Análise: O resgate a submarinos sul-americanos

NSS Guillobel ex-MV Adams Challenge




Por Alejandro Sanchez

A Marinha do Brasil adquiriu uma embarcação de apoio offshore capaz de realizar operações de resgate submarino para apoiar seu programa de modernização de submarinos PROSUB. Alejandro Sanchez relata sobre a crescente importância do resgate submarino nas águas da América do Sul.

A perda do submarino argentino da classe Santa Cruz (TR 1700), “ARA San Juan” (S 41) e sua tripulação de 44 militares em novembro de 2017, colocou a questão do resgate a um submarino sinistrado no topo das agendas das Marinhas na América do Sul. Embora as circunstâncias que cercam a perda de San Juan significassem que o incidente não era passível de sobrevivência, a preponderância dos submarinos diesel-elétricos antigos na região levou à reflexão sobre os meios disponíveis para efetuar uma operação de resgate no caso de outra ocorrência similar.

Submarinos classe Tupi da Marinha do Brasil

Acidentes submarinos na América do Sul não são comuns. Antes da perda do ARA San Juan, o mais grave incidente era o naufrágio do submarino peruano classe Balao BAP Pacocha (SS 48) em agosto de 1988. O Pacocha afundou a 43 m de profundidade após uma colisão com uma traineira de pesca japonesa nos arredores de Callao. Oito membros da tripulação do submarino morreram, mas 22 conseguiram escapar do submarino.

BAP Pacocha retornando a superfície após ter afundado

No entanto, a perda do San Juan lançou um “holofote” sobre a idade e as condições de muitas das frotas submarinas da região. Enquanto o Chile opera dois submarinos Scorpene entregues no início dos anos 2000, Argentina, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela ainda estão operando submarinos que datam dos anos 1970/1980.

A Marinha do Brasil, que lançou uma grande modernização de sua força submarina sob o programa PROSUB (Programa de Desenvolvimento de Submarinos), está muito na vanguarda dos esforços para melhorar as capacidades de resgate de submarinos. O PROSUB abrange a construção local de quatro novos submarinos Scorpene de propulsão convencional em Itaguaí, a serem seguidos pela construção de um primeiro submarino movido a energia nuclear.

Submarino Riachuelo

A Marinha do Brasil anunciou em 23 de outubro de 2019 que havia adquirido o navio de apoio de mergulho Adams Challenge para apoiar os novos submarinos que estão sendo construídos sob os auspícios do PROSUB e para substituir seu navio de resgate submarino existente NSS Felinto Perry (K 11), adquirido em dezembro de 1988. O Adams Challenge atracou na base naval do Rio de Janeiro em 19 de dezembro. O navio será formalmente comissionado em março de 2020 como NSS Guillobel (K 12) e será subordinado ao Comando da Força de Submarinos da Marinha do Brasil.

ex-Adams Challenge, futuro NSS Guillobel

Entregue pela empresa espanhola Balenciaga Shipyard em 2009 e anteriormente operado pela empresa do Bahrein Adams Offshore, o Adams Challenge tem 85 m de comprimento e desloca 5.700 toneladas. A embarcação possui um convoo e outros acessórios para resgate e mergulho.

Quando o contato foi perdido com o San Juan, em novembro de 2017, a Marinha do Brasil enviou o NSS Felinto Perry para ajudar na busca pelo submarino desaparecido. Nenhuma outra Marinha da América do Sul poderia oferecer um navio adequado para apoiar operações de resgate submarino. Na ausência de outros navios de resgate de submarinos, o NSS Guillobel poderia se tornar um meio de resgate submarino sul-americano, e não apenas brasileiro, aproveitando o precedente da busca pelo San Juan.

No entanto, como apontou o capitão de mar e guerra aposentado da Marinha dos EUA William J Toti, atualmente diretor executivo da Sparton Corporation, a velocidade é essencial para as missões de resgate a submarinos. Portanto, se ocorrer um acidente nas águas do Pacífico, levará muito tempo até Guillobel chegar a área do sinistro.

O capitão Toti também observou a importância de ter embarcações de apoio projetadas para operações de resgate a submarinos. “Os eventos com submarinos geralmente ocorrem quando o tempo está ruim e uma abertura no casco (moonpool) existente no NSS Guillobel, permite o lançamento de dispositivos de busca maiores, veículos subaquáticos autônomos e veículos operados remotamente, mesmo em mares agitados, quando o lançamento pela borda do navio pode não ser prática”.

DSRV da JDF operando com a Marinha indiana

Ele acrescentou: “O fator mais importante no resgate submarino é a velocidade. E como é provável que um navio de resgate não tenha todo o equipamento necessário a bordo quando iniciar seu deslocamento, um heliponto é vital para receber o restante do material”.

Comentários finais:

Embora a aquisição do Adams Challenge forneça à Marinha do Brasil uma embarcação de resgate a submarinos muito mais moderna, não há veículo de resgate de submersão profunda / módulo de resgate pressurizado no continente sul-americano. Durante a busca pelo “ARA San Juan”, a câmara de resgate submarino da Marinha dos EUA e as instalações do módulo de resgate pressurizado foram transportadas de avião para a Argentina, embora o tempo necessário para a mobilização tenha sido significativamente maior do que o tempo preconizado de 72 horas para o primeiro resgate.

Fonte: Janes Navy International

Traduzido e adaptado por: Marcio Geneve

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