Entrevista do Coronel-General Andrei Kartapolov, Chefe do Estado-Maior Conjunto russo

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Coronel-General Andrei Kartapolov, Chefe do Estado-Maior Conjunto russo

– Como o senhor vê o uso de armamentos pelo ISIS? Os terroristas tem sistemas portáteis de defesa aérea (MANPADS)?

– Nós temos a informação da presença de MANPADS, mas não vimos a sua aplicação na prática. Assim, o aparecimento desse tipo de armamento pelos militantes é a prova de que algum país ou países estão sendo extremamente irresponsáveis.

– Como o senhor vê o potencial de combate e armamento da chamada “oposição moderada”, e de onde vem essas armas?

– É só o ocidente que vê uma “oposição moderada”, mas nós vimos que isso não existe na Síria. Você pode definir do jeito que quiser, mas um grupo de pessoas que pega em armas e mata para depor um governo com autoridade legítima, é um grupo terrorista. Há muitos grupos que assumem nomes diferentes mas agem em conjunto, e são armados por atores estatais diversos. Eles agem como bandidos comuns, roubando, saqueando, estuprando, divididos por esferas de influência dos seus padrinhos. Eles dizem que lutam contra o presidente Assad, ganham as armas e dinheiro, e depois agem como querem.

– Não é muito cedo para começar a ofensiva terrestre do exército sírio? Ele está pronto para o combate? que resultados podemos esperar?

– Eu acho difícil julgar o quão pronto está o exército sírio para a ação ofensiva. O que eu posso dizer é que mesmo se o exército sírio estivesse muito mais enfraquecido do que está hoje, ainda assim eles teriam resultados positivos, já que cortamos todos os postos de comando e controle e linhas logísticas do inimigo. Nos primeiros dias da ofensiva, mais de uma dezena de vilas e cidade foram tomadas, e hoje uma grande cidade, Achan, foi tirada das mãos dos insurgentes. Só no primeiro dia, 90km quadrados foram tomados na ofensiva. Então eu acho que os comandantes militares sírios, que conhecem o terreno e sabem que os terroristas são na maioria de outros países, sabem muito bem como agir.

– O que causou a necessidade de se atacar usando os mísseis de cruzeiro no Mar Cáspio? O Irã e o Iraque autorizaram?

– Sim. Eu falei sobre isso no briefing. Nós já tínhamos o ok de nossos parceiros no Comitê de Coordenação, que não só inclui a Síria, mas também o Irã e o Iraque, por onde nossos mísseis passaram. O ataque se fez necessário por causa das descobertas de nossos serviços de inteligência, que detectaram alvos de primeira grandeza e importantes entre os dias 5 e 6 de outubro, e devíamos eliminá-los imediatamente. Os alvos foram previamente inspecionados com drones para ter certeza da inexistência de civis nas áreas. Houve então a decisão de usar os mísseis.

– O Pentágono afirma que 4 mísseis caíram pelo caminho e não explodiram. O que o senhor pode nos dizer sobre isso? 

– O Pentágono pode afirmar o que ele quiser. Porque não mostram provas? Eu posso afirmar que todos os nossos mísseis atingiram seus alvos.

– Há um grupo de nossos navios no Mar Mediterrâneo, se necessário, poderiam também intervir na Síria?

– É claro que sim.

– Como está composto esse grupo?

– Nosso grupo no Mediterrâneo dá o suporte material para nossos meios na Síria. De modo a não sofrer ataques, eles também nos dão suporte aéreo, são nosso guarda-chuva, além de servir como meio de comando e controle e banco de dados.

– Se o Estado-Maior achar conveniente, poderiam ser utilizados novamente ataques ao ISIS por mísseis de cruzeiro?

– Talvez.

– Podemos dizer que haverá duas bases militares russas na Síria agora, aérea em Lattakia e naval em Tartus?

– Eu gostaria que houvesse no futuro uma única base naval, aérea e terrestre.

– A oposição “moderada” armada sinalizou com a possibilidade de engajar em combate o ISIS. Como o senhor interpreta esses sinais? 

– Estamos prontos para trabalhar com eles. Que venham para Bagdá e participem do Comitê de Coordenação conjunta.

– Se essa proposta for aceita, seria possível remodelar as táticas das forças de coalizão? Poderia mudar a guerra contra o ISIS?

– Se eles pararam de lutar contra as tropas do governo e começarem a lutar contra o ISIS, pode mudar. Mas se eles declararem guerra ao ISIS e continuarem a lutar contra o governo, nada vai mudar.

– O secretário de defesa dos EUA declarou que as forças russas vão sofrer pesadas baixas. Seria uma ameaça direta, haja visto a informação sobre a distribuição de “Stingers” (MANPADS)?

– Nós entendemos como uma manifestação da mais alta falta de profissionalismo. Nenhum político que se preze pode falar desse jeito à sério. Especialmente quando estamos falando de aliados que nos ajudaram a derrotar Hitler na grande guerra patriótica. O que ele tem em mente, que fique apenas na sua própria consciência. Lembro das palavras de Tolstói à Andreev: “Ele quer me assustar, mas eu não tenho medo”.

– Poderia haver uma situação em que ajudaríamos o exército sírio no combate terrestre?

– Isso está excluído. Não iremos tomar parte de operações terrestres, sob quaisquer circunstâncias. São ordens do nosso presidente.

– Se o senhor descobrir que MANPADS americanos “Stinger” estão nas mãos do ISIS, ou do chamado Exército Livre da Síria, qual será sua reação?

– Eu acho que nós deveríamos fazer essa pergunta ao Conselho de Segurança da ONU.

FONTE:http://www.kp,ru/daily/26446/3316981/

TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO:Junker

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