Entrevista com o Comandante do NDM ‘Bahia’ (G 40)

Luiz Padilha, editor do Defesa Aérea & Naval com o CMG Luis Felipe Monteiro Serrão

O Capitão-de-Mar-e- Guerra Luis Felipe Monteiro Serrão, é o comandante no mais novo navio da Marinha do Brasil, o NDM Bahia(G 40).

Nascido na cidade de Uruguaiana (RS), em 20 de outubro de 1970, entrou para a Marinha no Colégio Naval, em 13 de fevereiro de 1985. Realizou curso de Graduação em Ciências Navais, Sistemas de Armas (Escola Naval); Aperfeiçoamento em Armamento para Oficiais (CIAW); Curso de Estado Maior para Oficiais Intermediários (EGN) e Curso de Estado Maior para Oficiais Superiores (EGN).

O CMG Serrão participou do Grupo de Recebimento do Nae São Paulo (A 12) em 2000, foi Capitão dos Portos do Rio Grande do Norte em 2004 e comandou o Rebocador de Alto Mar Tridente (R 22) em 2006.

Em sua carreira, foi condecorado com a Medalha Mérito Marinheiro com 3 Âncoras e passador em Bronze, com a Medalha Mérito Tamandaré e a Medalha Militar de Ouro com passador de Ouro.

DAN – Como se deu a passagem do Siroco da Marine Nationale para a Marinha do Brasil, sob sua coordenação?

CMG Serrão – A preparação do Grupo de Recebimento, composto por 173 tripulantes, ocorreu na França, por meio de um Programa de Formação para a Adaptação ao Navio, com a transferência de conhecimento de militares da Marinha Nacional da França (MNF). Tal Programa contemplou a realização de treinamentos com o navio atracado ao cais, no período de 28 de setembro a 16 de outubro de 2015, e no mar, nos períodos de 16 a 30 de outubro de 2015 e de 16 a 17 de novembro de 2015. Nesse último período, foram realizados treinamentos de operações noturnas de embarque e desembarque de outras embarcações, as chamadas Embarcações de Desembarque de Carga Geral (EDCG)e as Embarcações de Desembarque de Viaturas e Material (EDVM).

DAN – Falando inicialmente em propulsão, como foi a execução da manutenção dos Motores de Combustão Principal (MCP)? Houve alguma dificuldade que mereça ser relatada?

CMG Serrão – A manutenção dos MCP seguiu o mesmo procedimento de todos os demais equipamentos existentes a bordo, ou seja, foi realizada a rotina de manutenção planejada prevista nos manuais dos equipamentos. As de maiores níveis de complexidade foram realizadas pela DCNS, aproveitando que a empresa foia construtora e mantenedora do navio durante o período em que esteve a serviço da MNF. As demais manutenções, mais simples, se comparadas às realizadas pela DCNS, foram conduzidas pela tripulação brasileira, utilizando os sobressalentes recebidos da MNF ou adquiridos no mercado europeu. Não houve dificuldade para a manutenção dos equipamentos do navio.

DAN – Sobre os quatro Motores de Combustão Auxiliar (MCA), todos sofreram revisões ou apenas os que estavam com as inspeções prestes a vencer?

CMG Serrão – Seguindo o mesmo raciocínio anterior, as revisões de grande monta foram realizadas pela DCNS e as demais pela tripulação brasileira. Atualmente, os MCA estão com o seu Sistema de Manutenção Planejada (SMP) em dia.

DAN – Em linhas gerais, o senhor pode nos falar como o navio se encontra atualmente, no que diz respeito a durabilidade/longevidade dos motores (MCPs e MCAs)?

CMG Serrão – O sistema atual de propulsão e geração de energia do NDM “Bahia” foi revisado e encontra-se em plenas condições de utilização. Além disso, a manutenção possui continuidade garantida pelo menos para os próximos 15 anos.

DAN – Todos os testes de máquinas após a revisão dos motores, correram conforme o previsto?  O desempenho dos motores ficaram dentro dos parâmetros esperados?

CMG Serrão – Durante a experiência de máquinas o desempenho dos motores atenderam os parâmetros previstos no manual do equipamento.

DAN – Caso haja necessidade, qual a maior velocidade que o navio pode obter e sustentar?

CMG Serrão – O navio está pronto para atender as demandas necessárias para a execução das tarefas para o qual foi construído e será operado.

DAN – Após essa manutenção executada na França, por quanto tempo os motores do Bahia poderão operar até a próxima manutenção de grande monta (calendárica)?

CMG Serrão –  A manutenção do NDM “Bahia” seguirá um plano de apoio logístico integrado, que resultará em ações para manter um sistema com o máximo de prontidão operacional. Há uma equipe realizando o acompanhamento da transferência dos dados técnicos e da documentação, de forma que a MB receba as informações dos equipamentos e dos respectivos itens de reposição, bem como dos manuais e documentação técnica dos equipamentos do Navio.

DAN – Contando com a assistência da MAN no Brasil, essa manutenção será mais rápida?

CMG Serrão – O prazo de execução dos serviços realizados na França foi considerado muito bom. As próximas manutenções serão realizadas pelo navio. As grandes intervenções, quando necessárias, seguirão um plano de apoio logístico integrado, que resultará em ações para manter um sistema com o máximo de prontidão operacional.

NDM Bahia na área marítima de Toulon, durante o embarque de EDVMs e EDCG.

DAN – O navio irá passar por uma Vistoria de Segurança de Aviação (VSA) e depois pelo Comissão de Inspeção e Assessoria para o Adestramento (CIASA), quando chegar ao Rio de Janeiro. Uma vez que o navio se encontre em Fase 3, ou seja, habilitado para operar com a Esquadra, que tipo de missões iniciais o senhor  acredita, lhe serão imputadas?

CMG Serrão – O NDM “Bahia” é um Navio projetado para emprego no transporte de tropas, veículos, helicópteros, equipamentos, munições e provisões diretamente à área de operações. Embora planejado para operações de alta intensidade, como as supracitadas), é também indicado para as de baixa intensidade, tais como missões de caráter humanitário e auxílio a desastres. Possui capacidade para carregar e descarregar, pelo mar ou pelo ar, e para operar com embarcações de desembarque em mar aberto, além do horizonte. Desse modo, a incorporação do Navio em muito contribuirá para que a MB amplie suas capacidades de Operações Anfíbias; de Comando e Controle de grandes áreas oceânicas; de apoio à Defesa Civil; de apoio às tropas em regiões afastadas; e de Comando e Coordenação de regiões marítimas em que ocorrerem desastres ambientais.Ressalta-se, ainda, sua contribuição para o incremento da capacidade da Marinha no controle de áreas afastadas do litoral e do apoio às Operações de Socorro de instalações petrolíferas no Pré-sal, na defesa das atividades econômicas na Amazônia Azul. Após um período de adestramentos conduzidos no Brasil, o navio estará pronto para o cumprimento das tarefas que nos serão atribuídas.

DAN – Com o complemento da tripulação do Bahia (297), o senhor acredita que o navio terá um desempenho muito melhor?

CMG Serrão – A capacidade de um meio é decorrente do binômio recursos humanos e recursos materiais. A tripulação final do NDM BAHIA está sendo avaliada com base em um estudo que levou em consideração a missão do navio, sua concepção de emprego e as necessárias adequações em face às diferenças nas doutrinas da MNF e da MB.

DAN – Em sua opinião, a instalação do Sistema de Controle Tático (SICONTA) no navio será uma das primeiras atualizações que o navio sofrerá após iniciar suas comissões com a Esquadra, habilitando o mesmo para atuar como Comando e Controle ou ele pode ter esta função sem a adição do SICONTA?

CMG Serrão – Decorrente dos Requisitos de Sistemas que a MB estabeleceu para o NDM, poderão ser instalados novos equipamentos e sistemas. Atualmente, o navio está pronto para cumprir as missões que lhe forem atribuídas.

DAN – Todos os armamentos que o navios possui, estão em perfeitas condições? Foi realizado algum teste dos mesmos antes do comissionamento?

CMG Serrão – Sim. As rotinas de Manutenção dos armamentos estão atualizadas.

DAN – O Hangar do navio é bem espaçoso e funcional. Quantas aeronaves são possíveis alojar dentro do Hangar durante uma missão?

CMG Serrão – O número de aeronaves no hangar varia em função do tipo de aeronave e do tipo de missão.

DAN – No futuro poderemos ver outros helicópteros(EB e FAB) operando à bordo?

CMG Serrão – O navio, como plataforma para condução de operações aéreas, estará sempre pronto para receber as aeronaves aptas para operarem no mar, desde que os pilotos possuam o adestramento necessário para fazê-lo.

DAN – Os 2 conteiners à bordo, estão com sobressalentes para o navio?

CMG Serrão – Sim.

DAN – O navio tem embarcado atualmente a EDCG (CEDIC) e 2 EDVMs. No futuro, caso seja preciso embarcar apenas as EDVMs, o senhor poderia nos dizer quantas o navio comporta?

CMG Serrão – O número vai variar de acordo com a disponibilidade de embarcações e tipo de missão imposta ao navio.

DAN – Em sua opinião, os armamentos a bordo são suficientes ou o senhor acredita ser possível algum up-grade?

CMG Serrão – O navio tem operado com o armamento instalado a bordo sem dificuldades. Demais evoluções ou aquisições serão estudadas pelas Diretorias Especializadas, em função de novas necessidades que por ventura venham ser necessárias.

DAN – O radar de busca combinada DRBN 21 ainda é eficiente ou a troca por um atual/moderno, será necessária no futuro?

CMG Serrão – A manutenção do NDM “Bahia” seguirá um plano de apoio logístico integrado, que resultará em ações para manter um sistema com o máximo de prontidão operacional. Atualmente, o DRBN-21 atende às necessidades do navio.

DAN – O senhor poderia nos dizer se o lançador Simbad atualmente no Bahia é do mesmo modelo que equipa hoje o NAe São Paulo?

CMG Serrão – Não posso afirmar que são do mesmo modelo.

DAN – Qual o ganho com a instalação do sistema Eletronic Charts Display Information System versão militar (ECDIS)?

CMG Serrão – Acrescem àquelas típicas do ECDIS, algumas funções específicas, inerentes aos navios militares. É excelente recurso que auxilia a manobra e o planejamento.

DAN – O senhor poderia nos explicar a função do Chefe do Departamento de Administração (CHEADM)?

CMG Serrão – Para avaliar a função do CHEADM temos que considerar a missão do navio e sua concepção de emprego. Desta forma, operativamente, esta função exerce o Controle Principal de Apoio Logístico, responsável pelas atividades dessa natureza (logística) que vão contribuir para manter o poder combatente do navio, aí incluídas a gestão do Complexo Hospitalar e de toda a estrutura necessária à coordenação das Atividades Benignas, como a assistência em caso de desastres naturais, por exemplo. Administrativamente, concentra o Grupos de Intendência (com duas Divisões), o Grupo de Saúde (com três Divisões) e a Divisão de Pessoal.

DAN – Com um moderno hospital à bordo, qual a capacidade de atendimento, no caso de feridos em um acidente a bordo? O navio pode atuar em caso de um desastre natural?

CMG Serrão – A área do complexo hospitalar foi projetada de forma a permitir um fluxo unidirecional dos pacientes graves, facilitando a organização e o trabalho das equipes de saúde. A área possui acesso rápido e fácil ao convés de voo principal, facilitando as Evacuações Aero-Médicas (EVAM), por helicópteros, em situações emergenciais.

Dentre as principais capacidades do complexo hospitalar do NDM “BAHIA”, podemos destacar:

Essas características, associadas à capacidade de transporte de pessoal e material, qualificam o navio a cumprir, com eficiência, uma ampla gama de missões, de caráter militar ou não, como as de apoio à Defesa Civil por ocasião de calamidades públicas, operações de busca e salvamento marítimo de grande envergadura, apoio logístico móvel, apoio a missões de paz e operações de caráter humanitário.

DAN – O senhor poderia falar um pouco sobre o NDM Bahia e suas capacidades operacionais na MB?

CMG Serrão – O navio NDM “BAHIA” será empregado em diversos tipos de adestramentos, tanto em águas jurisdicionais brasileiras, quanto em outras de interesse, no país e no exterior.

Sua utilização, seja em situação de simulação de Conflito Armado ou em situação de paz, prevê a realização das seguintes tarefas:

Um Bravo Zulu pelo sucesso da viagem de Toulon à Salvador. Nosso agradecimento pela hospitalidade a bordo e o DAN lhe deseja sucesso total durante as missões que virão, para que o NDM Bahia possa mostrar na Marinha do Brasil, todo o seu potencial.

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