Brasil não está livre do terrorismo

PARQUE_OLIMPICO_Rio 2016

Por André Luis Woloszyn – Analista de Inteligência Estratégica pela ESG.

A estratégia do Estado Islâmico de recrutar simpatizantes autóctones por meio das mídias sociais, iniciada entre 2012 e 2013, apresenta seus primeiros resultados. Nesse aspecto, o Brasil é um campo de muitas possibilidades, fato percebido pelas lideranças do terrorismo extremista islâmico.

Com o aumento dos protocolos de segurança em países da comunidade europeia e o intercâmbio de informações de órgãos de inteligência, uma das alternativas dos grupos radicais pode ser direcionar suas ações à América Latina, especialmente ao Brasil, terreno ainda inexplorado.

Tais circunstâncias derrubam a tese, defendida por muitos, de que estamos longe do terrorismo extremista, já que somos pacíficos e não participamos de operações bélicas e de inteligência em zonas conflagradas, em especial o Oriente Médio e o norte da África.

Infelizmente, são falsas premissas. Para o terrorismo internacional, baseado na anomia e irracionalidade de ações, tais argumentos são irrelevantes.

Por isso, a prisão, pela Polícia Federal, de uma suposta célula terrorista ligada ao Estado Islâmico, que planejava ações durante os Jogos Olímpicos do Rio, é um marco histórico no Brasil que tende a se repetir com certa frequência.

Vista aérea do Parque Olímpico no Rio de Janeiro (Yasuyoshi Chiba-AFP)

Foram utilizados, pela primeira vez, dispositivos da lei federal de combate ao terrorismo, sancionada em 16 de março deste ano, que pune, inclusive, os atos preparatórios.
A questão principal desse contexto é o recado institucional das autoridades brasileiras para todo e qualquer movimento terrorista que possua intenções semelhantes.

A prisão demonstrou a capacidade operacional e de coleta de dados de inteligência das forças de segurança para detectar e neutralizar ameaças em qualquer parte do território nacional. Tais ações contribuirão, ainda, para aplacar parte da tensão de delegações e turistas estrangeiros em relação a atentados.

Sabe-se que é difícil identificar com antecedência os terroristas autóctones, como os chamados lobos solitários ou mesmo células decentralizadas e autodidatas, uma vez que não existe um perfil ou biótipo definido. Eles transitam no ambiente urbano com naturalidade.

Podemos perceber alguma intenção em gestos, atitudes e diálogos se os suspeitos forem monitorados por câmeras por algum tempo, o que permite analisar o conjunto de suas atitudes, e não um comportamento pontual. Também podem ser investigados por meio do monitoramento das comunicações eletrônicas ou digitais, a exemplo do que ocorre nos países que possuem experiência no trato com o terrorismo internacional.

Naturalmente, os desafios a serem enfrentados são imensos. O recrutamento de brasileiros pela ideologia extremista já é uma realidade. Segundo a inteligência do país, cerca de cem pessoas são consideradas “altamente radicalizadas”; sites em português fomentam tal comportamento.

Soma-se a essa conjuntura o fato de que não existe 100% de segurança. Nem mesmo a mais capacitada preparação técnica seria capaz de impedir todo e qualquer ataque. Finalmente compreendemos que nenhum país, hoje, pode se iludir a respeito dessa dura realidade, a menos que queira ser surpreendido.

FONTE: Folha de São Paulo

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