Portugal rumo à Marinha do Futuro?

Por Luiza Guitarrari

As capacidades navais portuguesas são, historicamente, inovadoras. Voltado para o mar desde o século XV, com uma área marítima 18 vezes superior à área terrestre, Portugal mantém seu equilíbrio geopolítico a partir da interconexão entre Atlântico Norte e Europa. Nesse sentido, é acrescida à Marinha Portuguesa a responsabilidade de salvaguardar não somente a soberania e os interesses de Lisboa, mas de uma porção significativa do espaço euro-atlântico, comum aos Estados-membros da OTAN.

Desse modo, o que esperar da Marinha Portuguesa em relação à modernização tecnológica para atingir esses fins?

Segundo estimativas da OTAN para 2022, Portugal deve destinar 1,44% do seu PIB à Defesa. Dentre os gastos, espera-se que seu Ministério da Defesa opte pela estratégia da “robotização” dentro da Marinha, que preze, segundo o Almirante Gouveia e Melo, Chefe do Estado Maior da Armada portuguesa (CEMA), pela operacionalização de “novas tecnologias, inteligência artificial (…) e uso de drones”.

Assim, no final do mês de maio foi divulgado pela Marinha Portuguesa o projeto de construção de um navio multipropósito a ser entregue até 2025. A embarcação irá agregar um conjunto de sistemas autônomos, bem como drones e sistemas digitais, como Big Data.

Em 19 de julho, foi apresentada em Troia a primeira Zona Livre Tecnológica (ZLT), denominada Infante D. Henrique. Abrangendo uma área de 2.600 km², a ZLT é iniciativa da Marinha Portuguesa a ser monitorada pelo Centro de Experimentação Operacional da Marinha (CEOM). Em consonância com o Plano de Ação para a Transição digital, a ZLT pretende testar em ambientes reais (ou quase-reais) o uso de novas tecnologias como sensores e inteligência artificial no meio marítimo. Devido às características geográficas de Troia, também será possível a instalação de uma plataforma multipropósito, para o estudo do mar profundo, além de preparar sistemas de defesa não tripulados.

A nova instalação segue as diretrizes da OTAN acordadas na Cimeira de Bruxelas (2018) quanto à inovação tecnológica no mar. Assim, sob a égide do Defence Innovation Accelerator for the North Atlantic (DIANA), que ambiciona o desenvolvimento por soluções tecnológicas emergentes e inovadoras, Portugal deverá receber dois centros de inovação em Defesa da OTAN até 2023. A instalação do Test Center se dará em Troia junto ao CEOM, aumentando, portanto, a interoperabilidade interagências a nível internacional.

Por fim, as futuras instalações e suas capacidades agregadas auxiliarão na construção de uma Marinha portuguesa tecnologicamente avançada e preparada para enfrentar os desafios que se desenrolam no espaço euro-atlântico.

FONTE: Boletim GeoCorrente

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