A estratégia dos EUA para o Indo-Pacífico como instrumento político para a América do Sul

Por Guilherme Novaes e Iasmin Gabriele Nascimento

A região do Indo-Pacífico tem sido palco da disputa geopolítica entre os Estados Unidos da América (EUA) e a China. Nesse sentido, os Fuzileiros Navais dos EUA promoveram virtualmente, em 19 de maio de 2021, o sexto Simpósio de Líderes Anfíbios do Pacífico (PALS, sigla em inglês), evento anual que reúne líderes militares de países da região ou que tenham interesse nela.

Brasil, Chile, Colômbia, Equador e Peru participaram do evento, além de outros vinte países. Na ocasião, foram discutidos temas pertinentes para a defesa dos países envolvidos. Assim, questiona-se: qual seria a relevância do evento para a geoestratégia estadunidense em relação à América do Sul?

O PALS-21 teve como um de seus objetivos desenvolver relações bilaterais ou multilaterais com as nações amigas envolvidas, além de dialogar sobre aspectos marítimos, desenvolver respostas contra ameaças não convencionais e expandir a interoperabilidade e operações conjuntas. A grande estratégia dos EUA para o Indo-Pacífico é vista com preocupação pelos chineses, que temem uma eventual ameaça a seus interesses na região. A intensificação de laços estadunidenses com a Índia é considerada estratégica para que o país atue como um “contrapeso” na região, além da aliança QUAD, com o mesmo objetivo de minar a influência de Pequim.

O coronel do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, Michael McWilliams, ressaltou a importância da participação de países sul-americanos no evento, porque ajudaria a ampliar os laços de cooperação regional, impulsionando uma visão estratégica conjunta. Nesse sentido, há um grande interesse por parte dos países dessa região em garantir a segurança marítima regional, tendo em vista, por exemplo, casos de pesca ilegal que são comuns em suas águas jurisdicionais.

Além disso, algumas Marinhas regionais, por serem dotadas de capacidade anfíbia relevante, podem ser importantes aliados estratégicos dos EUA no Indo-Pacífico. De acordo com o major americano Thomas Perna, a Marinha do Chile tem uma importante capacidade de projeção de poder no Pacífico. O Peru, por sua vez, possui uma Marinha capacitada, e será o anfitrião da operação UNITAS 2021, devendo exercer a posição de comandante da Força Tarefa Conjunta no exercício.

Desse modo, frear a expansão chinesa na América do Sul, mesmo a partir de arranjos coletivos de defesa no Indo-Pacífico com atores regionais, faz parte da grande estratégia dos EUA. A promoção de eventos do porte do PALS-21 é relevante para o estreitamento de laços, de modo a restringir a influência de Pequim no tabuleiro geopolítico sul-americano.

FONTE: Boletim GeoCorrente

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