Um ano de provocações entre Trump e “Homem-Foguete”

Mais de 20 mísseis, um teste nuclear e guerra verbal entre líder da Coreia do Norte e presidente dos EUA marcaram o noticiário em 2017, com termos como “fogo e fúria” e “mentalmente perturbado” nas manchetes.

O diálogo em vez de provocações para resolver a crise da Coreia do Norte era o que muitos esperavam antes de Donald Trump assumir a presidência dos Estados Unidos. A esperança era que a presença de Trump na Casa Branca impulsionasse a busca por uma solução para o conflito, que colocou o regime isolado em Pyongyang contra grande parte do resto do mundo. Afinal de contas, Trump havia dito durante a campanha eleitoral que conseguia vislumbrar até mesmo um encontro cara a cara com o líder norte-coreano, Kim Jong-un.

No entanto, logo essas esperanças se esvaneceram. Antes mesmo de Trump se instalar no Salão Oval, ele deu ao mundo um gostinho do que estava por vir ao longo deste ano. Em 3 de janeiro, tuitou: “A Coreia do Norte acaba de afirmar que está nos últimos estágios de desenvolvimento de uma arma nuclear capaz de atingir partes dos EUA. Isso não vai acontecer!”

Pyongyang, no entanto, não se deixou impressionar por tais alertas de Trump. Em fevereiro, lançou um míssil, marcando o início de uma série de testes do tipo. No total, o país lançou mais de 20 mísseis, incluindo três intercontinentais, e conduziu seu sexto teste nuclear em 2017. Os norte-coreanos nunca tinham conduzido tantos exercícios em um ano. A mídia estatal anunciou no fim de novembro que a Coreia do Norte havia concluído seu programa nuclear com sucesso.

“A liderança norte-coreana ficará contente com seu desempenho neste ano, já que conseguiu alcançar um objetivo estratégico que buscava há décadas”, afirma o analista Eric Ballbach, do Instituto de Estudos Coreanos da Universidade Livre de Berlim.

Guerra verbal

O ano de 2017 foi marcado por uma batalha verbal intensa entre os EUA e a liderança norte-coreana. Pyongyang já era amplamente conhecida por sua retórica de guerra, tendo como alvos preferenciais a Coreia do Sul e os EUA. A novidade é o presidente americano responder no mesmo tom.

Quando, por exemplo, o país asiático afirmou, em 4 de julho, Dia da Independência dos EUA, que havia testado um míssil intercontinental com sucesso, Trump escreveu no Twitter: “A Coreia do Norte acaba de lançar mais um míssil. Esse cara não tem nada melhor para fazer na vida?” Em resposta, Kim provocou Trump, dizendo que o teste era um presente para os “bastardos americanos” em seu Dia da Independência.

Após o segundo de um teste míssil intercontinental norte-coreano, no fim de julho, Trump ameaçou indiretamente usar força militar, afirmando que se Pyongyang seguisse adiante com as provocações, eles seriam confrontados com “fogo e fúria como o mundo nunca viu”.

A Coreia do Norte reagiu afirmando que não seria possível um diálogo com Trump. Além disso, ameaçou lançar mísseis em direção à ilha de Guam, território americano no Oceano Pacífico, onde estão estacionados milhares de soldados dos EUA.

Provocações se acirram

A guerra verbal se intensificou em setembro. Em seu primeiro discurso na Assembleia Geral da ONU, Trump escolheu palavras dramáticas, afirmando que o “pequeno Homem-Foguete” estava numa “missão suicida”. Em seguida ameaçou “destruir totalmente” a Coreia do Norte, caso ela não cedesse. Kim respondeu dois dias depois, chamando Trump de “mentalmente perturbado” e prometendo “amansá-lo” com fogo.

Para Ballbach, a Coreia do Norte vê essa retórica truculenta ao mesmo tempo como uma afronta e uma bênção. “Por um lado, ataques pessoais contra a liderança de qualquer país autoritário são definitivamente desaconselháveis. Por outro, essa retórica dá aos norte-coreanos exatamente o que eles querem.”

O especialista destaca que até mesmo um país autoritário como a Coreia do Norte precisa convencer sua própria população da legitimidade e da necessidade de um custoso programa nuclear, o que “requer uma ameaça genuína vinda de fora”. Além disso, o fato de não haver conversas oficiais entre ambos os lados acarreta riscos, uma vez que aumenta a probabilidade de um erro de cálculo, observa.

“Em 2017, tivemos os maiores exercícios militares conjuntos de todos os tempos reunindo os EUA e a Coreia do Sul, assim como o maior número de testes de mísseis norte-coreanos. Considerando que quase não há mais canais de comunicação abertos, a situação poderia facilmente levar a interpretações errôneas, que podem resultar num confronto militar”, adverte Ballbach.

O dilema coreano

Apesar de tudo, observadores acreditam que o momento atual representa uma oportunidade para se iniciar uma nova rodada de conversas.

“Ironicamente, a situação atual oferece uma boa chance para ambos os lados estabelecerem conversações. Além disso, o fato de os norte-coreanos enfatizarem que concluíram com sucesso seu programa nuclear permite que eles se abstenham de realizar novos testes num futuro próximo”, avalia Ballbach.

Enquanto isso, a Coreia do Sul espera que a situação na região permaneça calma nos próximos meses. Em fevereiro, o país sediará os Jogos Olímpicos de Inverno de 2018, e quer evitar distúrbios que possam atrapalhar o evento. Qualquer míssil ou teste nuclear norte-coreano nesse período deve ser visto como provocação máxima.

FONTE: DW
FOTOS: Ilustrativas

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