General brasileiro comanda missão de paz no Congo

O General do Exército Brasileiro Elias Rodrigues Martins Filho lidera quase 17.000 militares na Missão de Estabilização da Organização das Nações Unidas na República Democrática do Congo.

O General-de-Divisão do Exército Brasileiro Elias Rodrigues Martins Filho faz revista à tropa do componente militar da MONUSCO. (Foto: Arquivo pessoal Gen Div Elias)

Por Taciana Moury

O General-de-Divisão do Exército Brasileiro Elias Rodrigues Martins Filho é o novo comandante da força militar da Missão de Estabilização da Organização das Nações Unidas (ONU) na República Democrática do Congo (MONUSCO, em francês). O oficial brasileiro, que assumiu a função no dia 14 de maio de 2018, terá que lidar com os problemas sociais e de conflitos armados de um dos maiores países na África, até maio de 2019.

Em entrevista à Diálogo, o Gen Div Elias revelou que a nova função está sendo a mais desafiadora de sua carreira. “As demandas que tenho que administrar, considerando a qualidade técnica das decisões a serem tomadas, o risco a que estão submetidos os meus subordinados, os olhares e as cobranças da comunidade internacional, os cortes no orçamento, enfim, um rol de elementos, ao mesmo tempo em que exigem dedicação integral, oferecem desafios para a confirmação de minha vocação profissional”, disse.


Componente militar diverso

O Gen Div Elias realizou visitas às áreas de maior conflito na região da MONUSCO. (Foto: Arquivo pessoal Gen Div Elias)

Logo que chegou à República Democrática do Congo (RDC), o Gen Div Elias procurou conhecer o terreno e entender o funcionamento das estruturas da missão. “Visitei as áreas mais remotas, particularmente aquelas onde há tropas desdobradas em regiões de maior concentração de problemas. Ao chegar, deparei-me de imediato com algumas crises que me obrigaram a tomar decisões muito importantes, como o surto de ebola na área oeste do país.”

O oficial lidera quase 17.000 militares oriundos de 49 países. África do Sul, Bangladesh, Gana, Índia, Indonésia, Malaui, Nepal, Paquistão, Tanzânia e Uruguai dispõem de tropas na área da missão e os demais participam por meio de missões individuais. Para o general, a multiplicidade do componente militar da MONUSCO é um benefício adicional da experiência. “A cultura militar é bastante similar em todo o globo. O respeito à hierarquia e à disciplina, a observância de valores e o espírito de cumprimento de missão são características que facilitam significativamente o meu trabalho”, disse.

Além da força militar comandada pelo Gen Div Elias, a MONUSCO atua em coordenação com os componentes civis, liderados por Leila Zerrougui, representante especial do secretário geral da ONU, e policiais, sob o comando do comissário Awalé Abdounasir. A missão é alinhada com o governo da RDC e com representantes da comunidade internacional, em particular membros do Conselho de Segurança da ONU e dos organismos multilaterais da União Africana e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral.

Entre outras atribuições, o general brasileiro é responsável pela proteção da população civil e por combater os grupos armados. “Atualmente, esses grupos têm tido liberdade de ação para planejar, atacar e reorganizar-se, tornando-se fortalecidos a cada nova ação. A melhor forma de neutralizá-los é fazer cessar o apoio da população, impedir o acesso a recursos e suprimentos logísticos (alimento, armas ou munição) e não lhes permitir planejar novos ataques, recrutar novos membros ou reorganizar-se após cada ação”, explicou o Gen Div Elias.

Experiência junto às Nações Unidas

Para assumir a função, o Gen Div Elias estudou as características da MONUSCO, com ênfase na história da RDC, das peculiaridades culturais do povo congolês e das gênesis do conflito. Mas os conhecimentos nas missões da ONU foram acumulados ao longo dos 36 anos de carreira. Ele participou da missão de paz em Angola e trabalhou no Departamento de Operações de Manutenção da Paz das Nações Unidas (DOMP).

“A missão em Angola me cativou pelo trabalho realizado em apoio às populações afetadas por conflitos, amenizando o sofrimento e trazendo esperança para esse povo. Atuei também como conselheiro militar adjunto na missão permanente do Brasil junto às Nações Unidas, permitindo-me conhecer o sistema da ONU, como delegado de um país contribuinte para as operações de paz. No período de 2005 a 2008, fui oficial de planejamento no DOMP”, contou.

Reconhecimento

O Brasil tem se destacado em suas participações em operações de paz, seja com observadores militares, seja com oficiais de Estado-Maior ou com tropas. A função de comandante da força, já ocupada por oficiais generais brasileiros em Moçambique, Angola, Haiti e Congo, atestaram a capacidade técnica e de comando, bem como a liderança dos militares do Brasil. “Para o país e para o Exército Brasileiro, sendo a MONUSCO a missão mais complexa e a maior das Nações Unidas, isso coloca um de seus oficiais generais com destaque no cenário internacional e demonstra o forte compromisso do Brasil com a paz e a segurança internacional”, concluiu o Gen Div Elias.

FONTE: Diálogo Américas


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