Washington vê chineses como risco a aliados e ciberameaça

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Por Raul Juste Lores

Ao testar limites, rivais unem vizinhos aos EUA

O mais recente capítulo da rixa americana com os chineses se deu no terreno virtual: Washington suspeita que hackers da China estejam por trás do ataque cibernético que roubou dados pessoais de 4 milhões de funcionários públicos federais americanos, divulgado na semana que passou.

A Chancelaria chinesa já negou envolvimento e ainda provocou, ao dizer que acusações desse tipo são “irresponsáveis e sem fundamento científico”.

Fora do campo digital, a principal troca de acusações entre as duas superpotências tem sido motivada pela disputa dos limites no mar do Sul da China.

No fim de maio, os EUA pediram à China que freasse a criação de ilhotas artificiais com armamento militar na região, em águas disputadas por vários outros países, que são aliados americanos.

O maior confronto recente aconteceu em 20 de maio, quando um avião-espião americano sobrevoou a área e foi “alertado” pelas autoridades chinesas que deveria se afastar.

No áudio divulgado pelo governo americano, um oficial chinês diz “esta é a Marinha chinesa, este é céu chinês”, perto das ilhas artificiais. “Você está se aproximando de nossa zona militar de alerta. Por favor, vá embora imediatamente para evitar um mau julgamento.”

O oficial americano respondeu que era um militar dos EUA “conduzindo atividades militares legais fora do espaço aéreo de qualquer país, sob a lei internacional”.

O Departamento de Estado americano rejeitou a solicitação chinesa de que aviões espiões dos EUA deixassem de sobrevoar o mar do Sul da China.

Quase metade do comércio marítimo mundial passa por essa região. Boa parte da segurança energética e alimentar da China, do Japão e da Coreia do Sul depende dessa área disputada.

Aliança Defensiva

O secretário de Defesa dos EUA, Ashton Carter, já visitou a área duas vezes desde abril. Em Cingapura, ele ainda disse que “as atitudes da China estão unindo os países da região em várias maneiras”.

Em julho, por exemplo, o Japão participará pela primeira vez de exercícios militares organizados pelos EUA e Austrália.

“É um paradoxo para a China que, quanto mais forte e assertiva fica, mais seus vizinhos vão procurar obter alianças mais fortes com os EUA como contrapeso”, afirmou à Folha Robert Evan Ellis, professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Escola de Guerra do Exército dos EUA.

“Alguns vão tentar acomodar a China ao mesmo tempo”, diz. Para ele, Pequim se sente “encurralado” pela geografia e quer “dominar o espaço aéreo e marítimo ao seu redor”.

No início deste ano, um longo relatório feito pelo Council on Foreign Relations, um dos mais importantes centros de estudos americanos, indicou que a China “representa e continuará a ser o mais significativo concorrente dos EUA nas próximas décadas”. “A necessidade de uma resposta mais coerente dos EUA ao poder emergente da China está atrasada.”

“Os dois lados não têm interesse em uma escalada do conflito nem da retórica”, disse à Folha um diplomata americano sob a condição de não ter o nome revelado. “Os chineses estão testando as águas, checando o quanto podem fazer sem serem punidos”, afirmou.

FONTE: Folha de São Paulo

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