Por Marcio Geneve
O presidente francês Emmanuel Macron anunciou ontem que os navios de assalto anfíbio BPC (Bâtiments de Projection et de Commandement) da classe Mistral da Marinha Francesa (Marine Nationale), Mistral e Dixmude, serão enviados para a Ilha da Reunião e o Caribe em apoio aos esforços de socorro ao combate ao Corona vírus. Esses novos desdobramentos ocorrerão como parte da operação “Résilience” (Resiliência).
Para oficializar e coordenar todas as ações realizadas pelos militares franceses em apoio à luta coletiva contra a epidemia, o Presidente Macron lançou a Operação Résilience, descrita como uma “operação militar sem precedentes, dedicada ao apoio aos serviços públicos e ao povo francês, nos campos da saúde, logística e proteção”.
“A Operação Résilience se concentrará em ajudar as populações a lidar com a epidemia de Covid-19, além de apoiar serviços públicos, na França continental e no exterior, nas áreas de saúde, logística e proteção. As forças armadas se envolverão em todos os setores em que possam fornecer apoio para a continuidade do funcionamento do estado.”- Declaração do Ministério da Defesa Francês.
BPC Mistral nas Ilhas Reunião e BPC Dixmude nas Antilhas Francesas.
Enquanto visitava um hospital militar de campanha no leste da França, Emmanuel Macron anunciou que o navio Mistral, que já se encontrava no Oceano Índico realizando sua missão “Jeanne d’Arc”, apoiará os esforços de socorro no sul do Oceano Índico (onde estão localizadas as ilhas francesas de Reunião e Mayotte) enquanto que o BPC Dixmude deve ser enviado para região das Antilhas Francesas e da Guiana Francesa.
A Missão Jeanne d´Arc é um exercício anual da Marinha Francesa que completa o treinamento de oficiais da Marinha graduados na famosa “École Navale”.
Comissão Anterior
O Dixmude, antes de sua mobilização para atuar no Caribe, participou da Operação “Alexandre o Grande”, realizada no Mediterrâneo Oriental. Foi um exercício combinado, envolvendo tropas e meios da França, Estados Unidos da América e Grécia. O exercício compreendia o planejamento e a condução de uma operação anfíbia por um Estado Maior multinacional e contou com o emprego da embarcação anfíbia EDA-R da CNIM assim como de embarcações pneumáticas e semirrígidas Zodiac Milpro.
Na sequência, o Dixmude ainda realizou um exercício de reconhecimento de praia com as Forças Armadas Libanesas (LAF).
Um porta voz da Marinha Francesa disse ao Naval News na semana passada que o Dixmude estava navegando no mar Mediterrâneo naquela ocasião. É esperado que transporte uma embarcação EDA-R para apoio, assim como diversas embarcações Zodiac.
É importante ressaltar que o mar do Caribe encontra-se no entorno estratégico do Brasil.
A classe Mistral como navio-hospital
Na segunda-feira, 23 de março de 2020, o Tonnerre atracou em Marselha para evacuar pacientes COVID-19 da Córsega e transferi-los para centros de saúde na região de Provence e dos Alpes, a fim de aliviar os hospitais na Córsega.
A Marinha Francesa possui alguma experiência em operações de assistência a populações em perigo (HADR – Assistência Humanitária e Resposta a Desastres segundo a sigla em inglês) contando principalmente com os três PHA da classe Mistral.
Cada navio da classe tem 750m² de instalações hospitalares modernas (instalação médica da OTAN nível 3), consistindo em:
- 2 salas de cirurgia
- 1 sala de raio-x
- 1 consultório odontológico
- 1 Scanner
- 20 quartos e 69 leitos de internação, dos quais 7 são adequados para terapia intensiva, mais 50 camas podem ser instaladas no hangar do helicóptero, se necessário.
Nessas missões MEDEVAC (Evacuação Médica), as equipes dos BPCs da classe Mistral são, geralmente, reforçadas pelo Serviço de Saúde das Forças Armadas (ou SSA).
É bom relembrar que o Tonnerre foi desdobrado, durante a Operação Irma em 2017, para resgatar as populações das ilhas de Saint Martin e Saint Barth afetadas pelo furacão Irma e em 2019 para prestar assistência à população de Moçambique afetada pelo ciclone Idai.
A atuação do PHA Tonnerre em Saint Martin em 2017
Chegando no sábado, 23 de setembro de 2017, na costa de Saint-Martin, o Tonnerre começou a descarregar o material no mesmo dia e com agilidade, graças a embarcação de desembarque anfíbio EDA-R (Embarcação de Desembarque Rápido CNIM), que já foi apresentada aos Fuzileiros Navais brasileiros na operação Jeanne d’ Arc 2019. O trabalho de reconstrução começou rapidamente. A mobilidade e a rápida capacidade de resposta da manobra anfíbia dadas pela embarcação de desembarque anfíbio CNIM e pelos helicópteros mostraram-se ativos preciosos. Em apoio ao Centro Multinacional de Coordenação do Caribe, o Tonnerre e sua equipe também ajudaram a ilha Dominica após o furacão Maria, descarregando cargas humanitárias em Roseau, capital do país.
A embarcação EDA-R, modelo L-CAT CNIM possui as seguintes características:
- Deslocamento: 285 toneladas;
- Capacidade de carga: até 80 toneladas;
- Comprimento: 30 metros;
- Boca: 12,8 metros;
- Calado de 1m;
- Raio de ação : 400 milhas náuticas a 15 nós podendo operar até mar 5;
- Velocidade : até 30 nós.
Além disso a embarcação está pronta para docar em qualquer Navio Anfíbio padrão OTAN ou nos Navios Doca classe Makassar.
Fontes: Naval News & Marine Nationale