Putin admite pela primeira vez presença militar russa na Ucrânia

O presidente russo, Vladimir Putin, responde a perguntas de jornalistas em Moscou: 'derrubada de avião pela Turquia foi ato de inimizade' - MAXIM ZMEYEV / REUTERS

Em entrevista coletiva anual, presidente ameaça derrubar aviões turcos que sobrevoarem espaço aéreo sírio.

MOSCOU — O presidente russo, Vladimir Putin, admitiu pela primeira vez a presença de especialistas militares russos no Leste da Ucrânia. Falando a jornalistas russos e estrangeiros em sua grande entrevista coletiva anual, em Moscou, Putin disse ainda que a Rússia está disposta a convencer os separatistas pró-Moscou de que é necessário um acordo a fim de alcançar uma solução política para o conflito na região. E reservou as palavras mais duras para Turquia, cuja relação entre os países estremeceu desde a derrubada de um bombardeiro russo pelas forças turcas na Síria

Perguntado por um repórter ucraniano sobre dois oficiais de inteligência militares russos capturados por Kiev e atualmente em julgamento na Ucrânia, o presidente disse:

— Nós nunca dissemos que não haviam pessoas realizando certas tarefas, incluindo na esfera militar — disse ele.

— Mas isso não significa que haja tropas russas (regulares) lá. Veja a diferença.

Putin também afirmou prever a piora das relações comerciais com a Ucrânia, mas disse que a Rússia não iria impor sanções sobre Kiev relacionadas com o seu acordo comercial com a União Europeia (UE).

Em outro momento da entrevista coletiva, Putin assegurou que a Rússia nunca iria concordar com qualquer força externa decidindo sobre quem deve governar a Síria. Ele voltou a defender uma solução política como a única maneira de resolver o conflito de quase cinco anos e expressou apoio à iniciativa de Washington de preparar uma resolução no Conselho de Segurança da ONU sobre a Síria.

— Acreditamos que somente o povo sírio pode decidir quem deveria governá-los. Nós opoiamos a iniciativa dos Estados Unidos sobre a resolução da ONU — ressaltou o presidente, acrescentando que a atividade militar russa na Síria continuará até que se inicie um processo político.

A grande coletiva de Putin é realizada todos os anos desde 2001, primeiro ano da sua Presidência. Sobre a Turquia, ele afirmou que não vê perspectiva de melhorar as relações com o país após o abatimento do jato russo no mês passado, e ameaçou Ancara de derrubar seus aviões que sobrevoarem o espaço aéreo da Síria, onde a Rússia tem mísseis antiaéreos S-400.

— Se antes a aviação turca voava e violava permanentemente o espaço aéreo da Síria, que voem agora — desafiou Putin na entrevista, transmitida ao vivo pela televisão.

O presidente classificou a derrubada do jato russo como um “ato de inimizade” e disse não entender por que a Turquia fez isso.

— É difícil chegar a um acordo com a atual liderança turca — afirmou. — O que eles conseguiram? Talvez, pensaram que iríamos fugir de lá (Síria)? Mas a Rússia não é um país assim.

Neste ano, cerca de 1.400 jornalistas russos e estrangeiros acompanham a entrevista do presidente russo, realizada no Centro de Comércio Internacional.

RELAÇÃO COM OS EUA

A relação com os Estados Unidos também foi abordada na entrevista. O presidente disse que a Rússia está disposta a para melhorar as relações com Washington e colaborar com seu próximo presidente, seja ele quem for.

Segundo Putin, as suas conversas com o secretário de Estado americano, John Kerry, no início desta semana, mostraram que os Estados Unidos também estão dispostos a “avançarem para a resolução de problemas que só podem ser resolvidos através de esforços conjuntos.”

Ele assegurou que a economia russa mostra sinais de estabilidade apesar da queda nos preços de petróleo.

FONTE: O Globo

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