Contrabando de urânio, uma história mal contada

uranio

Por Rogério Maestri

Contrabando de Urânio, uma história completamente mal contada.

A polícia federal lançou uma operação para combater o tráfico de pedras e metais preciosos, incluído nesta ação aparece uma enigmática e nada coerente contrabando de Urânio para terroristas utilizarem para bombas termonucleares.

Este último item, que a imprensa está noticiando com insistência parece algo tão factível como “terroristas do Estado Islâmico” ou qualquer grupo que seja ter alguma condição tecnológica para beneficiar este urânio ao ponto de fazer bombas termonucleares.

É completamente estranha esta notícia, simplesmente porque o mais simples para qualquer grupo é comprar metais que contenham Urânio é relativamente barato e pode ser comercializado livremente, pois o principal problema não está na compra de minerais que contenham urânio, que são abundantes e baratos. O preço internacional dos minerais que contêm urânio é de em torno de US$100,00 por kg.

Agora entre comprar minerais que contém urânio e extrair destes o Urânio 235, um isótopo do Urânio a uma concentração de 80% ou mais para a fabricação de bombas há um caminho imenso que somente pouquíssimos países do mundo detém esta tecnologia.

Primeiro, para exportar minério que contenha Urânio sem nenhum beneficiamento, para no fim produzir Urânio 235 a alta concentração, precisa-se de grandes quantidades algo em torno de várias toneladas. Geralmente um primeiro beneficiamento é feito junto as minas de Urânio para diminuir a quantidade, ou seja, são necessárias sofisticadas instalações com alto consumo de energia para gerar o chamado “Yellowcake”, um composto em que o isótopo U-238 é preponderante, mais de 99% e é seguro e de radioatividade muito baixa.

A partir deste Yellowcake que se separa o U-235 (que serve para reatores de armas nucleares) e para ser usado em armas o composto deve ter mais de 80% de pureza. Atualmente poucos países no mundo detém a tecnologia de beneficiamento, sendo o Brasil um deles.

A partir deste prólogo vamos a algumas conclusões:

Se “grupos terroristas” estivessem interessados em contrabandear minério com urânio, teriam que alugar um trem completo da Vale do Rio Doce, por exemplo, transportar algumas centenas de vagões cheios de minério, colocar num navio de exportação de minério e levar até algum porto para ser descarregado e beneficiado, algo diferente do que carregar um quilo de pedras preciosas no bolso.

Se os mesmos “grupos terroristas” quisessem levar não o minério, mas algumas toneladas de Yellowcake para posterior beneficiamento precisariam antes de tudo abrir uma mina, construir uma enorme instalação industrial de beneficiamento de minério de urânio, depois colocar algumas toneladas de Yellowcake em vários caminhões, colocar de novo em alguns containers e transportar para o país de destino.

Se os mesmos e diligentes “grupos terroristas” quisessem contrabandear U-235 beneficiado a menos de 15%, para depois beneficiar mais ainda, teriam que passar por toda a segurança da marinha brasileira e mais da Agência Internacional de Energia Nuclear, que controla a produção e destino do urânio beneficiado no Brasil, para depois levar este Urânio em compartimentos especiais, passar com um material radiativo por várias fronteiras, construir uma ENORME instalação de beneficiamento de Urânio que é construída com equipamentos e materiais altamente sofisticados e durante anos beneficiar este urânio a 80% para depois, usando uma tecnologia que poucos conhecem fazerem uma bomba atômica.

Em resumo a hipótese de contrabando de minério com urânio é uma FANTASIA da Polícia Federal, que pode vir da cabeça de algum delegado Federal diplomado em ciências jurídicas e que colou em todas as provas de física e química no segundo grau e não tem Internet em casa.

Ou pior, o que está se forjando na Policial Federal é o mesmo que se tentou fazer com o Saddan Hussein no caso denominado “Niger uranium forgeries” (Falsificação do urânio do Níger), documento forjado pelo serviço secreto militar italiano, para justificar a invasão do Iraque.

As forças armadas e o ministério da defesa deveriam tirar a limpo esta possível farsa para que ela não evolua e sirva de pretexto não só para desacreditar o governo brasileiro, mas como dar argumentos para interferências de países estrangeiros em nossas fronteiras.

FONTE: GGN – Coluna Luís Nassif

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