Como é a megaoperação de resgate do navio que encalhou no Canal de Suez

Navios rebocadores e dragas trabalham a todo o vapor na operação para tentar desencalhar o “Ever Given”, o porta-contêineres que está bloqueando desde terça-feira o Canal de Suez, uma das principais rotas comerciais do mundo.

Com 224 mil toneladas, o navio tem 400 metros de comprimento, o equivalente a quatro campos de futebol e ficou preso na diagonal entre as duas margens do canal que tem 205 metros de largura. Mais de 200 embarcações esperam na região por uma solução ao bloqueio, que pode permanecer por dias ou até semanas, se a operação em andamento falhar.

A estratégia adotada pela Autoridade do Canal de Suez (SCA, na sigla em inglês) e pela Evergreen Marine Corp, a operadora do navio, foi escavar a área onde a proa do “Ever Given” encalhou para que ele possa ser girado e voltar ao curso normal da hidrovia. Enquanto as dragas especializadas trabalham, grandes rebocadores, usando cabos ou se posicionando diretamente ao lado da megaembarcação, tentam tirá-lo dos bancos de areia próximos às duas margens.

Veja nesta reprodução como foi o encalhe do MV Ever Given

Equipes de resgate da Holanda e do Japão foram contratadas pela operadora Evergreen para ajudar nos trabalhos para fazer o navio flutuar outra vez. Mas, até o momento, esses esforços não foram bem-sucedidos porque o “Ever Given” parece estar firmemente atolado nos bancos de areia.

As dragas pararam de remover areia e lama da região próxima à proa do navio na noite desta sexta-feira (horário local) e os rebocadores estavam se preparando para tentar girar o “Ever Given” outra vez, disse em comunicado o tenente-general Osama Rabei, chefe da SCA.

“É uma operação técnica complexa que exigirá várias tentativas para libertar a embarcação”, disse o responsável pela gestão do Canal de Suez no comunicado, segundo a agência Associated Press (AP).

Sal Mercogliano, especialista em história marítima na Universidade de Campbell, nos Estados Unidos, destacou à rede BBC que os operadores dessas dragas estão acostumados a trabalhar no Canal de Suez, já que esse tipo de equipamento é usado de modo contínuo para ampliar a profundidade do canal e mantê-lo navegável.

Além disso, uma “draga de sucção” está agora no local é capaz de retirar 2 mil metros cúbicos da mistura de terra e lama a cada hora. A Boskalis, empresa holandesa especializada, está gerenciando a operação de dragagem.

No entanto, o presidente-executivo da Boskalis, Peter Berdowkski, avalia que só a dragagem não resolverá o problema. “Pode levar semanas, dependendo da situação”, afirmou.

Se a estratégia falhar, as equipes envolvidas no resgate podem ter que tirar peso do navio, descartando combustível e a água de lastro, que ajuda no equilíbrio da embarcação. Encarregada pela gestão técnica do navio, a empresa Bernhard Schulte Shipmanagement (BSM) disse que alguns espaços internos do casco do barco estão com água. Bombas de alta capacidade estão sendo usadas para retirá-la.

Uma opção ainda mais desafiadora e demorada seria usar guindastes para remover todos os 20 mil contêineres transportados pelo meganavio, um processo que poderia durar semanas, segundo especialistas.

“Em termos de comparação, se você colocar todos os 20 mil contêineres do Ever Given [em aviões], você precisaria de 2,5 mil aviões de carga [Boeing] 747”, disse Tim Huxley, presidente do conselho de administração da Mandarin Shipping Ltd., de Hong Kong, ao “The Wall Street Journal”.

A operação pode se tornar ainda mais complexa à medida que o tempo avança, explicou em entrevista à AP Nick Sloane, especialista que liderou a operação envolvendo o cruzeiro Costa Concordia, em 2012. Apesar de serem construídos para serem flexíveis, navios como o “Ever Given” não foram projetados para permanecerem parados e carregados por muito tempo.

“Quanto mais tempo levar, pior ficará a condição do navio, porque ele está afundando lentamente”, afirmou Sloane. “Navios são projetados para serem flexíveis, mas não para serem mantidos nessa posição, com uma carga completa, por semanas a fio.”

Mercogliano acrescentou que, fora os problemas estruturais que podem ocorrer se a operação de dragagem não funcionar, a própria retirada da carga apresenta riscos. “Você teria que determinar como isso afetaria a estabilidade do navio”, disse o especialista. “O pior cenário é que ele se parta ao meio por causa da distribuição [desigual] de peso.”

FONTE: Valor Econômico

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