Rússia retoma exercícios militares e eleva tensão às vésperas de referendo na Crimeia

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Sem planos de recuar

As imagens de tanques militares russos e deslocamentos de tropas à fronteira com a Ucrânia rodaram o mundo, na mensagem mais clara de que a Rússia não pretende ceder aos apelos da comunidade internacional.

A três dias do referendo que decidirá a anexação da Península da Crimeia, Moscou iniciou novos exercícios militares em quatro territórios próximos à Ucrânia, além de enviar efetivos à vizinha e aliada Bielorrússia. A retomada das manobras elevou a tensão na região, entre críticas e ameaças dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), que consideram o referendo ilegal.

Os exercícios acontecerão até o final do mês nas províncias de Rostov, Belgorod, Kursk e Tambov. Mais de oito mil militares participam da operação. Outros seis caças de combate e três aviões de transporte militar foram mandados à Bielorrússia. O governo russo alega uma reação à intensificação das missões de reconhecimento da Otan na região.

Mas relatos locais dão conta de que nada parece deter a adesão da Crimeia, cuja maioria da população se declara de origem e identidade russas.

Forças russas controlam pontos estratégicos da península. O primeiro-ministro da Crimeia, Serguei Aksyonov, se autoproclamou “chefe do Exército”, e os moradores só têm acesso aos canais russos de TV, os mesmos que ontem transmitiram as manobras militares na fronteira.

“O principal objetivo é comprovar o estado de preparação das unidades militares e a realização de missões de combate e instrução sobre território desconhecido”, justificou o Ministério da Defesa russo em comunicado. A operação é considerada mais modesta que a comandada na região pela Rússia em fevereiro e no início de março, mas causou inquietação em Kiev.

O presidente interino da Ucrânia, Oleksander Turchinov, alertou que as forças russas estão “prontas para invadir a Rússia a qualquer momento”. O Parlamento ucraniano aprovou a criação de uma Guarda Nacional para reforçar o poderio militar do país. Sob tutela do Ministério do Interior, a força poderia contar com até 60 mil homens provenientes principalmente dos “grupos de autodefesa” que estiveram na frente de batalha contra o presidente Viktor Yanukovich, destituído em fevereiro pelo Parlamento.

O governo interino, embora rejeitado pela Rússia, conta com o respaldo de potências ocidentais. A crise chegou ontem ao Conselho de Segurança da ONU, que submeteu à votação uma resolução de ilegalidade do referendo sobre a Crimeia. A Rússia vetou. Mesmo assim, o premier ucraniano em exercício, Arseniy Yatseniuk, presente ao encontro, disse estar confiante numa resolução pacífica.

— Instamos a Federação Russa a retirar suas bases e as forças militares da Crimeia e iniciar verdadeiras discussões e negociações para resolver este conflito. Não queremos nenhum tipo de agressão militar — apelou. A crise supera os limites da Crimeia. Um homem foi morto ontem por manifestantes prórussos em confrontos em Donetsk, no leste russófono e industrial. Cerca de mil partidários do governo interino protestavam quando foram atacados por militantes pró-Moscou.

MERKEL: ‘SERÁ UMA CATÁSTROFE’

Mais cedo, o secretário de Estado americano, John Kerry, advertiu que os EUA e a UE estão prontos para agir caso o referendo seja realizado.

— Se não houver sinais de disposição para resolver este assunto, haverá severas medidas por parte da Europa e dos EUA — ameaçou Kerry, que deve se encontrar hoje em Londres com seu homólogo russo, Serguei Lavrov. As críticas mais duras vieram da Alemanha, maior parceira comercial da Rússia na Europa e até então reticente a adotar sanções contra o país.

— Se a Rússia continuar nesse caminho, não será uma catástrofe apenas para a Ucrânia. Não só mudaria a relação da União Europeia com a Rússia como causaria grandes danos políticos e econômicos a seu território — alertou Merkel.

O país comandado por Vladimir Putin já enfrenta uma represália: a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) congelou o processo de adesão do país ao grupo, e vai aumentar a cooperação
com a Ucrânia.

FONTE: O Globo

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