Marinha do Brasil presta homenagem à mulher brasileira e relembra a história de Pulcena Dias

Gravura representativa. Não há registro da existência de imagens de Pulcena Dias

Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado hoje, 8 de março, a Marinha do Brasil rememora a história de Polocena Maria Dias, mãe do Imperial Marcílio Dias – que deu nome ao maior hospital da Força, localizado no Rio de Janeiro (RJ).

De acordo com ampla bibliografia, que relata detalhes da vida de Marcílio Dias, percebe-se que Polocena, conhecida como Pulcena, teve papel decisivo para que o jovem ingressasse na Marinha do Brasil, e, como conseqüência, nas páginas da história do País. Pulcena faleceu 20 dias antes da Batalha naval do Riachuelo – marco histórico que imortalizou seu filho.

Pulcena – a mãe incansável



Filha de Manoel Ventura e Joana Dias, dois negros nascidos na Costa da África, Polocena Maria Dias, que, com o passar dos anos, ficou conhecida como Pulcena Dias, entrou para a história como a mãe do Imperial Marinheiro Marcílio Dias.

Pulcena Dias nasceu livre e passou sua infância na freguesia de “Nossa Senhora das Necessidades do Povo Novo”, na cidade do Rio Grande, no estado do Rio Grande do Sul. Passou sua juventude com a liberdade de uma vida rural, de modo humilde, de trabalho silencioso e de relativa felicidade. Sua vida de penúria e resignação, herdada de seus ancestrais, não lhe permitiu grandes ambições.

A sua ambição era de contrair um matrimônio. Pelo que consta, antes de 1830, casou-se com Joaquim Francisco, no próprio distrito onde nasceu. Dessa união, ainda naquela localidade, nasceram suas três filhas: Cesaria, Joaquina e Luiza, sendo a última, a mais nova, nascida em 1833.

Alta, esbelta, de cabelos volumosos e rosto redondo, acompanhados de expressivos olhos pretos, lábios carnudos e sorriso largo, que compunham a bela estampa de mulher negra. Ainda cuidava de apresentar-se, sempre, com boa aparência, irrepreensível nos detalhes, apesar da simplicidade. Embora não fosse dotada do saber da leitura e da escrita, recebeu do pai uma grande instrução, que a acompanhou ao longo da vida: o desembaraço e o amor pelo trabalho. Era conhecida de todos e estimada por muitos. Destacava-se por ser ativa, atenta e econômica.

Mesmo enlutada, após a morte do marido, continuou arduamente a trabalhar. Era, à época, lavadeira, e, desse trabalho, viveu ativa e honesta. Nesse período, Pulcena frequentou casas de famílias tradicionais da cidade do Rio Grande.

Quando seguia à casa de suas patroas, suas filhas a acompanhavam e lhe ajudavam. Entre um estender e outro de roupas, recebia de suas freguesas vestimentas usadas. Pulcena as recebia em suas mãos, cuidadosas e incansáveis, para um posterior ajuste, visando ao uso próprio e de suas filhas. Tendo, assim, como poucas de sua classe, os seus trajes domingueiros para ir à missa ou à procissão.

Na cidade do Rio Grande, em 1838, nascia o filho caçula de Pulcena Dias: Marcílio Dias, filho de Manuel Fagundes, de naturalidade portuguesa, cor branca e marítimo.

Em 1854, Marcílio foi injustamente agredido. Como, por que e por quem são respostas desconhecidas. Na manhã do dia 16 de janeiro de 1854, o jovem Marcílio acolhe-se nos braços de sua mãe, em lastimável estado físico e ensanguentado. Pulcena dirigiu-se ao Delegado de Polícia para descrever o triste ocorrido com o seu filho.

Pulcena não concordava com algumas atitudes do filho e, por vezes, ela o recebia com umas chineladas que só as mães sabiam dar.

Em 10 de janeiro de 1855, Pulcena Dias foi, injustamente, presa sob a acusação de introdução de moeda falsa. Na angústia do cárcere, os fados, assim como os ventos, mudam. Suas antigas energias morais e físicas enfraquecem e cedem. Com o passar dos dias, as visitas do garoto Marcílio vão se tornando mais irregulares e espaçadas. No lugar do filho caçula, visitam-na as filhas Luiza Francisca e Joaquina. Pulcena sente-se impotente ao tentar salvar seu caçula querido da perdição das ruas e sempre pede, de modo carinhoso, que os filhos se mantenham amigos e unidos. Pulcena segue recebendo, atrás das grades, queixas sobre o comportamento de Marcílio. Como mãe, sente-se profundamente desgostosa com a conduta do filho.

Em 11 de junho de 1855, após mais uma decisão do juiz de direito em culpá-la pelo crime de introduzir, dolosamente, moeda falsa, em circulação, Pulcena Dias chama ao presídio o compadre Vicente da Silva Ramos. Após ouvir palavras de conforto e ânimo do amigo, ela, decidida e calma, solicita que o compadre encaminhe Marcílio Dias para os “menores” (como era conhecida a escola de Grumetes, localizada no Rio de Janeiro). E Vicente atende ao pedido de sua amiga.

Quando o navio que levava Marcílio deixou o ancoradouro e fez a volta no canal para alcançar a barra do Rio Grande, duas mãos negras agitavam no ar dois lenços brancos. Eram suas irmãs Joaquina e Luiza Francisca. O navio, depois, seguiu para o Rio de Janeiro. Estava, então, Marcílio posto no caminho que o levaria à glória.

Aos 17 anos, em julho de 1855, Marcílio Dias ingressou na Armada Imperial como Grumete (Recruta), sendo Praça no Corpo de Imperiais Marinheiros em 5 de agosto do mesmo ano.

Em 27 de junho de 1856, a então encarcerada Pulcena Dias foi libertada, sendo absolvida da injusta acusação que lhe foi acometida.

No ano de 1857, outro contratempo acontece no seio da família: Marcílio Dias adoece. Em 14 de julho, o marinheiro dá entrada no hospital. Em 3 de agosto, recebe alta. Contudo, em janeiro de 1858, Pulcena Dias, ao saber que o filho esteve hospitalizado durante dois meses, fica aflita. Ninguém a convencia de que o seu menino havia estado doente por pouco tempo e já estava curado. Não descansou. Mesmo enfraquecida e desmemoriada, recorreu a todos suplicando uma licença para seu filho ir à cidade do Rio Grande encontrá-la.
Alto, robusto, desenvolto, destacando a sua estampa de jovem mulato, Marcílio desembarca, em Rio Grande, para a emoção de sua mãe e para a alegria de suas irmãs. Foram dias cheios de vida, amor e felicidades. Pulcena não cansou de admirar o filho marinheiro. Observava-lhe o crescimento e a postura. Em 18 de janeiro, Marcílio Dias regressa para o Rio de Janeiro e Pulcena emociona-se, como todas as mães, ao despedir-se de seu filho.

Assim viveu, na cidade do Rio Grande, Pulcena Dias. Trabalhou. Teve situações de relativo desafogo econômico. Foi conhecida das boas famílias burguesas e, de algumas delas, gozou condescendente intimidade. Dela, muitas pessoas trouxeram lembrança nítida até os nossos dias. Faleceu, vítima de enfermidade cerebral, em 23 de maio de 1865, aos 68 anos de idade, 20 dias antes da Batalha Naval do Riachuelo, que imortalizaria seu filho. Foi sepultada no cemitério da localidade onde nascera e vivera.

O Imperial Marinheiro Marcílio Dias sagrou-se herói naval, em 11 de junho de 1865, ocasião que travou uma luta corpo a corpo com quatro inimigos, abatendo dois deles. Na luta, teve seu braço decepado na defesa da Bandeira do Brasil. Os ferimentos sofridos causaram-lhe a morte, com apenas 27 anos de idade, em 12 de junho. Foi sepultado, em 13 de junho de 1865, com as honras de cerimonial marítimo nas próprias águas do Rio Paraná, como todos os combatentes no período imperial eram homenageados, tendo em vista o longo caminho que seria percorrido pelas embarcações até os militares serem honrados em terra.

Em 19 de novembro de 1940, data consagrada à Bandeira Brasileira, foi inaugurado, na cidade natal de Marcílio Dias, um monumento em sua homenagem. Já, em 07 de dezembro de 1960, a Marinha do Brasil transladou os restos mortais de Pulcena Dias para a base do monumento, onde foram afixadas, na parte traseira, duas placas de bronze com as seguintes inscrições: “À Pulcena Dias, o eterno reconhecimento da Marinha, 12/12/1959” e “Pulcena Dias, mãe de Marcílio Dias”. Desde então, esse monumento passou a ser também o Monumento Túmulo de Pulcena Dias.

Encarregou-se a história de apontar, em Marcílio Dias, o marujo da Canhoeira Parnahyba, o símbolo da coragem leonina e do cumprimento do dever militar. Mas, com certeza, o sucesso desse herói naval veio dos inúmeros bons exemplos de uma mãe valente, íntegra e amável. Uma simples lavadeira que entrou para a história do Brasil por dar vida à figura heroica de Marcílio Dias, o cidadão exemplar, o modelo de bravura e patriotismo.

“Disse Deus a uma criança pronta para nascer: entre muitos anjos eu escolhi um especial para você. Seu anjo cantará e sorrirá para você. Você sentirá o seu o amor e será feliz. Seu anjo lhe ensinará a falar e lhe defenderá mesmo que isso signifique arriscar sua própria vida. A criança, então, pediu suavemente para que Deus lhe dissesse o nome do seu anjo, então Deus lhe respondeu: você chamará seu anjo de MÃE!”

Pulcena Dias: o anjo de Marcílio Dias!

FONTE: MB



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