Suécia militariza Gotland com os olhos postos na Rússia

Um grupo de soldados faz um treino de rotina numa floresta de Gotland, a maior das ilhas da Suécia. A base militar situa-se no continente. Estes exercícios estendem-se por alguns meses apenas e servem como preparação para o reforço das tropas destacadas aqui. Em breve, haverá cerca de 300 militares mobilizados de forma permanente na Gotland. Há preparativos, aliás, em todo o país para um eventual conflito que não tem nome, embora o espetro da Rússia esteja sempre presente.

“Esta mobilização explica-se pelo contexto instável que se vive no Báltico. Há cada vez mais exercícios militares nesta região. A Suécia está a reforçar a sua capacidade militar e Gotland é uma parte importante desse processo”, explicou o comandante Mattias Ardin.

Esta ilha, de 57 mil habitantes, ocupa uma posição estratégica, em pleno mar Báltico, face a vários países e ao enclave russo de Kaliningrado. O cenário de uma ofensiva por parte de Moscou é considerado altamente improvável. Mas os militares suecos querem estar preparados para qualquer eventualidade. “Temos mísseis de defesa antiaérea. As companhias contam com 4 unidades cada uma, com uma capacidade de alcance que cobre toda a área de Gotland. Podemos enfrentar qualquer tipo de ameaça. Mas é verdade que isso é cada vez mais difícil, dada a diversidade de armamento e tecnologias que existe hoje em dia. O míssil Iskander, por exemplo, pode atingir Gotland disparado de Kaliningrado”, afirma o sargento Henrik Wulff.

“Neste momento, ainda não tenho receio”

Estocolmo aumentou os gastos no setor militar e fechou recentemente um acordo com a OTAN, da qual não faz parte, que prevê a mobilização das tropas da Aliança Atlântica para esta ilha em caso de necessidade.

No próximo mês de setembro, Gotland vai acolher cerca de 20 mil soldados para exercícios militares, aos quais vão se juntar tropas dos Estados Unidos, França, Noruega, Dinamarca e Estônia. Nada que impressione muito Moscou, que por sua vez, organiza simulações na Bielorrússia e em Kaliningrado, com mais de 100 mil soldados.

Durante décadas Gotland foi um ponto nevrálgico na defesa sueca. Em 2005, Estocolmo decidiu desmilitarizá-la, face à evolução do contexto da segurança. As recentes reviravoltas geopolíticas voltaram a motivar a presença de soldados na ilha. Nada que pareça perturbar os habitantes locais. “Acho que é positivo que restabeleçam a capacidade militar aqui da ilha. Não que considere que haja uma ameaça iminente por parte da Rússia. Não acredito que aconteça, não há razão para isso. Mas se acontecer alguma coisa em outra parte do mundo, pode haver um efeito de ‘bola de neve’ que nos afete”, aponta Egil Falke, um morador local.

Outra moradora, Anne Scheffer, realça que “quando se decide reforçar a presença militar, é porque existe a possibilidade de acontecer alguma coisa. É a regra do jogo. Sempre que há uma escalada, há uma resposta. Talvez as coisas mudem mesmo. Mas, neste momento, ainda não diria que tenho receio”.

Procedimentos em caso de conflito

É fato que o Estado sueco solicitou a todas as câmaras municipais o desenvolvimento de programas de defesa civil no âmbito do plano nacional de segurança, no sentido de preparar a população para situações de emergência, incluindo um conflito militar. O responsável do plano de contingência em Gotland é Christer Stolz. “Temos uma lista das coisas que as pessoas devem ter em casa num contexto de crise. Utensílios de cozinha, roupas quentes, fósforos, velas, garrafões de água e comida enlatada para, pelo menos, 3 dias. Há vários cenários diferentes. Pode ser um corte de eletricidade, por exemplo, ou algo que perturbe o funcionamento geral da sociedade. Gotland é uma ilha. Estamos dependentes dos transportes. Se estes forem interrompidos, as pessoas têm de conseguir governar-se durante três ou mais dias”, afirma.

A Suécia lançou também um vasto programa de reabilitação de abrigos antiaéreos que datam da Guerra Fria. Ao todo, há cerca de 65 mil em todo o país, a maior proporção por habitante em nível mundial.

A missão de André Samuelson é apurar o estado em que se encontram os 350 abrigos listados em Gotland. “As pessoas usam-nos para arrumação. O meu trabalho é verificar se foram feitas modificações ao longo dos anos. Tenho de ver se as paredes e o interior estão em conformidade, se há danos. Um abrigo deve estar pronto para ser usado no espaço de 48 horas. Este, por exemplo, deve conseguir acolher 120 pessoas. É possível jogar fora tudo o que está aqui”, explica.

FONTE: Euronews

FOTOS: Ilustrativas

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