Fuzileiros Navais brasileiros ajudam a Colômbia na desminagem humanitária

Desde 2015 instrutores brasileiros ficam na Colômbia por dois anos, capacitando os militares da Marinha Nacional para a remoção de minas e artefatos explosivos improvisados dos terrenos.

Por Taciana Moury

O Capitão-de-Corveta (FN) Fernando de Paula Lima e o Capitão-de-Corveta (FN) Bruno Tiago Silva dos Santos do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil (MB) estão na Colômbia desde janeiro dando instrução de desminagem humanitária (DH) aos militares colombianos. O objetivo é contribuir na formação de militares da Marinha Nacional da Colômbia, com o intuito de capacitá-los para a tarefa de remoção de minas e artefatos explosivos improvisados que foram utilizados durante o período de conflito interno do país com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

Cadetes da Escola Naval Almirante Padilla, da Colômbia, recebem instrução prática de conduta em campo minado do CC (FN) Bruno Tiago Silva dos Santos. Foto: MB

Os militares brasileiros foram formados no Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais, unidade da MB responsável pela condução das instruções, dos adestramentos e das missões simuladas e reais de desminagem. Lá são realizados os cursos de Neutralização e Desativação de Artefatos Explosivos, de Anti-Bomba e de DH.

Segundo o Capitão-de-Mar-e-Guerra (FN) Dalton Araújo de Barros, comandante do Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais da MB, o acordo bilateral surgiu da necessidade da Marinha da Colômbia em aumentar o efetivo de militares capacitados na DH. “Essa demanda foi solicitada em 2014 e efetivada em 2015, quando a MB enviou dois oficiais para o Centro Internacional de Treinamento Anfíbio em Coveñas, Sucre, por um período de dois anos”, disse o CMG Dalton, e acrescentou que, no início de 2017, a equipe foi substituída pelos dois oficiais que estão à frente da missão atualmente.

O desafio das Forças Militares da Colômbia é o de aumentar a efetividade na DH, a fim de cumprir o prazo estabelecido pelo Tratado de Ottawa, assinado em 1997, para concretizar a limpeza dos campos minados espalhados por todo o país até 2021. O CMG Dalton disse que o CFN está contribuindo decisivamente para que o prazo seja alcançado, como também para diminuir o sofrimento dos colombianos. “Essas armas letais dificultam o desenvolvimento econômico e social e impedem o direito de andar livremente da população civil”, destacou.

Curso de Desminagem Humanitária

Os militares brasileiros coordenam os cursos de técnico de desminagem básico, líderes de DH e supervisores de DH. Segundo o CC Fernando Lima, cada curso é realizado duas vezes por ano. “Eu e o CC Bruno Tiago realizamos instrução, treinamento, capacitação teórica e prática, bem como auxiliamos no desenvolvimento e no aperfeiçoamento de doutrina na Marinha Nacional da Colômbia, com a criação e a revisão de documentos operacionais”, disse.

Inicialmente, os alunos recebem um embasamento teórico em sala de aula, depois os conhecimentos são colocados em prática, por meio de exercícios no terreno, chamados de “Pista de Desminagem Humanitária”. O local simula um campo minado, com as mesmas condições e tipos de artefatos encontrados nas frentes de trabalho. O CC Fernando Lima explicou que a parte prática equivale a aproximadamente 70 por cento do tempo total do curso. “Os alunos são acompanhados e avaliados a todo momento, de maneira que, ao final do curso, tenhamos certeza de que lograram se graduar e tenham as necessárias condições técnicas, físicas e psicológicas para trabalhar nas atividades de DH”, garantiu.

Segundo os instrutores brasileiros, durante as aulas práticas, os alunos são submetidos a condições ainda mais difíceis do que em uma situação real. “O objetivo é fazer com que os alunos executem apropriadamente os procedimentos operacionais para estarem preparados ao se deparar com uma situação possível de ocorrer em seu dia-a-dia de trabalho”, explicou o CC Bruno Tiago.

Desde 2015, quando iniciou o acordo bilateral, já foram formados 329 técnicos em desminagem, sendo 39 apenas em 2017, e 46 líderes de DH. Além da instrução propriamente dita, a missão inclui a disseminação do tema sobre minas terrestres e explosivos improvisados para os militares colombianos, por meio de palestras e cursos em instituições de ensino, como a Escola Naval de Oficiais e o Curso de Cabos e Sargentos. “Aproximadamente 500 militares receberam os conceitos básicos nas unidades de ensino desde janeiro deste ano. Esses militares podem ter que enfrentar esse problema em algum momento de sua vida operativa”, explicou o CC Fernando Lima.

O Capitão-de-Corveta (FN) Fernando de Paula Lima ministra instrução de detectores para alunos do curso básico de Desminagem Humanitária. Foto: MB

Missão amplia capacidade operacional dos militares brasileiros

Para os Fuzileiros Navais da MB que estão na Colômbia, a missão representa uma oportunidade de ganho operacional e pessoal. “É um sentimento nobre, saber que você está contribuindo de alguma forma para um mundo melhor, mais seguro. Uma mina que é retirada do terreno representa a vida de uma pessoa que foi salva. É, portanto, menos uma vítima. Nesse contexto, nossa motivação é sempre alta”, destacou o CC Bruno Tiago.

O CC Bruno Tiago lembrou os desafios iniciais durante o período de adaptação e adequação à doutrina e às peculiaridades do país. Apesar disso, segundo ele, a produtividade foi muito satisfatória. “A tendência agora é que tenhamos nossa eficiência aumentada e, quando dizemos eficiência em DH, ressaltamos que os técnicos em desminagem trabalharão cada vez mais capazes e seguros”, garantiu.

Já o CC Fernando Lima destacou o ganho operacional conquistado durante a missão. “Estou tendo contato com novos tipos de artefatos explosivos, utilizados pelas FARC, no longo conflito vivido pela Colômbia, país fronteiriço ao nosso. Isso nos dá um ganho operativo muito grande, aumentando a capacidade de resposta a este tipo de ameaça”, ressaltou.

O militar lembrou ainda do bom convívio com a Marinha Nacional da Colômbia. “São muito agradecidos pelo apoio que prestamos ao seu país e estão sempre prontos para nos apoiar nas necessidades que surjam para o melhor desenvolvimento dos cursos”, disse o CC Fernando Lima.

O CMG Dalton também destacou as vantagens da missão para a capacitação dos militares brasileiros. “A troca de experiências com os militares colombianos, adquiridas durante 50 anos de guerra no interior do seu próprio país, com larga experiência em artefatos explosivos improvisados, é uma excelente oportunidade. Além disso, esse contato é muito importante para estreitar os laços de amizade entre os dois países, que irão facilitar futuros acordos de cooperação em todos os níveis e áreas”, reforçou.

Consequências dos terrenos minados na Colômbia

A Colômbia é um dos países com maior contaminação de minas, segundo a Organização das Nações Unidas. Desde 1990 até junho de 2017, foram 11.487 vítimas dos artefatos explosivos, sendo 4.458 civis e 7.029 militares; desse total, 2.208 foram fatais, de acordo com informações da Dirección para la Acción Integral contra Minas Antipersonal – Descontamina Colombia, órgão oficial colombiano que trata do tema de desminagem.

Segundo o CMG Dalton, já foram destruídos 5.328 artefatos explosivos encontrados nos campos minados e mais de dois milhões de metros quadrados já foram limpos no território colombiano. A Colômbia possui 1.123 municípios, sendo 688 com registro confirmado de contaminação. “Desse total, apenas cinco foram limpos. Outros 25 municípios já estão sendo desminados e 67 estão em processo de investigação para confirmar as suspeitas de contaminação. Ou seja, ainda faltam 596 municípios necessitando de algum tipo de intervenção dos técnicos em desminagem”, disse.

FONTE: Diálogo Américas

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