Japão repensa postura pacifista do pós-Guerra

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De helicópteros americanos, soldados japoneses saltaram de paraquedas na ilha. Movimentando-se rapidamente para recuperar o território de forças invasoras imaginárias, apelaram para um navio de guerra americano para que ele disparasse contra o “inimigo”.

O que mais chamou a atenção nos jogos de guerra intitulados Iron Fist – Punho de Ferro, realizados em fevereiro, talvez tenha sido o fato de que eles foram um aviso implícito, mas direto. Há apenas um país que o Japão teme que possa atacar uma de suas ilhas: a China.

Recentemente, o Exército japonês montou uma bateria de mísseis interceptores Patriot na sede do Ministério da Defesa, na zona central de Tóquio.

O novo primeiro-ministro, Shinzo Abe, aumentou os gastos militares pela primeira vez em 11 anos.

Com as forças marítimas chinesas promovendo demonstrações regulares de sua intenção de controlar ilhas disputadas no mar do Leste da China e com o novo líder norte-coreano emitindo proclamações diárias contra os Estados Unidos e seus aliados, os chamados de Abe por Forças Armadas mais fortes e arrojadas vêm tendo recepção melhor no Japão que esforços semelhantes no passado.

Depois de sua marcha pela Ásia na Segunda Guerra Mundial ter resultado numa derrota arrasadora, o Japão renunciou ao direito de travar guerras e até mesmo de possuir Forças Armadas.

Por isso, essa nova postura pode ter implicações amplas para o equilíbrio de poder na região, desagradando a China e provavelmente proporcionando aos EUA um aliado mais envolvido em sua virada em direção à Ásia com o intuito de contrabalançar a influência chinesa.

Ao mesmo tempo, o público japonês está dando mais respaldo às antes desacreditadas Forças de Autodefesa. Isso se dá em parte devido à ansiedade em torno da China e da Coreia do Norte, mas também graças à importante presença humanitária dos militares após o tsunami de 2011.

A invasão encenada na ilha de San Clemente fez parte de exercícios de treinamento que são realizados anualmente em conjunto com os marines americanos.

Mas o exercício deste ano inovou. Não apenas os soldados japoneses convocaram ataques aéreos e navais americanos, como, pela primeira vez, os líderes de sua unidade de elite ajudaram a planejar o jogo de guerra.

“A China está trazendo aos japoneses o primeiro desafio militar desde a Segunda Guerra Mundial”, comentou Richard J. Samuels, cientista político no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).

Shinzo Abe quer uma interpretação mais ampla da Constituição do pós-Guerra, que limita o Japão a agir em “autodefesa”. Ele quer incluir ações em defesa de aliados. Abe diz que isso permitiria ao Japão derrubar um míssil norte-coreano que estivesse a caminho dos Estados Unidos.

Embora o aumento nos gastos militares aprovado por Abe e seu partido governista seja pequeno (0,8%, contra aumentos de mais de 10% nos gastos militares da China nos últimos anos), a intenção é que isso reforce a defesa das ilhas do sudoeste do Japão, incluindo as ilhas disputadas, conhecidas pelo Japão como Senkaku e pela China como Diaoyu.

O novo orçamento militar também prevê a aquisição de armas que uma ou duas décadas atrás teriam parecido ofensivas demais para as forças defensivas do Japão, incluindo dois caças F-35 “invisíveis”.

Também estão previstos um novo submarino de ataque (para reforçar a capacidade da Marinha japonesa contra o novo porta-aviões chinês Liaoning) e recursos para o desenvolvimento de um novo míssil antinavios.

Duzentos e oitenta soldados japoneses participaram dos jogos de guerra neste ano, cem a mais do que no ano passado.

Os soldados eram do Regimento de Infantaria do Exército Ocidental, uma unidade de mil homens que está sendo treinada para se tornar uma força semelhante aos marines americanos, ou seja, capaz de fazer desembarques anfíbios e de helicóptero para defender as ilhas do sudoeste do Japão.

Quando questionado sobre qual era a maior lição que tinha aprendido com os jogos de guerra, o comandante do regimento, o coronel Matsushi Kunii, disse que inicialmente havia repudiado a falta de programação rígida por parte dos marines.

“Então percebi que os americanos sabem, graças à sua experiência real de combate, que as coisas nem sempre saem conforme são planejadas. Essa flexibilidade é o tipo de know-how que vamos precisar aprender.”

FONTE: codinomeinformante

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