Governo federal intensifica ações para evitar ataques terroristas nas Olimpíadas

União afirma que investirá R$ 580 milhões na segurança dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro

Por Hudson Corrêa

A preocupação do Ministério da Defesa com a segurança dos Jogos Olímpicos está concentrada a quilômetros de distância do Rio de Janeiro, cidade sede das competições. As Forças Armadas redobraram a atenção na faixa de 17.000 quilômetros de extensão nas fronteiras do Brasil com dez países. Em alguns locais, basta atravessar uma rua para entrar no Brasil ou fugir do país. A maior preocupação é com a possibilidade de atentados terroristas num evento de visibilidade internacional. No passado recente, já surgiram suspeitas da presença de grupos terroristas na tríplice fronteira do Brasil, Argentina e Paraguai. “Sabemos que uma fronteira extensa como a nossa pode ser o ponto de entrada de alguma ameaça para o Rio”, afirma o general Luiz Felipe Linhares, chefe da assessoria especial de Grandes Eventos do Ministério da Defesa.

SEGURANÇA

Treinamento de oficiais da Marinha em alto-mar. A vigilância nas fronteiras, para os Jogos, já começou

Entre o final de julho e o início de agosto, as Forças Armadas fizeram uma operação com polícias estaduais. Em dez dias, apreenderam mais de 4 toneladas de maconha e mercadorias contrabandeadas avaliadas em R$ 700 mil. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que participou das ações, encontrou cerca de 200 pistas de pouso em fazendas e na mata, na região de fronteira. São locais propícios ao desembarque clandestino de criminosos. Quase metade está em Mato Grosso, numa faixa vizinha à Bolívia. “As pistas são a ponta de um iceberg de outras práticas criminosas”, diz Janér Alvarenga, diretor do Departamento de Inteligência Estratégica da Abin. “Temos fronteiras com os três principais países produtores de cocaína: Bolívia, Peru e Colômbia. E temos um corredor do tráfico de armas e munições. As armas não nascem no Rio de Janeiro”, afirma.

As estatísticas da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro mostram que há motivos reais para as Forças Armadas apertarem o cerco. Entre janeiro e maio deste ano, foram apreendidos no Estado 174 fuzis (média de um por dia), 1.533 pistolas e 49 metralhadoras e submetralhadoras. A secretaria avalia que grande parte desse arsenal entrou no país por fronteiras mal vigiadas, principalmente com o Paraguai.

A segurança das Olimpíadas, que reunirá 10.500 atletas de 206 países, será feita por um exército de 85 mil homens. Desse total, 38 mil pertencem às Forças Armadas e 47 mil são policiais estaduais e federais, bombeiros, agentes penitenciários e guardas municipais. A maioria das corporações possui tropas de elite com treinamento para agir em situações extremas, como em um ataque terrorista. Um exemplo são os fuzileiros navais dos Comandos Anfíbio da Marinha, treinados para suportar as piores provações físicas e psicológicas em combate, e os policiais do Batalhão de Operações Especiais, o Bope, da Polícia Militar do Rio. O esquema de segurança se estenderá às cidades que vão receber as partidas de futebol: Belo Horizonte, Brasília, Salvador, São Paulo e Manaus.

Na avaliação do Ministério da Defesa, há pessoal qualificado e bem treinado, com equipamentos de ponta, para impedir eventuais atentados terroristas, nunca registrados no território nacional. Um grande desafio, porém, será evitar que as forças de segurança pública, incluindo as estaduais e civis, atropelem-se por falta de coordenação ou pela disputa por espaço e prestígio nas missões antiterror. Para evitar eventuais desentendimentos, o governo federal criou o Centro Integrado de Enfrentamento ao Terrorismo, o Ciet. Seu trabalho será definir a melhor forma de empregar as tropas de elite. Um representante do Ministério da Defesa, outro do Ministério da Justiça e um terceiro do Gabinete de Segurança Institucional, vinculado à Presidência República, comandam o Ciet. “Eles terão poderes para decidir o que fazer numa emergência”, diz o general Linhares. “Nenhuma força tomará a competência e o espaço de outra.”

Um desencontro entre as tropas pode ser fatal. Nos atentados de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, havia uma disputa entre as agências de investigação, o que impediu o trabalho conjunto e facilitou a vida dos terroristas. De acordo com Linhares, oficiais das Forças Armadas têm se dedicado a analisar a experiência de países que sofreram ataques durante as Olimpíadas. Um dos casos em estudo é o ataque ocorrido nos Jogos de Munique, em 1972, quando 11 atletas de Israel foram assassinados por extremistas palestinos.

O governo federal afirma que investirá R$ 580 milhões na segurança dos Jogos Olímpicos e que, até agora, não houve atraso na aplicação dessa verba. Também diz ter equipado bem a tropa, até com aparelhos para detectar ataques com armas químicas, biológicas e radionucleares. O Tribunal de Contas da União ainda não concluiu a auditoria no plano de investimento, mas o ministro Augusto Nardes apontou falhas no compartilhamento de informações entre as polícias estaduais, o maior temor do Ministério da Defesa.

Até o começo dos Jogos, as Forças Armadas esperam contar com uma nova legislação que facilite suas operações. No início de agosto, a Câmara dos Deputados aprovou penas de até 30 anos de prisão para acusados de integrar organizações terroristas ou praticar atos de terror e encaminhou a votação ao Senado. Não se tem notícias de ameaças concretas aos Jogos, mas a possibilidade de um ataque está no radar. E nenhuma precaução é excessiva.

FONTE: Época online

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