Análise do teste do míssil hipersônico Tsirkon no Mar de Barents

Por Pérsio Glória

O conflito na Ucrânia acentuou alguns processos em setores importantes para a segurança internacional, como a questão da estabilidade estratégica e o equilíbrio de poder entre atores relevantes no sistema internacional. Nesse contexto, como o teste do míssil hipersônico Tsirkon se relaciona com alguns processos transformativos na
geopolítica e nas tecnologias estratégicas atuais?

A fragata Admiral Gorshkov, da Marinha Russa, realizou um novo teste com o míssil hipersônico 3M22-Tsirkon no Mar de Barents em 28 de maio de 2022. As autoridades russas afirmam que o míssil é capaz de voar a velocidades Mach 9 e atingir alvos terrestres ou navais a uma distância de até 1.000 quilômetros. Além de indicativos da capacidade russa para o pleno emprego da arma, o teste e a região onde foi realizado são tanto uma demonstração de força russa como uma preparação para transformações vindouras nos contextos geopolíticos e tecnológicos.

O Tsirkon faz parte da nova geração de armamentos russos de alta tecnologia, que ainda não têm análogos em outros países. O míssil já foi testado a partir de um submarino, bem como testes de lançadores terrestres estão programados. Além da capacidade de carregar ogivas convencionais e nucleares, o Tsirkon também seria virtualmente impossível de ser interceptado pelos sistemas de defesa atualmente em uso, dada a sua velocidade e manobrabilidade. Esses fatores tornam o Tsirkon um armamento altamente disruptivo. Outras potências, como os Estados Unidos e a China, também estão desenvolvendo capacidades hipersônicas, o que denota a crescente importância dessa tecnologia para o futuro da estabilidade estratégica.

Em um contexto de possível adesão da Finlândia e da Suécia à OTAN, o teste com o míssil Tsirkon também ganha uma ampla conotação geopolítica. Na visão de Moscou, a entrada desses países aumentaria a pressão da aliança ocidental contra a Rússia no Norte da Europa. A escolha do Mar de Barents como zona de teste coloca esses países dentro do alcance da arma e pode ser relacionada à progressiva relevância do Ártico, com a viabilidade futura do uso do Oceano Ártico como rota de navegação.

A crescente importância dessa região é acompanhada pelo aumento nas tensões geopolíticas entre os Estados Ocidentais e a Rússia. Nesse sentido, o teste de lançamento do míssil hipersônico Tsirkon no Mar de Barents se relaciona tanto com as necessidades de preparação e treinamento das forças russas para transformações no cenário tecnológico de armamentos estratégicos quanto para dar credibilidade a futuras mudanças no tabuleiro geopolítico global.

FONTE: Boletim GeoCorrente

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