Estados Unidos, Chile e Brasil aliviam a carga de seus soldados com nova tecnologia

Com a abertura de um novo escritório no Brasil e a expansão de desenvolvimentos de projetos com universidades e o Exército do Chile, o Comando de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia do Exército dos EUA estabelece uma forte presença na América do Sul.

O General-de-Brigada do Exército dos EUA Anthony Potts visitou o Instituto Geográfico Militar em Santiago, no Chile. (Foto: Marcos Ommati/Diálogo)

Por Marcos Ommati

O Comando de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia do Exército dos EUA (RDECOM, por sua sigla em inglês) fornece soluções inovadoras para as complexidades das operações atuais e futuras em ambientes militares. O comando trabalha em estreita colaboração com algumas nações parceiras dos EUA para criar, integrar e oferecer soluções tecnológicas para militares em todo o mundo. O General-de-Brigada de Exército dos EUA Anthony Potts, subcomandante geral do RDECOM, falou com a Diálogo durante a cerimônia de abertura do novo centro de tecnologia da instituição em São Paulo, no Brasil, no dia 24 de março, logo depois da sua visita ao Chile para vistoriar projetos em desenvolvimento entre os exércitos do Chile e dos EUA.

Diálogo: Por que o Chile foi escolhido como sede do escritório principal do RDECOM na América do Sul?

General-de-Brigada Anthony Potts: Essa decisão foi tomada no início dos anos 2000. Como vice-comandante geral, provavelmente eu deveria entender as bases analíticas dos fundamentos desta escolha. Porém, acredito que se tratou apenas de uma parceria com a Marinha, que já existia em Santiago do Chile. Como sabe, quando montamos um novo escritório, como o Departamento de Defesa, a melhor maneira, ou o ponto de entrada mais fácil, é quando um dos nossos serviços conjuntos já está estabelecido lá. Assim, tínhamos um serviço conjunto que já estava lá; formamos essa parceria para ajudar a montar esse escritório e eles nos deram uma base na América do Sul. Hoje foi um grande exemplo disso com a abertura do Centro de Tecnologia Internacional aqui no Brasil. Acho que isso nos deu a abertura de que precisávamos para dar os primeiros passos na América do Sul e, agora, podemos começar a aumentar a abrangência.

Diálogo: O senhor passou os últimos dias no Chile. Qual é sua avaliação das forças militares do país em termos de ciência, pesquisa e desenvolvimento?

Gen Brig Potts: Estou bastante impressionado com o Exército do Chile; ele é um grande parceiro e tem uma enorme capacidade. Estamos analisando alguns dos trabalhos que estão planejando e preparando para fazer na África, além de analisar parte da ciência e tecnologia. Especificamente, temos uma parceria com eles envolvendo a intrusão da areia dos desertos na parte norte do Chile com seus tanques; então, temos grande interesse em participar dessa missão, pois temos algumas das mesmas condições com nossos veículos blindados. Apenas não temos o mesmo tipo de grão extremamente fino, uma areia quase como talco, com a intrusão. Estamos acompanhando o Exército do Chile durante seu trabalho conosco, enquanto trabalham com suas munições, e agora estão enviando uma pessoa para Detroit, Michigan, para o Programa de Intercâmbio de Engenheiros e Cientistas para trabalhar com nosso Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia Automotiva de Tanques e vamos descobrir juntos como ajudar nossas frotas de veículos blindados nessas condições. Isso ajuda o Exército do Chile a resolver um problema imediatamente. Eu disse imediatamente, mas, na realidade, na medida em que resolvemos esses problemas e, é claro, como uma nação parceira, no caso de os EUA terem de operar em um ambiente similar a esse, nós nos beneficiaremos dessas tecnologias.

Outro ponto que me impressiona bastante é o do trabalho que estão fazendo no Instituto de Pesquisa e Controles sobre munições: o armazenamento de munições, quanto tempo podem ser armazenadas, como testá-las, como testar as espoletas, como testar os explosivos para garantir que estejam seguros, além da manutenção do armazenamento e extensão da vida útil armazenada, para que possamos maximizar os recursos. É claro, conforme damos suporte e aprendemos com a pesquisa que estão fazendo, os benefícios também se aplicam a nossas instalações de armazenamento de munições nos EUA e em todo o mundo. Estou muito, muito impressionado com o Exército do Chile e com seu uso da ciência.

Diálogo: O processamento de sinais para reconhecimento de fala é um projeto que tanto o Exército quanto a Marinha dos EUA estão trabalhando em conjunto com universidades chilenas. Qual é a relevância dessa pesquisa?

Gen Brig Potts: Com o tempo, as capacidades de nossos cientistas e engenheiros crescem rapidamente. Os desafios que estamos tendo residem na complexidade que acompanha a aplicação de tal capacidade. A melhor maneira de nos comunicarmos é conversando uns com os outros. É melhor se pudermos reconhecer a fala e o estilo de linguagem da outra parte. Assim, podemos ensinar uma máquina como reconhecer nossa fala, para podermos fazer um soldado conversar com uma máquina e essa máquina atua em seu nome, em vez de usar vários botões, muita digitação e muito controle de joystick. Imagine se você pudesse simplesmente dizer à máquina qual operação deseja executar e a máquina puder fazer exatamente isso. Esse tipo de ciência e tecnologia nessa parceria é absolutamente fascinante, graças ao ponto ao qual poderá nos levar no futuro.

Diálogo: Há algum outro projeto em andamento com outras nações parceiras dos EUA?

Gen Brig Potts: Estamos trabalhando com nanotecnologia com umas das universidades aqui no Brasil. A beleza da nanotecnologia está na redução tanto da força quanto do peso. Por exemplo, nossas proteções balísticas (coletes à prova de bala), que os soldados usam em todo o mundo, tendem a ser pesadas, pois, obviamente, foram desenvolvidas para parar o impacto de uma bala. Assim, com a nanotecnologia, imaginamos como torná-las mais leves, com um material mais forte. Podemos então fazer uma de duas coisas: podemos manter o mesmo nível de proteção e reduzir o peso de modo que a carga de nossos soldados seja aliviada, ou, se descobrirmos que há adversários por aí com formas mais letais de atacar nossas tropas, então podemos manter o mesmo peso dos nossos coletes, porém aumentando a capacidade de proteção. Trata-se, na verdade, de proteger nossos soldados, enquanto aliviamos sua carga.

Diálogo: Qual é o relacionamento entre o RDECOM e o Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM, por sua sigla em inglês)?

Gen Brig Potts: O General-de-Brigada Wins é o comandante geral do RDECOM. Uma das suas áreas de foco é tornar o RDECOM operacional. Portanto, em outras palavras, não apenas fazemos ciência e tecnologia pelo bem da ciência e tecnologia. Fazemos isso por uma série de diferentes motivos. Um deles é porque ajuda a estabelecer parcerias com outros países. Podemos formar parcerias, podemos aproveitar, tanto da nossa parte quando da deles, de tecnologias que, de outra forma, poderíamos nunca descobrir ou desenvolver. Depois surgirão as ideias e, como somos uma agência do Departamento de Defesa, estamos buscando essas tecnologias inovadoras que darão a base para o avanço de capacidades que permitam aos nossos soldados, marinheiros e aviadores lutar, se necessário, nas guerras de nossas nações.

Isso nos coloca em um relacionamento direto com nossos Comandantes de Combate e, especialmente neste caso, com o SOUTHCOM, pois temos de entender quais são suas necessidades em questão de capacidades operacionais. Cada uma das nossas regiões tem desafios únicos e diferentes; por exemplo, o RDECOM Américas está claramente focado nas Américas, em especial, na América do Sul, mas temos alguns trabalhos no Canadá. Isso nos permite encontrar esses ambientes exclusivos. Por exemplo, temos as selvas do Brasil. É um ambiente que simplesmente não podemos replicar nos EUA. Temos alguma área de selva no Havaí, mas não apresenta a mesma cobertura da mata, que é um terreno difícil e nos leva a enfrentar desafios exclusivos com as comunicações. Como fazemos para passar por isso? Como fazer com os sensores? Eles têm alguns desafios incríveis de fronteira – pense só na magnitude e no comprimento das fronteiras – e, como uma parceria, podemos encontrar soluções tecnológicas para ajudar potencialmente com a segurança de fronteira. Como fazemos para aperfeiçoar o desempenho dos nossos soldados, tanto brasileiros quanto estadunidenses, em um ambiente de selva? Podemos vir aqui e testar tudo coletivamente e levar de volta aos EUA para encontrar maneiras de purificar a água, por exemplo. Como fazemos isso? Podemos aproveitar os recursos hídricos que estão disponíveis, sem que os soldados tenham que carregar água com eles por longos períodos de tempo. Essa é a ciência e tecnologia que realmente buscamos, que realmente queremos entender. Pode ser tão simples quanto a tecnologia por trás dos uniformes, do quanto podemos reduzir seu peso. Eles são adequados para esse tipo de ambiente de selva extrema? Assim, o SOUTHCOM é um parceiro perfeito para nós.

Diálogo: Gostaria de acrescentar algo para os nossos leitores?

Gen Brig Potts: Estou aqui [na América do Sul] há pouco menos de uma semana, mas estou absolutamente impressionado com as parcerias que temos no Brasil e no Chile. O entusiasmo das parcerias com nossos amigos sul-americanos é algo de que a América do Sul pode se orgulhar, assim como os EUA. Estou muito animado com o que podemos obter com as nossas nações parceiras.

FONTE: Diálogo Américas

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