em uma aliança de defesa. A OTAN continuará a ser uma organização chave para a defesa militar europeia. Em outras palavras, os investimentos em defesa dos países da UE produzem capacidades militares principalmente para uso nacional, mas também reforçam a defesa europeia na perspetiva da OTAN.

O possível aumento da UE é uma questão política. O tempo dirá como a guerra em curso influenciará nisso. Qualquer Estado europeu que cumpra os princípios de liberdade, democracia, direitos humanos e estado de direito pode se candidatar sua adesão na UE. O processo depende dos progressos e méritos do próprio país.

A Finlândia é um produtor, ao invés de só consumidor de Defesa

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As capacidades de defesa procuram impedir o uso de força militar e ameaças de seu uso contra a Finlândia e repelir ataques, se necessário. As capacidades de dissuasão baseiam-se no desempenho militar suficiente, na vontade de defender o país e na capacidade da sociedade de aproveitar todos os recursos para apoiar a implementação da defesa.

Para prevenir e combater ameaças, precisamos de sistemas de ponta e de uma grande força de reserva baseada em recrutamento.

Como membro da OTAN, a Finlândia terá capacidades de dissuasão e prevenção militar decisivamente maiores. Com a Finlândia e a Suécia como membros da OTAN, a defesa de todos os países do norte da Europa será construída sobre a mesma base. A defesa desta região será fortalecida e aprofundada. Com a nossa filiação, vão abrir novas oportunidades de cooperação.

A Finlândia decidiu fortalecer suas capacidades de defesa devido à guerra na Ucrânia. A situação mostrou que a preparação que leva em consideração a segurança geral da Finlândia e as medidas tomadas pelas Forças de Defesa para se engajar no desenvolvimento sistemático de longo prazo foram importantes. Em relação ao tamanho do país, as Forças de Defesa finlandesas são muito robustas e, em comparação internacional, os finlandeses têm uma vontade muito grande de defender seu país. Fizemos as escolhas certas para manter e desenvolver nossas capacidades de defesa.

Apesar do pedido de adesão a OTAN, a Finlândia continuará a deter a principal responsabilidade pela defesa do país. A adesão não elimina a necessidade de nossas próprias fortes capacidades de defesa.

A indústria de defesa é um elemento importante

A defesa eficaz depende da prontidão do material. As capacidades e a cooperação da indústria de defesa europeia são um aspecto fundamental do desenvolvimento e manutenção do desempenho militar. Como demonstrou a prolongada guerra na Ucrânia, a capacidade de se engajar na guerra também depende da capacidade da indústria de aumentar a produção em situações de crise.

Por esta razão, é importante que os países ocidentais possam manter uma indústria de defesa grande o suficiente para apoiar suas forças de defesa tanto na entrega de material quanto na manutenção. Este é um elemento importante da segurança do suporte.

Os países europeus estão agora investindo substancialmente no desenvolvimento das capacidades das suas forças armadas. Ao mesmo tempo, é importante apoiar a Ucrânia com material de defesa. Naturalmente, o desafio é saber se a indústria tem capacidade suficiente para atender ao aumento significativo da demanda.

Uma indústria de defesa em rede tem maior tolerância a crises do que um arranjo centralizado. Ao trabalharmos juntos, aumentaremos a resiliência à crise europeia e nacional.

FONTE: Revista Patria
FOTOS: Ilustrativas/Forças de Defesa da Finlândia

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