ZAPAD – Testes militares russos às portas da OTAN

A Rússia deu início hoje a uma importante série de exercícios militares no extremo ocidental de seu território e na vizinha Belarus, na fronteira com a Polônia e a ex-república soviética da Lituânia, ambas sob influência de Moscou durante a Guerra Fria, mas hoje integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN, aliança militar ocidental, liderada pelos Estados Unidos).

As manobras Zapad (“ocidente”, em russo), que se estenderão até o dia 24, são apresentadas pelo Kremlin como “puramente defensivas” e oficialmente mobilizam 12.700 efetivos, embora oficiais da OTAN e os governos vizinhos acreditem que o contingente envolvido seja substancialmente maior, há cerca de um mês, foi mencionado um total próximo a 100 mil soldados, além de tanques, helicópteros e aviões.

No comunicado que anunciou o início das manobras, o Ministério da Defesa russo enfatizou que a operação “tem um caráter puramente defensivo e não se dirige contra nenhum país em particular”. De acordo com a nota, os exercícios simulam o enfrentamento contra “grupos terroristas” infiltrados em Belarus e em Kaliningrado, enclave russo à margem do Mar Báltico, a partir de três países imaginários que, na visão de analistas militares ocidentais, poderiam ser associados à Lituânia e às vizinhas Letônia e Estônia, também ex-integrantes da extinta União Soviética.

O exército russo organiza anualmente, neste período, importantes manobras em uma região fora da Rússia. Neste ano, elas coincidem com exercícios que mobilizam 19 mil militares dos EUA na Ucrânia e na Suécia, às portas da fronteira ocidental russa.

O nome de batismo Zapad, reabilitado recentemente pelo presidente Vladimir Putin, foi usado nas décadas da Guerra Fria (1949-1989) pelo Kremlin e pelos aliados do antigo bloco socialista do Leste Europeu, agrupados no Pacto de Varsóvia, para operações de treinamento realizadas nos limites da fronteira com a OTAN.

Polônia, Ucrânia e os países bálticos vêm manifestando insistentemente sua inquietação com os movimentos militares da Rússia na região desde 2014, em especial, quando Putin determinou a anexação da península ucraniana da Crimeia como desdobramento do apoio do Kremlin a separatistas que controlam uma faixa oriental da Ucrânia. Em resposta, a OTAN reforçou o contingente em sua fronteira oriental, agora com 4 mil combatentes, e acelera a formação de uma força de pronta intervenção para dar cobertura militar aos aliados.

O secretário-geral da aliança ocidental, Jens Stoltenberg, assegurou que não vê ameaça iminente a algum país membro do bloco, embora tenha lamentado a “falta de transparência” que cerca a operação. Entre outras suspeitas, mencionou a ausência de convite para que emissários de outros países acompanhem os exercícios, uma praxe observada desde a Guerra Fria. “A Rússia é capaz de manipular as cifras com grande naturalidade, por isso não quer observadores estrangeiros”, concorda o estudioso de assuntos militares Alexandre Golts, citado pela agência de notícias France-Presse.

“Mas o contingente de 12.700 soldados mencionado nas manobras estratégicas é ridículo.”

A consultoria IHS Jane’s, especializada em assuntos de defesa, avalia em 80 mil a 100 mil os efetivos mobilizados por Moscou para as manobras Zapad 2017. Os exercícios envolvem não apenas militares, mas também membros dos serviços de inteligência, da Guarda Nacional e dos serviços de emergência. O governo de Vladimir Putin reivindica o direito do país a realizar exercícios militares em seu território e justifica a decisão lembrando que a OTAN voltou a ampliar presença na fronteira ocidental da Rússia.

FONTE: Correio Brasiliense

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