Fuzileiros Navais dos EUA irão se reequipar, de olho na China

Por Michael R. Gordon

O Corpo de Fuzileiros Navais está realizando sua transformação mais abrangente em décadas, alterando de um foco na luta contra insurgentes no Oriente Médio para desenvolver a capacidade de saltar de ilha para ilha no Pacífico ocidental para enfrentar a esquadra chinesa.

O plano de dez anos para reformular o Corpo, marcado para ser divulgado nesta semana, segue anos de simulações (jogos de guerra) confidenciais nos EUA que revelaram que as forças navais e mísseis da China estão sobrepujando as vantagens militares americanas na região.

“A China, em termos de capacidade militar, é a ameaça emergente”, disse o general David Berger, Comandante do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA em uma entrevista. “Se não fizermos nada, seremos derrotados.”

Para se reinventarem como uma força expedicionária naval dentro dos limites do orçamento, os fuzileiros navais planejam desincorporar todos os carros de combate, cortar suas aeronaves e diminuir o número total de 189.000 para 170.000 militares, disse o general Berger.

“Cheguei à conclusão de que precisamos reduzir o tamanho do Corpo de Fuzileiros Navais para obter qualidade”, disse ele.

 

As mudanças fazem parte de uma mudança de todos os ramos das forças armadas, que estão aperfeiçoando novos conceitos de combate e planejando gastar bilhões de dólares com o que de acordo com o Pentágono será a ampliação da “concorrência” com a China e com a Rússia.

Quase 20 anos atrás, as tropas dos EUA se viram combatendo militantes no Iraque e no Afeganistão que usaram carros-bomba e explosivos remotamente controlados a beira das estradas, mas não tinham força aérea ou forças mecanizadas pesadas.

Enquanto os EUA se concentraram no Oriente Médio, no entanto, China e Rússia trabalharam em sistemas para frustrar a capacidade americana de reunir forças proximo de suas fronteiras e comandá-las em batalha. Se a guerra estourasse, concluíram as autoridades americanas, a China poderia disparar centenas de mísseis nas bases aéreas, portos e centros de comando dos EUA e aliados em todo o Pacífico, bloquear o GPS das forças armadas dos EUA, atacar sistemas de satélite e usar suas defesas aéreas para manter os aviões de guerra dos EUA distantes.

 

Uma avaliação preocupante de como as forças americanas enfrentariam os rivais, foi preparada pelo Gabinete de Avaliação do Pentágono e pela Rand Corporation sendo apresentada ao então secretário de Defesa Jim Mattis em 2017.

A nova estratégia enfrenta alguns obstáculos significativos. Uma, que é a mais provável, é que o orçamento de defesa permaneça estável ou seja reduzido nos próximos anos. Outra questão é se Washington será capaz de se concentrar nas ameaças chinesas e russas, dadas as tensões constantes com o Irã.

Alguns fuzileiros navais da reserva alertam que um foco muito centrado na China pode tornar o Corpo menos flexível para lidar com conflitos que podem surgir no Oriente Médio.

“Eu acho que é um erro se organizar para ir atrás de uma região específica”, disse Anthony Zinni, general de 4 estrelas da reserva do Corpo de Fuzileiros Navais que liderou o Comando Central.

O núcleo do plano do general Berger é o estabelecimento de unidades expedicionárias navais – o que os fuzileiros navais chamam de “regimentos costeiros” – cuja missão seria enfrentar a marinha chinesa. Se surgisse um confronto, os regimentos dispersariam pequenas equipes de fuzileiros navais, que empregariam embarcações de desembarque visando as pequenas ilhas que pontilham os mares do sul e leste da China, segundo o general Berger e outros oficiais de alto escalão do Corpo de Fuzileiros Navais. Munidos de drones carregados de sensores que operam no ar, no mar e debaixo d’água, os fuzileiros navais atacariam navios de guerra chineses antes de se aventurarem no Pacífico.

As equipes de Fuzileiros Navais lançariam mísseis anti navio na esquadra chinesa. Os dados de alvos também seriam passados ​​para unidades da Força Aérea ou da Marinha mais distantes, que disparariam mísseis de longo alcance. Para evitar golpes de retaliação, os fuzileiros navais poderão “pular” de ilha em ilha a cada 48 ou 72 horas, contando com navios anfíbios que possam ser pilotados remotamente. Outras equipes de fuzileiros navais operariam a partir de navios de guerra dos EUA com simulacros de embarcações nas proximidades.

O general Berger disse que os jogos de guerra mostraram que as novas capacidades e táticas dos Fuzileiros Navais criariam “uma tonelada de problemas” para as forças chinesas.

Os fuzileiros navais desdobrariam novas baterias de mísseis, unidades de drones e navios anfíbios. Um grande esforço está sendo feito para aliviar o fardo logístico, como explorar o uso da impressão em 3D no campo de batalha para produzir peças de reposição. A estratégia exige uma integração mais profunda com a Marinha, e as equipes de Fuzileiros Navais podem realizar outras missões, como reabastecer submarinos ou aviões de caça.

Para financiar as capacidades, os fuzileiros navais dispensarão todos os carros de combate ao longo dos próximos anos, eliminarão suas companhias de lançamento de pontes e reduzirão a aviação e obuses.

O general Berger disse que o ajuste nos próximos 10 a 20 anos faz parte do plano e que os fuzileiros navais estão prosseguindo com “a visão clara de que a ameaça também está se movendo”.

Fonte : Wall Street Journal.

Tradução e adaptação: Marcio Geneve.

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