Turquia aprova ataques contra jihadistas

Parlamento dá aval a incursão de tropas na Síria e no Iraque e a uso de instalações militares por aliados

O Parlamento da Turquia aprovou ontem a solicitação feita pelo governo do país no começo da semana para realizar operações contra o Estado Islâmico (EI), tanto na Síria quanto no Iraque, abrindo caminho para que o país seja o primeiro a enviar tropas terrestres para combater os jihadistas.

A autorização também permite que os países integrantes da coalizão internacional contra os jihadistas possam usar bases militares turcas. O governo turco informou, porém, ainda não ter decidido como exatamente utilizará o poder concedido pelos parlamentares.

Em Ancara, 298 dos 550 deputados do Parlamento turco votaram a favor da proposta do governo. Logo após a votação, o primeiro- ministro Ahmet Davutoglu convocou uma reunião para definir a participação na coalizão liderada pelos Estados Unidos. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, no entanto, insiste que somente ataques aéreos não irão conter a ameaça dos extremistas, e repetiu nos últimos dias que o país estava disposto a fazer “o que fosse necessário” para combater os jihadistas. Para o presidente, os atuais bombardeios da coalizão são “uma solução temporária” e é necessária a criação de uma zona- tampão no Norte da Síria destinada a proteger os refugiados sírios e o território turco.

Ao mesmo tempo, Erdogan lembrou que a queda do regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, é uma das prioridades dele. Entretanto, o governo turco está relutante em tomar medidas que possam fortalecer combatentes curdos aliados ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), grupo militante que lutou contra o Estado turco durante três décadas. Hoje, os dois lados estão em frágeis conversações de paz.

BOMBARDEIOS NÃO DETÊM ESTADO ISLÂMICO

Enquanto a votação na Turquia era realizada, os extremistas do EI se aproximavam da cidade síria de Kobani. Grande parte dos 160 mil habitantes de maioria curda que lá viviam já fugiu para a Turquia.

— O Estado Islâmico se desloca até Kobani a partir das frentes sudeste e oeste, onde os combatentes das Unidades de Proteção do Povo (YPG, principal milícia curda) se retiraram — disse o diretor do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, Rami Abdel Rahman. — Há dúvidas se os soldados curdos conseguirão resistir, já que o EI utiliza tanques e armas pesadas.

O avanço dos jihadistas ocorre apesar dos bombardeios da coalizão internacional contra posições do EI na região, para impedir que cheguem a Kobani. Os confrontos na área já duram duas semanas. Segundo Rahman, há um grande temor de que o EI possa, muito em breve, tomar a cidade, já que os combatentes curdos são inferiores em número e armamento. Se Kobani cair, os jihadistas vão controlar uma longa faixa territorial contínua no Norte da Síria, na fronteira com a Turquia.

Já no Iraque, o EI lançou uma grande ofensiva conta a cidade de Hit, na província de Anbar, no Oeste do país. Pelo menos 17 membros das forças de segurança e 40 jihadistas foram mortos em dois ataques dos jihadistas contra bases do Exército e da polícia, informaram fontes de segurança e médicas. A sede da polícia em Hit foi atacada, e 11 policiais morreram no confronto. Outro alvo foi a base militar de Ramadi, capital de Anbar, onde seis soldados foram mortos.

— Cerca de 90% de Hit foram invadidos pelos militantes — afirmou Adnan al-Fahdawi, membro do conselho regional de Anbar, acrescentando que os rebeldes estavam mais bem armados do que as forças de segurança locais.
Testemunhas relataram que os rebeldes levantaram bandeiras negras jihadistas em prédios do governo. Hit é uma cidade murada 130 quilômetros a oeste de Bagdá. A maior parte das cidades de Anbar já foi tomada pelo EI.

QUASE DEZ MIL MORTOS

O feroz avanço dos extremistas na Síria e no Iraque já deixou 9.347 civis mortos — destes cerca de 5.500 em território iraquiano — e 17.386 feridos. Os números constam de um relatório divulgado ontem pela ONU. Além disso, a entidade afirma que o EI fez execuções em massa, raptou mulheres e meninas, que foram feitas escravas sexuais, e usaram crianças como soldados.

— A gama de violações e abusos perpetrados pelo Estado Islâmico, e grupos armados associados,é estarrecedora, e muitos de seus atos podem equivaler a crimes de guerra ou contra a humanidade — afirmou o novo alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, o jordaniano Zeid Ra’ad al-Hussein, primeiro muçulmano a ocupar o cargo.

O levantamento, baseado em 500 entrevistas com testemunhas, também expressa profunda preocupação com as violações cometidas pelo governo iraquiano e pelos combatentes aliados, incluindo ofensivas aéreas que podem não ter feito distinção entre alvos militares e áreas civis.

Longe dos conflitos, no Vaticano, o Papa Francisco começou uma reunião de três dias com embaixadores da Santa Sé no Oriente Médio para encontrar formas de proteger os cristãos da região, alvos do EI, mortos ou forçados a fugir dos seus lares. O Papa afirmou que “nenhuma razão religiosa, política ou econômica pode justificar a perseguição diária sofrida por centenas de milhares de homens, mulheres e crianças inocentes” na Síria e no Iraque.

FONTE: O Globo

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