Otan afirma que mais de mil militares russos lutam no Leste ucraniano

Soldados ucranianos são vistos perto da vila de Sakhanka, no Leste da Ucrânia - Sergei Grits / AP
Soldados ucranianos são vistos perto da vila de Sakhanka, no Leste da Ucrânia – Sergei Grits / AP

KIEV — O presidente Petro Poroshenko acusou a Rússia nesta quinta-feira de enviar suas forças para a Ucrânia e pediu uma reunião urgente do Conselho de Segurança e Defesa ucraniano para decidir os próximos passos diante da escalada da crise no Leste do país, que deixou 11 civis mortos somente nas últimas 24 horas em bombardeios em Donetsk. Depois que os rebeldes assumiram o controle de territórios de forças governamentais em retirada, as acusações de interferência direta da Rússia aumentaram, levando o Conselho de Segurança da ONU a convocar uma reunião de urgência para discutir o impasse.

Enquanto um líder separatista admitiu a presença de soldados russos nos combates, citando entre três mil e quatro mil militares, a Otan calculou o contingente em mais de mil.

“Eu tomei a decisão de cancelar uma visita de trabalho à República da Turquia em conexão com a rápida deterioração da situação na região de Donetsk, em particular em Amvrosiyivka e Starobesheve, já que tropas russas foram de fato trazidas para a Ucrânia”, afirmou Poroshenko em um comunicado no site presidencial.

O líder rebelde Alexander Zakharchenko disse a uma TV russa que entre três mil e quatro mil russos se uniram às forças separatistas nos combates.

“Muitos ex-oficiais militares de alta patente se ofereceram para se unirem a nós. Eles preferiram não passar as férias na praia, e sim ao lado de seus irmãos lutando pela liberdade de Donbass”, explicou Zakharchenko, primeiro-ministro da autoproclamada República Popular de Donetsk em um comunicado publicado na internet, insistindo que os russos entraram no combate voluntariamente.

A Otan, por sua vez, classificou de “muito preocupante” o fato de que mais de mil soldados russos combatem no leste ucraniano, principalmente na zona de Novoazovsk.

— Muito mais de mil soldados russos combatem atualmente na Ucrânia. Eles dão apoio aos separatistas, lutam junto a eles contra as forças armadas ucranianas — afirmou um dirigente militar da organização, acrescentando que se trata de uma estimativa muito prudente.

Imagens de satélite mostram tropas russas envolvidas em operações militares dentro da Ucrânia, de acordo com a Otan. “As imagens, capturadas no fim de agosto, retratam unidades de artilharia russas em movimento em um comboio pela zona rural da Ucrânia e, em seguida, se preparando para a ação através do estabelecimento de posições de tiro na área de Krasnodon, na Ucrânia”, disse a aliança militar em um comunicado.

O reconhecimento de interferência russa também veio de um próprio membro do Conselho Consultivo de Direitos Humanos do presidente Vladimir Putin. Ella Polyakova afirmou nesta quinta-feira acreditar que a Rússia está invadindo a Ucrânia.

— Quando pessoas em massa, sob ordens dos comandantes, em tanques e com o uso de armas pesadas (estão) no território de outro país, cruzam a fronteira, eu considero isso uma invasão — afirmou Ella à agência Reuters.

FORÇAS RUSSAS CONTROLAM CIDADE ESTRATÉGICA

A Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) anunciou uma reunião extraordinária para esta quinta-feira com o objetivo de analisar as “violações russas na Ucrânia”. O representante da Ucrânia no órgão disse que forças russas haviam tomado a cidade do sudeste de Novoazovsk, mas o seu homólogo russo negou que soldados estejam cruzando a fronteira.

Falando à margem de uma reunião extraordinária da OSCE em Viena, Ihor Prokopchuk disse que foi registrada “uma invasão direta do Exército russo nas regiões orientais da Ucrânia”. Ele acrescentou:

— A cidade de Novoazovsk e uma série de outras cidades próximas foram apreendidas pelas forças russas.

Após várias semanas de ofensiva que permitiram às forças do governo avançar nos principais redutos separatistas, as coisas pareciam mudar para as tropas de Kiev.

Novoazovsk, localizada estrategicamente na estrada que liga a Rússia à Crimeia — anexada por Moscou este ano —, foi alvo de bombardeio durante três dias e caiu na mão dos rebeldes na quarta-feira, em meio a temores de que se abra uma nova frente no conflito. A parte Sudeste da Ucrânia ao longo do Mar de Azov não havia sido palco de lutas anteriormente, que se concentravam em áreas do Norte.

Militares ucranianos admitiram que rebeldes e ocupantes russos assumiram também o controle de Starobesheve, a 30 km ao sudeste de Donetsk, onde as tropas ucranianas se retiraram na quarta-feira.

FRANÇA CLASSIFICA PRESENÇA RUSSA DE INACEITÁVEL

Em seu discurso anual aos embaixadores franceses, o presidente da França, François Hollande, destacou que a presença de soldados russos em território ucraniano, caso confirmada, seria “intolerável e inaceitável”. Os Estados Unidos acusaram a Rússia de atuar diretamente nos combates:

“Um número cada vez maior de tropas russas atuam diretamente nos combates em território ucraniano”, escreveu o embaixador americano em Kiev, Geoffrey Pyatt, no Twitter. “A Rússia também enviou os sistemas de defesa aérea mais recentes”.

O primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, disse que chegou o momento de uma ação da Otan.

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— Esperamos que nossos sócios ocidentais e a aliança proporcionem ajuda prática e tomem decisões cruciais na reunião de 4 de setembro — afirmou.

Moscou negou em várias ocasiões qualquer participação no conflito entre o governo ucraniano e os insurgentes separatistas do Leste, como acusam Kiev e vários países ocidentais.

O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, disse que o Kremlin “não tem interesse em fragmentar a Ucrânia”, mas anunciou o envio de mais comboios de ajuda russa ao território ucraniano em breve.

FONTE: O Globo

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