Rússia e EUA anunciam cessar-fogo na Síria

Cessar fogo na síria

Primeira trégua em 5 anos de guerra entra em vigor em uma semana; Otan intervém em crise migratória

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, anunciou, ontem, um cessar-fogo em toda a Síria no prazo de uma semana, no primeiro acordo deste tipo desde o começo da guerra civil no país, em março de 2011. Em uma entrevista coletiva por volta da 1h (hora local), em Munique, na Alemanha, ao lado do chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, o americano enfatizou que não se trata de pôr fim aos quase cinco anos de conflito, mas que o trato vai permitir “uma pausa” nos combates no país.

– Concordamos com uma suspensão das hostilidades em todo a nação e a ampliação da ajuda humanitária – afirmou Kerry, exortando que sejam retomadas as negociações de paz em Genebra “o mais breve possível”. – Mas isso não significa que a guerra vai acabar num futuro próximo.

Representantes de 17 nações que integram o Grupo Internacional de Apoio à Síria (ISSG) estão reunidos em Munique. O secretário e Lavrov concordaram que o acordo será um “teste real” para ver se todas as partes envolvidas no conflito sírio vão honrar este compromisso. O principal grupo de oposição da Síria saudou o cessar-fogo. Salim al-Mursalat, porta-voz do Alto Comitê de Negociações, órgão designado para representar os rebeldes nas conversas de paz com o governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, advertiu, entretanto, que o acordo deve mostrar efeitos antes de seu grupo se juntar a conversações de paz.

– Se virmos ação e execução, vamos vê-los muito em breve em Genebra – disse al-Mursalat.

Paralelamente, ontem a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) decidiu agir para conter a fuga em massa de refugiados pelo Mar Egeu, uma bacia interior do Mar Mediterrâneo e principal ligação marítima entre Turquia e Grécia. Além de cidadãos sírios, são homens, mulheres e crianças que deixam para trás outros conflitos e pobreza em países do Oriente Médio e da África. Patrulhas navais e aeronaves terão a missão principal de impedir as travessias, a imensa maioria realizada por traficantes de seres humanos: cerca de 3.800 imigrantes no ano passado: mais de um milhão entraram na Europa em 2015.

Neste ano, apesar do rigoroso inverno europeu, mais de 76 mil pessoas já realizaram a travessia desde 1º de janeiro – 2.000 por dia -, segundo a Organização Internacional para Migração: número dez vezes maior na comparação com o mesmo período de 2015. E, nestas primeiras seis semanas, 409 já morreram afogadas. Apenas a Grécia recebeu 70.365 refugiados, enquanto outros 5.898 foram para a Itália. A partir destes países, continuam o caminho até países do Norte da Europa.

Relatório aponta 470 mil mortos na Síria

Pela primeira vez, a Otan vai intervir na crise migratória europeia, em resposta a um pedido feito por Turquia, Grécia e Alemanha. Até agora, a aliança se manteve à margem do problema, alegando não possuir mandato para vigiar as fronteiras e combater os criminosos.

– A Otan vinha focando, principalmente, sobre como abordar as causas profundas, para tentar estabilizar os países de onde muitos dos refugiados são provenientes – afirmou, ontem, o secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg, citando especificamente Afeganistão, Iraque, Tunísia e Jordânia como os países originários dos imigrantes. – A novidade agora é que estamos ampliando e oferecendo diferentes tipos de opções militares, para fornecer ajuda direta às nações.

Uma patrulha naval já foi enviada, e aviões terão missões de Inteligência e vigilância. Ao todo, três navios da Otan estão sendo deslocados para o Mar Egeu. Entretanto, críticos da operação apontam que uma forte presença militar no Mar Egeu poderia encorajar ainda mais as pessoas a tentarem chegar à Europa, pois teriam uma chance maior de não morrerem afogadas.

Ontem, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou a ONU de falta de sinceridade ao pedir à Turquia que ajude mais os refugiados em vez de agir para deter o derramamento de sangue na Síria, pedindo que a organização faça mais para evitar o que chamou de “faxina étnica” na nação vizinha.

– Existe a chance de uma nova onda de 600 mil refugiados se os ataques aéreos continuarem – afirmou Erdogan, ameaçando despachar imigrantes para a Europa, enquanto levanta um muro na fronteira com a Síria: – Mostraremos paciência até certo ponto, e depois faremos o que for necessário. Nossos ônibus e aviões não estão esperando à toa.

Um relatório divulgado pelo Centro Sírio de Pesquisa Política mostra que 11,5% da população síria morreram ou ficaram feridas nestes cinco anos de conflito – cerca de 400 mil mortos em combates e outros 70 mil, devido à falta de itens básicos, como água limpa e remédios. São números bem maiores do que os 250 mil mortos divulgados pela ONU. Ainda segundo o centro, a expectativa de vida caiu no país de 70 anos, em 2010, para 55,4 anos em 2015, enquanto as perdas econômicas estão estimadas em US$ 255 bilhões.

FONTE: O Globo

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