Marinha do Brasil incentiva participação de mulheres em missões de paz

Capitã de Corveta Marcia Andrade Braga foi agraciada com o Prêmio de Defensora Militar da Igualdade de Gênero das Nações Unidas



Por Andrea Lemos

Desde 1947, o Brasil participa de operações junto à Organização das Nações Unidas (ONU), visando colaborar para a solução pacífica de conflitos em diferentes territórios. Segundo um relatório de 28 de fevereiro da participação das mulheres nas missões de paz da ONU, Brasil contribuiu com um total de 275 militares, policiais, expertos da missão e oficiais do Estado Maior nas 21 missões no mundo. Desse total, oito (2.9 por cento) eram mulheres. Até 2020, a meta é que esse número de mulheres se multiplique, para que a participação feminina corresponda a 15 por cento do efetivo brasileiro.

O segundo Estágio de Operações de Paz para Mulheres contou com a participação de 30 mulheres dos meios militar, policial e civil. (Foto: Marinha do Brasil)

O desafio não é só do Brasil. “A resolução nº 2242/2015 do Conselho de Segurança da ONU estabeleceu metas quantitativas aos países contribuintes com efetivos militares e policiais. E esse clamor pelo aumento da participação feminina tem razões que vão muito além da questão da representatividade”, contou o Capitão de Fragata da Marinha do Brasil (MB) Adler Cardoso Ferreira, encarregado da Escola de Operações de Paz de Caráter Naval da MB. A unidade de ensino do Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo criou o Estágio de Operações de Paz para Mulheres, em parceria com o Centro de Informação da ONU para o Brasil.

“A presença da mulher nas missões de paz é fundamental. Eu posso citar alguns motivos que têm a ver, por exemplo, com uma habilidade mais adequada para conduzir atividades de combate à violência de gênero ou ainda o fato de facilitar a aproximação com culturas que valorizam o papel feminino dentro de certas tarefas sociais”, explicou o CF Adler. Com isso, o intuito do estágio é não só atrair voluntárias para as missões, como também qualificar a participação dessas mulheres, para que possam vir a ocupar postos de liderança, reforçar o empoderamento feminino e contribuir para a não violência contra a mulher. 

Preparação

A primeira edição do Estágio de Operações de Paz para Mulheres ocorreu em dezembro de 2018. Os resultados positivos da iniciativa levaram à organização da segunda edição, realizada entre 13 e 22 de março de 2019, com a participação de 30 mulheres. Nesse grupo, 21 eram oficiais da MB, duas eram do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro e sete acadêmicas civis.

As alunas do primeiro Estágio de Operações de Paz para Mulheres participaram de uma oficina sobre o deslocamento em terreno minado, por meio de viatura blindada. (Foto: Marinha do Brasil)

As atividades do curso concentram-se principalmente em apresentar às alunas o guia de materiais básicos de treinamento pré-destacamento. O documento reúne o conhecimento essencial exigido para todo o pessoal que trabalha em operações de manutenção da paz, sejam militares, policiais ou civis.

A Tenente-Coronel da Força Aérea Brasileira (FAB) Priscila Maria Frank Braz Guimarães vinha estudando online o material disponibilizado pela ONU há algum tempo, até que se deparou com a oportunidade do estágio. “Foi muito interessante, principalmente por conta das atividades práticas que fizemos”, comentou a oficial, que atualmente é aluna da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica. Nessas atividades, as alunas treinaram situações que podem ser comuns no dia a dia de uma missão.

“Aprendemos a identificar possíveis minas e restos de explosivos, vimos como nos comportar nesse terreno e como nos deslocar a pé e por meio de viatura blindada”, lembrou a Ten Cel Priscila. As alunas também vivenciaram a oficina de observação militar, em que se simulou a passagem de uma tropa armada, a fim de que reportassem o ocorrido. Passaram ainda por uma oficina de familiarização com armamentos, já que a presença desses equipamentos em regiões de conflito é frequente e a maioria das participantes do estágio não lida com armas em suas funções diárias.

Tenente Gizelly em patrulha no município de Cité Soleil

Desde 2016, a Ten Cel Priscila compõe um banco de voluntários da FAB para participação em operações de manutenção da paz. Agora que o aumento do efetivo feminino é uma prioridade, cresce também a sua ansiedade por receber o chamamento da ONU. “Acho que será uma experiência para toda a vida, porque acredito que, como militar, posso carregar a bandeira do meu país dentro de uma missão e contribuir para a melhoria das condições de vida de outro povo”, afirmou.

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A vontade de ajudar pessoas é também o que move a Capitão de Fragata do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) Carla Araújo, que participou do primeiro Estágio de Operações de Paz para Mulheres. A oficial está prestes a realizar esse sonho. No final de abril, a CF Carla fará parte da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização na República Centro-Africana.

Atuando como dentista dentro do CFN há cerca de 15 anos, a oficial se acostumou a ouvir histórias de militares que viajavam para servir em operações de paz. “Aqui, às vezes, eu sinto como se eu não estivesse fazendo a diferença, não estivesse fazendo tudo o que posso fazer para construir um mundo melhor. Foi isso que pesou para que eu me candidatasse a uma vaga em uma missão de paz”, contou a CF Carla, que vai assumir a função de conselheira de gênero, por meio da qual terá a responsabilidade de observar e relatar questões relacionadas a mulheres dentro das áreas de conflito.

FONTE: Revista Diálogo Américas



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